Heloisa Starling recebe Sérgio Rodrigues para lançamento de ‘Escrever é humano’
Livro discute o futuro da escrita em tempos da IA generativa; evento ocorrerá na Livraria Jenipapo no âmbito de parceria com o Projeto República da UFMG
Por Ewerton Martins Ribeiro
Nesta terça-feira, 30, às 19h, o escritor mineiro Sérgio Rodrigues lança em Belo Horizonte o livro Escrever é humano: como dar vida à sua escrita em tempo de robôs, que acaba de sair pela Companhia das Letras. O lançamento ocorre no âmbito do República Jenipapo: debates em praça pública, projeto realizado pela Livraria Jenipapo em parceria com o Projeto República, da UFMG. Sediado na Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (Fafich) e vinculado ao Departamento de História, o Projeto República é um núcleo de pesquisa, documentação e memória de questões relativas ao período republicano brasileiro.
Rodrigues debaterá o tema mais candente de seu livro – o futuro da arte literária e da escrita humana diante do advento da inteligência artificial generativa – com a professora Heloisa Starling, do Departamento de História, e com a jornalista e escritora Virgínia Starling. Heloisa é a coordenadora do Projeto República, fundado por ela no início deste século. “Estou animado para lançar o livro em meu estado natal”, afirma Sérgio. “Ainda mais sendo recebido com o mais luxuoso dos tapetes vermelhos, a interlocução da professora Heloisa, uma das intelectuais brasileiras que mais admiro”, comenta.
Desde 2016, paralelamente à sua produção ficcional, o escritor mantém uma coluna na Folha de S.Paulo com foco na divulgação linguística e na reflexão sobre o português falado e escrito no Brasil, temática sobre a qual ele começou a escrever ainda em 2001, no extinto Jornal do Brasil. Antes de Escrever é humano, Sérgio publicou, sobre o tema, What língua is esta? (Ediouro, 2005) e Viva a língua brasileira! (Companhia das Letras).
A Livraria Jenipapo fica na Rua Fernandes Tourinho, 241, Savassi. O evento de lançamento é aberto ao público, e a compra do livro não é pré-requisito para assistir ao debate.
‘Caminhos irrepetíveis’
Em Escrever é humano, o autor busca compartilhar o que aprendeu ao longo de mais de quatro décadas de atuação profissional voltada para o ofício da palavra, como ele mesmo explica na introdução do volume. Ao mesmo tempo, seu livro não desconsidera que, no fundo, “não se pode realmente ensinar ninguém a escrever boa ficção”; é possível, no máximo, “dar toques, apontar vacilos comuns, comentar macetes promissores”. Ainda assim, insiste Rodrigues, “o fato é que cada pessoa precisa aprender sozinha, e os caminhos são tão irrepetíveis quanto as impressões digitais”.
Porém, diz o autor, se cada pessoa precisa desbravar seu próprio caminho, “o melhor que se pode fazer é conversar sobre isso, tentando traduzir em signos compartilháveis a solidão e o silêncio que estão no miolo do ofício”. Seu livro, em seu arrazoado de 200 páginas, se instauraria justamente aí, isto é, nesse “desejo de conversar” sobre o desafio que é escrever. “Sendo único o caminho de cada pessoa no mundo das letras, o relato sincero da minha própria experiência – aqui e ali à beira do sincericídio – é o que de mais honesto eu poderia oferecer”, afirma o autor em sua introdução.
O livro de Sérgio Rodrigues dá sequência às (e, eventualmente, reproduz algumas das) reflexões que ele começara a fazer ainda no blog Todoprosa, mantido de 2006 a 2016 e ainda disponível on-line. Na época em que era alimentado, o blog mesclava resenhas com notas, comentários e reflexões sobre o ofício literário. Com efeito, nele podem ser encontrados os germes de alguns dos ensaios reunidos no livro, sobretudo os que tratam da escrita de forma mais atemporal, já que o tema da IA generativa, propriamente, só surgiria mais tarde no debate público.
O lugar-incomum da literatura
No primeiro dos ensaios do livro, denominado Viva a literatura, morra o clichê, o escritor trata de certo paradoxo da linguagem, isto é, o fato de ela só funcionar por ser baseada em redundâncias e de ela só se fazer “esperta, desafiadora, tocante ou memorável – em resumo, artística de verdade” quando escapa de nelas incorrer. Sob essa perspectiva, Sérgio Rodrigues vai situar a literatura como “o contrário do lugar-comum”.
Por conseguinte, seria então a literatura, enquanto arte, um tipo de realização impossível à inteligência artificial, já que a produção da máquina é por natureza o resultado pasteurizado de uma média articulada de tudo o que já há. Essa ideia dá o tom da reflexão do livro: a literatura é e provavelmente seguirá sendo para sempre o “trabalho de gente”, a despeito dos avanços das novas “máquinas de escrever”.
Se o tema da escrita produzida de forma autônoma por bites atravessa, em alguma medida, toda a obra, é no primeiro e no último capítulo – este denominado Aqui só entra quem vai morrer – que os dilemas postos em curso pela inteligência artificial são abordados mais diretamente. Neles, Sérgio Rodrigues explica por que, em sua opinião, a IA é e deve seguir sendo incapaz “de gerar o mais pálido arremedo de algo com valor literário, por mais que na superfície seja prodigioso seu domínio textual”. Em suma, seria porque lhe falta… bem, lhe falta humanidade, mesmo.
Criado no início de 2023, o República Jenipapo é realizado mensalmente, com foco na conversa sobre livros com poder de influenciar o debate público do país sob uma perspectiva republicana. Ao longo de seus dois anos e meio de existência, o projeto trouxe a Belo Horizonte alguns dos grandes nomes do pensamento brasileiro contemporâneo, como o cientista político Christian Lynch e a antropóloga Lilia Schwarcz, além de jornalistas investigativas como Cecília Olliveira, Juliana Dal Piva e Natalia Viana, para citar participantes mais recentes.
Livro: Escrever é humano: como dar vida à sua escrita em tempo de robôs
Autor: Sérgio Rodrigues
Editora: Companhia das Letras
200 páginas | R$ 79,90
Evento: República Jenipapo, com Sérgio Rodrigues
Data e horário: 30 de setembro, às 19h
Local: Livraria Jenipapo (Rua Fernandes Tourinho, 241 – Savassi, BH)
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