Estudo UFMG: mobilização de entregadores de aplicativo atravessa ambientes digital e urbano
Por: Assessoria de Imprensa UFMG
De quais dinâmicas de ação coletiva os entregadores por aplicativos brasileiros se valem para fazer frente às novidades do chamado “capitalismo de plataforma”? A pergunta orientou a pesquisadora Letícia Birchal Domingues, professora da Universidade de Brasília, no desenvolvimento de sua tese de doutorado, defendida no Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFMG. A pesquisa foi agraciada em 2025 com o Prêmio Capes de Tese, concedido pela Comissão de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior.
Um dos achados centrais do trabalho destacados pela autora é o atravessamento da dinâmica de mobilização da categoria por formas características dos ambientes digital e urbano, simultaneamente. “Os protestos são organizados centralmente no WhatsApp, as reuniões são on-line, há uma dimensão digital enorme acontecendo”, diz. Ao mesmo tempo, o espaço urbano também tem forte influência. “A violência, a precariedade da vida dos corpos, do estar na chuva e no sol, são várias coisas faladas o tempo todo pelos entregadores”, relata.
A tese se baseia em entrevistas on-line realizadas com 22 entregadores das cinco regiões do país. A ideia era fazer um estudo de abrangência nacional, que representasse a diversidade da categoria. A análise compreende o período de 2020 – com a eclosão da pandemia de covid-19 – a 2024, quando os “breques” (protestos da categoria) ganharam mais visibilidade em ano marcado pelo debate sobre a regulamentação do trabalho dos entregadores.
Além das entrevistas, a pesquisadora mapeou 127 protestos realizados de março de 2020 a dezembro de 2023, acompanhou duas manifestações, ingressou em grupos de mensagem instantânea abertos, em aplicativos como o WhatsApp e o Telegram, e monitorou outras redes sociais digitais.
Nova fase do capitalismo
A cientista política explica que, no contexto da pesquisa, o capitalismo de plataforma é entendido como uma nova fase na produção capitalista, marcada por mudanças determinadas pela proeminência das plataformas digitais.
Com base na análise das informações coletadas, Domingues percebeu a construção da compreensão coletiva da categoria como trabalhadora e não empreendedora. “Isso é um tipo de passagem muito importante para se ter uma compreensão sobre o que é o papel das plataformas e do trabalhador dentro do capitalismo de plataforma, que vai sendo feito com base nesse compartilhamento de experiências”, observa.
Ouça aqui o episódio do Aqui tem ciência, programa da Rádio UFMG Educativa, e saiba mais sobre a pesquisa.
O trabalho foi orientado pelo professor Ricardo Fabrino Mendonça, do Departamento de Ciência Política da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (Fafich) da UFMG.
Raio-x da pesquisa
Autora: Letícia Birchal Domingues
O que é: tese de doutorado que analisa as dinâmicas de mobilização dos entregadores por aplicativos brasileiros no contexto do capitalismo de plataforma, com base em entrevistas on-line realizadas com 22 entregadores das cinco regiões do país, no período de 2020 a 2024. Também foram mapeados 127 protestos realizados de março de 2020 a dezembro de 2023; a autora acompanhou, ainda, duas manifestações e as interações em grupos de mensagem instantânea abertos, em aplicativos como WhatsApp e Telegram, e monitorou outras redes sociais digitais.
Programa de Pós-graduação: Ciência Política
Orientador: Ricardo Fabrino Mendonça
Financiamento: Capes
Ano de defesa: 2024
Aqui tem ciência
O episódio 207 do Aqui tem ciência tem produção, roteiro e apresentação de Alessandra Ribeiro e trabalhos técnicos de Cláudio Zazá. O programa é uma pílula radiofônica sobre estudos realizados na UFMG e abrange todas as áreas do conhecimento. A cada semana, a equipe apresenta os resultados de uma pesquisa desenvolvida na Universidade.
O Aqui tem ciência vai ao ar na frequência 104,5 FM, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, e na página da emissora, às segundas, às 12h45, com reprises às quartas, às 17h45, e pode ser ouvido também em plataformas de áudio como Spotify e Amazon Music.
Fonte
Assessoria de Imprensa da UFMG
assessoriadeimprensa@ufmg.br