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Nº 1846 - Ano 40
25.11.2013


Indutor de uma nova economia

Tese premiada pela Capes analisa influência da taxa real de câmbio sobre o crescimento de países em desenvolvimento

Matheus Espíndola

AUma conexão entre crescimento ­econômico, câmbio e heterogeneidade produtiva até então pouco explorada pela literatura econômica é a base da tese de doutorado Câmbio e crescimento na abordagem keynesiana-estruturalista, defendida por Fabrício José Missio e contemplada este ano pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior com o Prêmio Capes de Teses, na área de Economia.

Também vencedora do Prêmio UFMG de Teses, na mesma categoria, e segunda colocada no 33º Prêmio BNDES de Economia, a pesquisa, apresentada em 2012, tem como mote a análise da influência da taxa real de câmbio sobre os níveis de crescimento dos países em desenvolvimento. “A ideia é mostrar como variações na política cambial podem determinar mudanças estruturais e, assim, influenciar o crescimento de longo prazo”, detalha o autor, que é docente na Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul (UEMS).

Fabrício Missio, que foi orientado pelo professor Frederico Gonzaga Jayme Junior, da Face, destaca que seu trabalho é pioneiro na medida em que sugere análise teórica que avança dentro da abordagem keynesiana-estruturalista. “A tese integra aspectos de curto e longo prazos na interpretação que evidencia os efeitos positivos da manutenção de uma taxa de câmbio real competitiva para países em desenvolvimento.”

Ele explica que em decorrência da desigualdade que se configura na propagação do progresso técnico entre os países economicamente periféricos e os centrais, a estrutura produtiva destes últimos é diversificada (composta por amplo espectro de atividades econômicas) e homogênea (na medida em que a produtividade do trabalho alcança níveis relativamente similares em todas as atividades), enquanto nos países periféricos a produção é especializada e heterogênea.

Considerando esse contexto, o câmbio real seria então uma variável importante porque induz a mudança estrutural. “Os efeitos do câmbio real sobre o crescimento atuam no sentido de diminuir tal heterogeneidade, porque orientam a acumulação de capital em direção aos setores intensivos em tecnologia e porque representam estímulos ao progresso tecnológico”, afirma o economista, que em seu estudo concluiu que países em desenvolvimento devem manter taxas reais de câmbio em níveis moderadamente desvalorizados. No entanto, o autor alerta que tal política “deve ter objetivo de longo prazo e ser conduzida preferencialmente de maneira gradual”.

Em ritmo desigual

O progresso técnico se propaga de forma desigual. Nos países centrais, por várias circunstâncias, ele se difunde em um período relativamente breve. Já na periferia a evolução econômica parte de um relativo atraso inicial, resultando em estruturas pouco diversificadas e pouco integradas que coexistem com um setor primário-exportador dinâmico, que, por sua vez, é incapaz de difundir o progresso técnico para o resto da economia, de empregar produtivamente o conjunto da mão de obra e de permitir o crescimento sustentado dos salários reais.

Segundo Missio, o baixo dinamismo da acumulação de capital atua no sentido de manter as condições de especialização e heterogeneidade, além da tendência persistente do subemprego estrutural, reiterando-se o ciclo do subdesenvolvimento periférico. “O processo de desenvolvimento dos países periféricos precisa passar por uma mudança estrutural que diminua a heterogeneidade da sua estrutura produtiva”, defende o autor, reiterando que o câmbio real é uma variável econômica capaz de induzir essa transformação.