Busca no site da UFMG

Nº 1846 - Ano 40
25.11.2013

Recíproco e complementar

Centro de Estudos Chineses, que será lançado em evento no dia 28, reúne pesquisadores interessados e vai estimular projetos em parceria

Itamar Rigueira Jr

Economia, relações internacionais, tradução e engenharias são algumas das áreas em que a UFMG já vislumbra parcerias com instituições da China. As pesquisas conjuntas passam a ser estimuladas e viabilizadas pelo Centro de Estudos Chineses (CEC), que será lançado em evento no dia 28 de novembro, como um dos eixos do projeto de internacionalização da Universidade.

No encontro inaugural, ocorrerá o anúncio preliminar das parcerias conhecidas ou potenciais. Até o final deste ano, o objetivo é mapear, em unidades e em programas de pós-graduação, projetos formais ou informais, convênios ativos ou em gestação, que envolvam parcerias ou que tenham a China como tema.

“Após esse levantamento, em 2014 pretendemos começar a criar canais de apoio. Num primeiro momento, o Centro de Estudos Chineses poderá apoiar ações de prospecção, incluindo a ida de nossos pesquisadores à China e a vinda de especialistas chineses à UFMG, com vistas à constituição de parcerias formais”, explica o professor da Faculdade de Letras Fábio Alves da Silva Jr., coordenador do CEC. Segundo ele, ainda há muito poucos projetos envolvendo a China, o que é natural, e pouco do que existe é conhecido. O intuito é modificar esse quadro.

Fábio Alves lembra que a China é, por diversas razões, grande foco de interesse global, e a preocupação da UFMG é que o Brasil conheça melhor aquele país e que seja conhecido pelos chineses. “Reciprocidade e complementaridade são os focos do nosso Centro. Está mais que na hora de fazermos esse movimento que universidades da Europa e dos Estados Unidos institucionalizaram há mais de uma década”, ressalta Fábio Alves.

Internacionalização plural

Estreitar as relações acadêmicas e científicas com a China é fundamental também, de acordo com Fábio Alves, porque significa descentralizar as redes de contato da universidade brasileira. “Nossas instituições estão voltadas majoritariamente para o Hemisfério Norte e precisam olhar para outros contextos geopolíticos. Parte crucial da estratégia é pluralizar o processo de internacionalização”, salienta o coordenador do Centro de Estudos Chineses.

Fábio Alves inclui setores como mineração, recursos hídricos e agricultura entre aqueles em que o Brasil tem muito a trocar com os chineses, que se viram obrigados a gerenciar problemas de grande escala e complexidade. Alves destaca também a necessidade de um salto significativo no tempo como fator de aproximação entre os dois países.

“A China transformou-se de um sistema feudal em um Estado contemporâneo em dez vezes menos tempo que muitos países do Ocidente. O Brasil, à sua maneira, também faz esse esforço de desenvolvimento em período curto. Além disso, ambos têm em comum a aspiração ao protagonismo no cenário global”, comenta Fábio Alves, para quem as relações devem deixar de ser mediadas por terceiros. “Nossa parceria com a China precisa ser direta e tem tudo para ser muito profícua.

Projetos fundadores

O Laboratório Experimental de Tradução (Letra), vinculado à Fale, realiza um trabalho único no Brasil. Sua abordagem no estudo da tradução parte do comportamento cognitivo do tradutor profissional, que inclui tempo de execução da tarefa, tipo de apoio utilizado, (fontes de consulta, bancos de dados etc.), formas de solução de problemas e tomada de decisões, entre outros fatores. O interesse de uma doutoranda da Universidade de Macau por esses estudos de natureza processual deu origem a um convênio firmado entre a UFMG e a instituição chinesa, que já havia desenvolvido o único programa de tradução automática específico para o par linguístico chinês-português.

“Estamos pesquisando o impacto cognitivo da tradução automática no desempenho humano em tradução. Juntamos nossa metodologia de dados processuais com o motor de tradução automática criado pela Universidade de Macau, e transformamos esse trabalho em algo inovador”, explica o professor Fábio Alves, um dos coordenadores do Letra.

A abordagem cognitiva em tradução, segundo Fábio Alves, mescla conhecimentos de campos como a psicologia cognitiva e os estudos sobre conhecimento experto e a utilização de equipamentos não invasivos, destinados ao rastreamento ocular e de teclado e mouse. Esses dados são cruzados e adicionados a resultados de entrevistas retrospectivas em que os sujeitos relatam as próprias tarefas. “Já fomos procurados por pesquisadores de outras universidades chinesas, e os estudos da tradução chinês-português tendem a se ampliar”, revela Fábio Alves.

