Lançado portal que abriga ‘mapeamento crítico’ da literatura brasileira contemporânea
Pesquisadores da UFMG integram grupo responsável pela construção e pelo abastecimento do site, que foi idealizado na UnB; 230 resenhas de romances já estão disponíveis para leitura
Por Ewerton Martins Ribeiro
A Universidade de Brasília (UnB) lançou, nesta segunda-feira, dia 19, o Praça Clóvis, portal criado para hospedar um mapeamento crítico da literatura produzida no Brasil nos últimos 55 anos. Idealizado no âmbito do Grupo de Estudos em Literatura Brasileira Contemporânea (Gelbc), que tem sede na UnB, o portal é, na prática, o resultado do trabalho colaborativo de três centenas de pesquisadores brasileiros e estrangeiros, atuantes no Brasil e no exterior, vários deles da UFMG. Nos últimos três anos, esse heterogêneo grupo realizou a força-tarefa necessária para que o projeto pudesse ir ao ar.
O site estreou no início desta semana já com 230 resenhas críticas publicadas. Elas versam sobre grandes romances brasileiros publicados de 1970 até hoje. Em sua próxima fase, o projeto vai incorporar resenhas de outras manifestações literárias, como o conto, a poesia e o teatro. O lançamento do portal ocorreu em Brasília, na Biblioteca Demonstrativa Maria da Conceição Moreira Salles (BDB), com uma exposição das ilustrações produzidas para o site, seguida de uma mesa-redonda. O evento foi transmitido pelo YouTube e pode ser recuperado por meio deste link.
Vários doutores formados pelo Programa de Pós-graduação em Letras: Estudos Literários (Pós-Lit) da UFMG produzem resenhas. Bianca Magela Melo Silva, Bruna Kalil Othero, Ewerton Martins Ribeiro, Juliana Borges Oliveira de Morais, Luiz Henrique Silva de Oliveira, Maria do Rosário Alves Pereira, Mariana Di Salvio Almeida e Paula Renata Moreira são alguns dos pesquisadores que já colaboraram nos trabalhos. Além deles, os professores Eduardo de Assis Duarte, da Faculdade de Letras (Fale), e Telma Borges da Silva, da Faculdade de Educação (FaE), também atuaram no projeto. Eduardo trabalhou como colaborador geral; Telma, na pesquisa iconográfica.
Projeto grandioso
“O Praça Clóvis é um projeto muito grandioso, e que acabou sendo muito bem-sucedido, em razão de ter sido muito bem realizado. Ele vai ajudar a mapear a história recente da literatura brasileira – mais especificamente, a da literatura brasileira contemporânea, pós-anos 1970. É um trabalho que nos ajuda a entender um pouco mais do Brasil, mas por meio desse pensar tão específico, que é o da arte literária”, reflete Telma. “Estamos falando, portanto, de um projeto grandioso em sua concepção e em sua execução, mas que será grandioso também pelo trabalho que cumprirá de realizar uma divulgação massiva da literatura brasileira”, afirma.
Apesar do grande volume de resenhas coligidas no portal, ele não tem a ambição de abarcar toda a produção do período. “A ideia não é produzir uma enciclopédia e sim incidir na reflexão sobre nossa literatura”, explica-se na descrição institucional do site. “Para contrabalancear a subjetividade envolvida em qualquer seleção do tipo, foi adotada como critério a representatividade das obras dentro de determinadas correntes estilísticas e mesmo políticas. Outro critério é o da representatividade regional, dos diferentes períodos e de autoria. Há ainda um olhar atento sobre a repercussão dos livros escolhidos entre críticos, leitores e outros produtores literários”, acrescenta-se.
Trabalho coletivo
Os comitês científico e editorial do portal e suas equipes – de edição, revisão, pesquisa iconográfica, ilustração e resenhas – têm composição interinstitucional. Já a coordenação geral está a cargo da professora da UnB Regina Dalcastagnè, que lidera o Gelbc. Segundo ela, o projeto visa dar outra vez visibilidade a uma produção cultural “muitas vezes esquecida”, mas que é muito “importante para se pensar o Brasil”. São “obras que estão deixando de ser lidas, seja porque não são reeditadas, seja porque o volume de novas publicações lança uma sombra sobre elas, seja porque o esquecimento é uma marca dominante na cultura nacional”, explica-se no próprio portal.
Regina destaca também um ganho adicional do projeto, no que diz respeito ao trabalho coletivo e interinstitucional que o engendrou: “a experiência de compartilhamento coletivo de conhecimentos, de solidariedade acadêmica, de compromisso com a cultura do país” que acabou atravessando todo o ciclo produtivo, como ela mesma define. Quanto ao nome “Praça Clóvis”, no próprio site se explica que ele “busca marcar um espaço de circulação e convivência de ideias. Ao mesmo tempo que reverbera a imagem do espaço público e de encontro, é uma homenagem à cultura popular, a partir da divertida canção de Paulo Vanzolini com o mesmo nome”.
Telma Borges destaca a importância de Regina Dalcastagnè como eixo e centro de convergência da sinergia que se estabeleceu em torno do projeto. “Se não fosse a figura tão carismática da professora Regina Dalcastagnè, talvez não houvesse tantas pessoas do Brasil inteiro envolvidas no projeto, seja colaborando, escrevendo resenhas, fazendo pesquisa de imagem, produzindo ilustrações para cada um dos textos ali publicados. Houve um conjunto enorme de profissionais muito envolvidos e empenhados em fazer esse projeto dar certo”, ela destaca. “Espero que o Praça Clóvis tenha vida longa. Eu, é claro, quero continuar participando”, garante a professora da FaE.
Sem restrições de acesso, o Praça Clóvis já está disponível para ser consultado por qualquer pessoa – dos professores do ensino médio aos bibliotecários, dos profissionais do mercado do livro àqueles que simplesmente estão em busca de encontrar uma boa sugestão de próxima leitura.
Entre suas funcionalidades, o portal permite pesquisar resenhas tanto pelo campo de buscas quanto por agrupamentos-chave: décadas, estados, regiões, autorias (negra, não binária, masculina, indígena, feminina e branca) ou temáticas (questões ambientais, questões raciais, questões LGBT+, violência, ditadura, migração e mulheres).
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