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Nº 1862 - Ano 40
05.05.2014

Encarte

Ofício que persiste

Feira de Artesanato do Vale do Jequitinhonha
na UFMG completa 15 anos

Cinthya Oliveira

O escritor mexicano Octavio Paz escreveu que o artesanato está muito mais associado a pessoas do que a objetos, pois o produto do seu trabalho é dotado de alma e nele estão presentes o saber, a arte, a criatividade e a habilidade. Quem conhece a Feira de Artesanato do Vale do Jequitinhonha sabe o quanto essa reflexão faz sentido. Para aqueles que não a conhecem, a oportunidade de entender a afirmação está bem perto: Esta semana, de 5 a 10 de maio, acontece a 15ª edição do evento, na Praça de Serviços da UFMG, campus Pampulha.

Há 15 anos, a Universidade recebe, às vésperas do Dia das Mães, artesãos e artesãs do Vale do Jequitinhonha. Moradores de 22 municípios participantes do Projeto Artesanato Cooperativo, eles expõem cerâmicas (bonecas, panelas, vasos e decorações em geral), bordados, esculturas em madeira, quadros, tecelagem, cestaria, dentre outros produtos artesanais.

Considerando que uma das grandes dificuldades do artesão do Vale é expor e vender o seu produto, o espaço aberto pela Feira, segundo os próprios produtores, é o melhor local de divulgação e venda de seus trabalhos. A última edição atingiu recorde de venda, ultrapassando R$ 200 mil. Mas não é só da venda de artesanato que se faz a feira. A cada ano, dois mestres de ofício são homenageados. Em 2014 é a vez dos ceramistas Ulisses Mendes, de Itinga, e Noemisa Batista, de Caraí. “Para além da homenagem, a feira representa uma segurança na manutenção da divulgação do artesanato do Vale. O nosso artesanato está em extinção, e a feira está lutando para segurar os trabalhos”, destaca Mendes.

Atrações culturais

Além disso, atrações culturais populares compõem a programação. Participam o Grupo Boi de Janeiro e Nega Maluca de Maria Trovão (Itaobim), o Grupo Converso, de Caraí, o Coral Flor de Liz (Itinga) e o Cataventoré (Belo Horizonte). Também serão exibidos documentários sobre os mestres homenageados este ano e em edições passadas, além do documentário Os meninos e o boi, que discorre sobre a folia de reis, em Rubim.

Os documentários poderão ser assistidos em estandes especiais a serem montadas na Praça de Serviços. Em outros espaços também ficarão expostos produtos de artesãos que se destacam nacional e internacionalmente, além da mostra Noemisa Batista - vida e obra, que reunirá peças da artesã pertencentes ao acervo do Museu de História Natural e Jardim Botânico, imagens de fotógrafos do Vale do Jequitinhonha e exibição de DVD sobre a trajetória da mestra.

Ao longo desses 15 anos, a Universidade teve a oportunidade de conhecer melhor os artesãos, seus trabalhos, suas dificuldades e necessidades, passando a aproveitar o momento em que estavam no campus para promover atividades entre eles, envolvendo também alunos e professores. Em 2008, a UFMG propôs atividades para atender demanda solicitada pelos artesãos, visando ao aperfeiçoamento de seus trabalhos. Foram ministradas oficinas de pigmentos para algodão e argila, de observação e modelagem e de empreendedorismo. Em contrapartida, os mestres artesãos Ulisses Mendes e Gilson Alves Menezes, de Itaobim, ministraram oficinas de cerâmica e trabalhos com taboa para alunos da Belas-Artes e comunidade em geral.

Em 2009, a Feira passou por mudanças, muitas propostas pelos próprios expositores. Assumiu um novo design, procurando oferecer maior conforto aos artesãos e visibilidade aos trabalhos. Também reorganizou os espaços físicos para o uso compartilhado e passou a homenagear os mestres de ofício. “Já a 15ª Feira consolida um perfil cultural, que vem sendo delineado desde 2009, quando começa a englobar outras ações e parcerias da UFMG. São os casos das parcerias com a EBA, através do Cenex, e do Centro Pedagógico e Coltec, em que os alunos são levados à feira para conhecê-la e participar de oficinas ministradas pelos mestres de ofício”, destaca a coordenadora do Projeto Artesanato Cooperativo e organizadora do evento, Terezinha Furiati.