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Nº 1865 - Ano 40
26.05.2014

Números que divertem

Programa de visitas recebe alunos do ensino básico com jogos que ajudam a revelar o caráter lúdico e prazeroso da matemática

Teresa Sanches

A inversão de expectativas é quase imediata. Quem chega assustado, cheio de dúvidas e especulando se a sessão será um momento para fazer cálculos ou prova aos poucos vai percebendo que, na sala do Projeto Visitas, iniciativa de extensão do Departamento de Matemática do ICEx, a matemática pode provocar sensações bem mais prazerosas.  Foi assim com a turma do sexto ano do ensino fundamental da Escola Municipal Júlia Paraíso, no bairro Alípio de Melo, em visita ao projeto, na primeira semana de maio.

Com olhares curiosos e carinhas assustadas, os alunos de 11 anos entraram na sala composta por um quadro negro, uma tela de TV e seis mesas redondas, circundadas por cadeiras. Nada muito diferente de um ambiente convencional de sala de aula. Para dar início ao diagnóstico da turma, os monitores perguntam aos alunos sobre o que esperam da visita e lançam a questão mais temida: “Estão preparados para fazer uma prova de Matemática?” Murmúrios e olhares se cruzam na sala, mas a senha do alívio logo é acionada: “Hoje não faremos uma prova, foi só uma brincadeira. Vamos nos divertir com jogos matemáticos, vocês acham isso possível?”

E a resposta, ainda não positiva e uníssona, mas já menos apreensiva, vem acompanhada de suspiros de alívio e sorrisos. “Essa dinâmica é parte da metodologia de trabalho mais lúdica e motivacional, que se vale de jogos para desenvolver as habilidades de concentração, organização, planejamento e raciocínio lógico”, resume a coordenadora do projeto, professora Aniura Milanés Barrientos. A maioria dos jogos é elaborada por alunos do curso de Matemática. “São atividades algébricas, geométricas e lógicas, para serem realizadas em grupos e que permitem desenvolver as habilidades e afinidades dos estudantes com a matemática”, explica a coordenadora.

O Projeto Visitas nasceu em 1997, inicialmente para divulgar o curso de Matemática entre estudantes do último ano do ensino médio. A partir da boa receptividade inicial, estendeu-se para divulgação do conhecimento matemático entre estudantes do ensino fundamental e médio das redes de ensino pública e privada.

Desafio

Reunidos em grupos, os estudantes da Escola Municipal Júlia Paraíso começaram a se soltar. Na primeira atividade proposta, o jogo dos palitos, o objetivo é trabalhar a linguagem geométrica, interpretar dados do enunciado, desenvolver a criatividade, explorar simetrias, visualizar e perceber as formas geométricas.  A cada conquista, vibração e soma de pontos. Mas em outro jogo foi proposto um desafio. E bastou a palavra “desafio” para novos murmúrios de apreensão.  Mas como o estímulo é a recompensa, a animação foi voltando diante da pontuação proposta para o grupo vencedor. “Os adolescentes precisam de coisas palpáveis e os jogos matemáticos, que trazem elementos concretos, manuseáveis, atendem essa necessidade”, observa a monitora Jéssica da Matta, do sexto período de Licenciatura em Matemática.

Nos jogos que se seguiram, escolhidos de acordo com a percepção dos monitores sobre a turma, os estudantes se mostravam ora desanimados, quando se exigia maior atenção e raciocínio, ora entusiasmados, quando os acertos eram mais frequentes.

Alunos que no início da visita confessaram estar apreensivos sobre a possibilidade de prova se ofereceram para representar seus grupos nas atividades. Como Ana Júlia Alves de Menezes, 11 anos. “Eu estava com medo, pensei que fosse mesmo ter prova, apesar de gostar de Matemática. Mas gostei de tudo e vi que é possível aprender e se divertir também.”

Vítor Barbosa demorou algum tempo para se soltar. Mas, ao final das duas horas de sessão, admite que começou a pensar diferente: “Eu cheguei aqui achando que não daria para participar de nada. Não estava preparado para prova”, comemorou, ao relatar a quebra de suas expectativas.

Na avaliação da professora Magda Trindade Gonzaga de Oliveira, há 26 anos trabalhando com ensino infantil e fundamental, e pela primeira vez no Projeto Visitas, a ­sessão foi surpreendente. “Foi muito bom ver alunos que em sala são tímidos, passivos e desatentos participarem dos jogos, expressarem dúvidas, partilharem e vibrarem com os acertos. Na sala de aula somos obrigados a cumprir um cronograma muito rígido e não temos muito tempo para propor momentos como esse. Como a turma é heterogênea, em situações diferentes e em grupo eles se revelaram. Vale a pena retornar”, recomendou.

Apoiados financeiramente pela Fapemig, os membros da equipe do Projeto Visitas trabalham atualmente junto com pesquisadores do Departamento de Ciência da Computação da UFMG, na tarefa de disponibilizar versões digitais de seus jogos no Portal Pingo (http://homepages.dcc.ufmg.br/~denotini/pingo/). As escolas interessadas podem agendar visitas pelo telefone (31) 3409-5971 ou pelo site http://www.mat.ufmg.br/visitas.