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Nº 1845 - Ano 40
18.11.2013

opiniao

Formação completa

Victor Azevedo*
Gabriel Oliveira**

Como uma ponte que liga os estudantes universitários às demandas do mercado de trabalho, empresas juniores têm se destacado no Brasil e crescem a cada dia. Criado na França em 1967 com o intuito de proporcionar experiência prática aos alunos, promover estudos de mercado e enquetes comerciais em empresas, o modelo chegou ao Brasil em 1988 e foi muito bem aceito por aqui. Segundo a Confederação Brasileira de Empresas Juniores, somos o país que possui o maior número de empresas do gênero no mundo – são aproximadamente 1,2 mil. Hoje existem empresas juniores brasileiras nas mais diversas áreas do conhecimento, desde ciências sociais aplicadas até biológicas, passando por engenharias e outros cursos na área de exatas.

Diferentemente do estágio tradicional, que agrega conhecimento apenas em uma área específica, ao trabalhar em uma empresa júnior o estudante se relaciona diretamente com clientes reais e adquire conhecimentos e habilidades relacionados à consultoria. A prática neste ambiente é de fundamental importância para se construir uma visão in loco da gestão empresarial. O resultado é muito mais eficaz para a formação do aluno devido à diversidade de vivências e aprendizagem. Além disso, em várias empresas juniores ele pode participar desde o primeiro período de curso, o que normalmente não acontece nos estágios, que preferem estudantes que já estejam mais à frente na graduação.

No mercado de trabalho, espera-se que o profissional que assume uma gerência seja um “solucionador de problemas”, e essa experiência prévia contribui muito no exercício da função futura. Além do trabalho prático com os projetos para clientes, também são realizados debates e intercâmbio de ideias com uma agenda constante de palestras e eventos. Um exemplo é o Encontro Mineiro de Empresas Juniores (Emej), que acontece anualmente e em sua última edição, no primeiro semestre, reuniu mais de 400 empresários juniores que, por quatro dias, estiveram imersos em um ambiente de potencialização de resultados. Além de palestras de profissionais prestigiados no mercado, os estudantes têm momentos de troca de experiências nas mais diversas áreas de atuação.

Fundada em Minas Gerais no ano de 1992, a UFMG Consultoria Jr. (UCJ), uma das pioneiras em seu segmento de mercado, foi a primeira empresa júnior nesta universidade. A organização oferece a um valor acessível – aproximadamente 10% do valor cobrado no mercado – serviços como plano de marketing, estruturação financeira, planejamento estratégico, melhorias em processos e na área de recursos humanos. Resumidamente, o foco é atuar junto ao cliente em assuntos de gestão. A instituição recebe mais de 30 alunos todo semestre, que buscam praticar o que aprendem durante as aulas na Faculdade de Ciências Econômicas da UFMG.

O número de alunos que pretende fazer parte desse tipo de empresa é grande. Por isso é comum a seleção em várias etapas, como teste de lógica, dinâmica em grupo e entrevista individual. A duração da experiência na empresa júnior varia de um a dois anos, de acordo com o plano de carreira traçado pelo estudante. Essas empresas estão ganhando maior reconhecimento pelas instituições de ensino, mas ainda há o que melhorar. Nos últimos 15 anos, a atuação das empresas juniores tem crescido nas universidades e acreditamos que elas poderiam ser ainda mais valorizadas, com os colegiados de curso reconhecendo oficialmente a experiência e recomendando-a para a formação complementar dos estudantes.

A promoção do tema empresa júnior vem ganhando avanços significativos na sociedade. Vivenciamos no último mês a aprovação na Comissão de Educação do Senado de Projeto de Lei (PLS 437/2012) que tem o objetivo de regulamentar juridicamente a atuação dessas organizações, o que pode facilitar o entendimento do conceito da empresa júnior pelos seus públicos de interesse, como as próprias universidades.

O mercado valoriza os alunos que passaram por essa experiência. As áreas de RH das empresas veem com bons olhos os alunos e ex-alunos que passaram por essas instituições, justamente pelo perfil prático e empreendedor que apresentam. As empresas têm absorvido totalmente o trabalho dos estudantes que passaram por esse tipo de empresa. Muitos vão direto para bons empregos e alguns conseguem trabalhar em renomadas organizações. Além disso, a vivência na empresa júnior certamente é de grande valor para alunos que têm a intenção de abrir seus próprios negócios, munindo-os de ferramentas e habilidades essenciais para empreender.

Outra oportunidade interessante é a troca de conhecimentos relacionados à área de atuação em outros estados e países por meio de intercâmbios. A UCJ, por exemplo, mantém parcerias com outras organizações juniores no Brasil e no exterior. Os intercâmbios podem durar de um a três meses, sendo que na volta os estudantes repassam o que aprenderam aos outros membros da organização.

Existem na UFMG 15 empresas juniores que abrangem os mais diversos cursos. Para participar de uma empresa do gênero, além de estar devidamente matriculado, o estudante precisa ser proativo, maduro, responsável e motivado com sua perspectiva de futuro.

*Presidente da UFMG Consultoria Jr. (UCJ)
** Vice-presidente UCJ