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Nº 1857 - Ano 40
31.03.2014

Eles têm a arte

Nova edição do programa Retratos de artista traz a Belo Horizonte quatro grandes nomes da música brasileira

Zirlene Lemos*

O que Jorge Mautner, Paulo César Pinheiro, Hermeto Pascoal e Roberto Tibiriçá têm em comum? Esse quarteto, com certeza, “tem a arte, tem a arte”, como expressa o verso de Maracatu atômico, sucesso de Mautner e Nelson Jacobina imortalizado na voz de Chico Science & Nação Zumbi. Eles são os convidados da próxima edição do Retratos de artista: molduras do pensamento.

Em sua primeira edição realizada em novembro de 2012, no campus Pampulha, pelo Centro de Extensão da Fafich, o programa trouxe Lourenço Mutarelli, Carlos Bracher, Wilson Oliveira e Rômulo Fróes. A ideia de realizar conversas reflexivas fora da sala de aula, focadas na relação entre arte e pensamento, permanece, mas há muitas novidades, como explica o professor Renarde Freire Nobre, do Departamento de Sociologia. “Desta vez o Retratos, realizado com recursos do Fundo Municipal de Incentivo à Cultura de BH, adotou o Café 104, em vez do campus da UFMG, com o objetivo de se abrir mais para receber público sem se restringir aos universitários. Além disso, priorizamos artistas ligados diretamente à música e vamos dar a dimensão do quanto são especiais para a cultura brasileira”, argumenta.

Os debates serão gravados e editados pela TV UFMG e exibidos em programas da emissora. A série de conversas também será transformada em dvds e distribuídos a bibliotecas da rede municipal de Belo Horizonte, centros culturais e outras entidades sem fins lucrativos.

Os convidados estarão acompanhados de mediadores ou provocadores. Abrindo a série, no dia 9, Jorge Mautner, cantor, compositor, escritor e “agitador de mentes criativas” conversa com Vera Casanova, professora da Faculdade de Letras da UFMG. “Sou ideólogo, acho que a arte tem que transformar a sociedade. É uma visão aberta, e a liberdade do indivíduo, de expressão é sagrada”, comenta Mautner.

Ao lado de Jards Macalé, Mautner tem ministrado palestras no Rio de Janeiro sobre a MPB e a ditadura. Ele antecipa o rumo da prosa. “São várias coisas, várias experiências viscerais, comecei cedo, vivia às voltas com o peso da ditadura militar, que, por outro lado, me permitiu o encontro com Gilberto Gil e Caetano Veloso no exílio. Foi um longo processo”, relembra. Para Mautner, apesar dos tempos difíceis, a atuação do movimento estudantil em Minas Gerais foi ­fundamental. “Em Viçosa a UFV foi um importante foco de resistência e havia outros pelo Brasil”, pontua.

O público mineiro também é lembrado pelo artista, que tem grandes expectativas em reencontrá-lo. “Minas se destaca na música, na cultura e nas artes. Sempre acentuo que foi todo o seu ouro e prata que fizeram a industrialização da Europa. O público mineiro é importantíssimo, estou com grandes expectativas”, comenta. A professora Vera Casanova também aguarda ansiosa o encontro com Mautner. “Esse projeto ajuda a quebrar o paradigma do artista que é colocado em pedestal ou visto como super-herói e ídolo. Na trajetória de Mautner pretendo chamar a atenção para determinadas letras, saber sobre seus parceiros e sobre outras manifestações das quais participou.” Outros convidados O convidado do dia 16 é Paulo César Pinheiro. Às vésperas de completar 65 anos (em 28 de abril), ele será “provocado” pelo amigo e parceiro mineiro Sérgio Santos, com quem já criou quase 200 canções. Vão relembrar o início da carreira, quando, aos 14 anos, compôs sua primeira música, Viagem, em parceria com João de Aquino. A estreia oficial veio quatro anos depois com o samba Lapinha, parceria com Baden Powell e gravado por Elis Regina. Em quase 50 anos de carreira, Pinheiro contabiliza 12 discos gravados, mais de duas mil músicas compostas, oito livros publicados (nove na gaveta) e duas peças de teatro. “Devo ser o recordista do Brasil como compositor popular em se tratando de gravações. Se contar as regravações, esse número sobe para mais de 5 mil. Só Lapinha tem mais de 80 gravações”, afirma.

No dia 23, Hermeto Pascoal conversa com Kiko Ferreira. O multi-instrumentista toca sanfona, flauta tranversal, bateria, violão e instrumentos inusitados como a barriga de um porco vivo ou panelas e penicos. Já recebeu convites para tocar com John Lennon, Tom Jobim, Elis Regina e Roberto Carlos, foi tema de mestrado, doutorado e pós-doutorado sem nunca ter se sentado em um banco de universidade. Tem 614 gravações, todas livres de direitos autorais,e mais de três mil músicas inéditas. Encerrando o ciclo de debates, no dia 30, Roberto Tibiriçá será entrevistado por Heloísa Fischer. O maestro comandou algumas das maiores orquestras brasileiras, como as sinfônicas Brasileira, Heliópolis e de Minas Gerais.

A série é apoiada pelo Centro Acadêmico de Ciências Sociais (Cacs) e pelo Programa de Educação Tutorial – Ciências Sociais (PET–CS). Será realizada às quartas-feiras de abril, às 19h30, no Café 104 (Praça Ruy Barbosa, 104). A entrada é gratuita, por ordem de chegada, com capacidade para 120 pessoas. Mais informações em http://retratosdeartista.blogspot.com.br ou pelo facebook.