Membro do comitê gestor do CEC, o professor Gilberto Libânio, do Cedeplar, estuda a China sob a perspectiva econômica desde 2007, a princípio mais atento às vinculações com a economia de Minas Gerais, e mais recentemente de forma mais ampla, analisando os efeitos do crescimento chinês sobre outros estados.

“Iniciei contatos que ainda não se concretizaram em projeto de pesquisa formal, mas já temos uma rede no Brasil que envolve pesquisadores da UFRJ, UnB e UFRGS, entre outras instituições”, conta Libânio, avaliando que
o CEC será fundamental para promover ações e prover infraestrutura e recursos, e, num segundo momento, poderá contribuir para estreitar laços com instituições chinesas.

Outro pesquisador que pretende se valer da participação em missões e editais promovidos pelo novo organismo é Dawisson Belém Lopes, do Departamento de Ciência Política. Estudioso de política externa comparada, Dawisson tem se debruçado sobre as formas pelas quais os chineses elaboram sua política externa, sobretudo tendo em vista atividades conjuntas com o Brasil no bloco Brics.

Coordenador de grupo de pesquisa que reúne cerca de 30 estudantes da Fafich, Face e Faculdade de Direito, entre outras unidades, Dawisson Lopes tem compilado dados sobre processos de produção de política externa – formulação, tomada de decisão e implementação – de países emergentes. “A China tem despertado grande interesse dos jovens pesquisadores. Em breve, será necessário viajar para entrevistas com burocratas e diplomatas”, prevê Dawisson.

Animado com o entusiasmo com que a China tem recebido iniciativas como a criação do Centro de Estudos Chineses na UFMG, Dawisson lembra que as ações de internacionalização podem gerar, além de impactos sobre a pesquisa acadêmica, desdobramentos como prestação de assessoria a órgãos governamentais e empresas.

Além de Fábio Alves, Dawisson Lopes e Gilberto Libânio, integram também o comitê gestor do Centro de Estudos Chineses, nomeados pela Reitoria, os professores Marcos Pimenta, do ICEx, e Marcos Pinotti, da Escola de Engenharia.

A inauguração do Centro de Estudos Chineses terá atividades ao longo do dia 28, a partir de 9h, no CAD 2, como a sessão de abertura com a presença do reitor Clélio Campolina, mesa-redonda para discussão de experiências brasileiras e internacionais e apresentação de grupos de pesquisa da UFMG.

Luana Macieira
Carlos Gohn entre Yu Qianhua (à esq.) e Qiu Hailin: expectativa de resultados em curto prazo
Carlos Gohn entre Yu Qianhua (à esq.) e Qiu Hailin: expectativa de resultados em curto prazo

Idioma e cultura

Na mesma semana em que acontece o evento inaugural do Centro de Estudos Chineses, será lançado oficialmente o Instituto Confúcio da UFMG, fruto da cooperação entre a Universidade e o braço da entidade governamental da China que promove a divulgação da língua e da cultura chinesas no exterior.

A instituição parceira na China é a Huazhong University of Science and Technology (Hust). A criação do Instituto também é apoiada pelo Hamban, órgão do governo que cuida de assuntos de educação e cultura, e que aportará recursos financeiros.

“Este é um momento de investimentos maciços da China, e a nossa expectativa é de que essa parceria atinja dimensões significativas em curto prazo”, afirma o professor Carlos Gohn, aposentado da Faculdade de Letras, nomeado diretor do Instituto Confúcio. A vice-diretora é a professora Yu Qianhua, da Hust.

A primeira atividade sob o patrocínio do Instituto é um curso de introdução a elementos da cultura chinesa e do mandarim. Iniciado em 18 de novembro, com duração de três semanas, o curso, ministrado pela professora Qiu Hailin, vai ajudar a delinear o perfil do ensino que a comunidade da UFMG precisa e selecionar alunos para os próximos cursos.

“Nossa expectativa é de que no biênio 2014-2015 possamos qualificar número razoável de membros da comunidade universitária em nível básico de mandarim”, diz Carlos Gohn, lembrando que a comunidade da UFMG é o alvo inicial, mas num segundo momento o projeto vai beneficiar pessoas de fora, por meio de convênios com instituições diversas.

A solenidade de inauguração do Instituto Confúcio vai acontecer na tarde do dia 29, sexta-feira, campus Pampulha. Nos dias 26 e 27, sempre na hora do almoço, haverá atividades envolvendo tai chi chuan e caligrafia chinesa. De 25 de novembro e 2 de dezembro, o hall da Fale vai abrigar exposição de alguns dos mais de dois mil livros doados à Universidade para marcar o início da parceria que levou à criação do Instituto Confúcio da UFMG.