Sessões públicas e exposição marcam defesa dos direitos dos povos indígenas
Nestas terça e quarta-feira, 1 e 2, no campus Pampulha, serão apresentados casos de violação, soluções e programa dedicado a educação e saúde dos Yanomami e Ye'kwana
Por Agência
Com Assessorias de comunicação da Proex e da Procult
A Pró-reitoria de Extensão da UFMG (Proex) e a Universidade dos Direitos Humanos (UDH) vão promover, nesta semana, duas sessões públicas: uma dedicada à apresentação de casos de violação de direitos dos povos indígenas acompanhados pela UDH; outra dedicada à apresentação do Programa de Extensão Direitos Humanos, Educação e Saúde Yanomami e Ye’kwana. O encontro será na quarta, dia 2, a partir das 14h, no auditório da Reitoria.
Na terça, dia 1º, às 17h, será aberta a exposição Mundos indígenas, no mezanino da Reitoria. Montada em 2019, no Espaço do Conhecimento UFMG, a mostra passa a ser itinerante na Universidade. A inauguração terá a presença dos curadores dos povos Yanomami, Ye’kwana, Maxakali, Xakriabá e Pataxoop, entre eles Davi Kopenawa, Célia Xacriabá e Isael Maxakali.
Os casos de violação acompanhados pela UDH de 2021 a 2023 serão apresentados por lideranças e representantes dos povos atingidos – Xakriabá, Aldeia Barreiro Preto (2021), Maxakali, Aldeia-Escola-Floresta (2021), Yanomami e Ye’kwana (2023) –, e também pelos parceiros, docentes e pesquisadores da UFMG que estiveram nos territórios para acompanhamento dos casos. A proposta é compartilhar soluções elaboradas em parceria com ações da UFMG e que colaboraram para a superação do quadro de violência. Serão apresentados também os desdobramentos e atividades que vieram após a superação da fase inicial de cada caso.
O Programa de Extensão Direitos Humanos, Educação e Saúde Yanomami e Ye’kwana será apresentado à comunidade acadêmica e convidados, assim a como proposição do Grupo Yanomami e Ye’kwana de Acompanhamento e Consulta do Programa. O programa de extensão é composto dos projetos Direitos humanos na Terra Indígena Yanomami (UDH), Formação continuada de professores e Magistério Técnico no Território Etnoeducacional Yanomami/Ye’kwana (Faculdade de Educação), Espaços comunitários de saberes, cultura e bem-viver Yanomami (Escola de Arquitetura) e Redes de cuidado na Terra Indígena Yanomami (Escola de Enfermagem).
A diretora da UDH, professora Maria Guiomar Frota, destaca que o evento é parte da rica trajetória de diálogos e articulações entre a UFMG e os povos indígenas em defesa dos direitos humanos. “Dessas articulações resultaram múltiplas atividades na extensão, ensino e pesquisa. Como marco, relembro a conferência de abertura dos 95 anos da UFMG, proferida por Ailton Krenak e Davi Kopenawa, que teve como desdobramento principal, em 2023, a criação da Rede interdisciplinar organizada pela UDH/PROEX e pela FaE para atuar no território nas áreas de direitos humanos, educação e saúde. Os resultados dos trabalhos da rede serão avaliados nesse evento, bem como as perspectivas de continuidade do trabalho”, explica a docente da Escola de Ciência da Informação (ECI).
Exposição agora itinerante
A exposição Mundos indígenas poderá ser visitada no mezanino da Reitoria de 2 de julho a 15 de dezembro. A curadoria da mostra foi feita por Davi Kopenawa e Joseca Yanomami; Júlio Magalhães Ye’kwana e Viviane Rocha Ye’kwana; Vicente Xakriabá (in memoriam), Edvaldo Xakriabá e Célia Xakriabá; Isael Maxakali e Sueli Maxakali; Kanatyo Pataxoop e Liça Pataxoop.
A mostra foi inaugurada em dezembro de 2019 como exposição temporária no segundo andar do Espaço do Conhecimento UFMG, na Praça da Liberdade. Fechada no período da pandemia de covid-19, foi reaberta e permaneceu em cartaz até setembro de 2023. “Diante da potência epistêmica, política e pedagógica experimentada na exposição, foi planejada a sua itinerância e, pouco a pouco, está sendo viabilizada sua continuidade e alguns desdobramentos”, afirma-se no texto de divulgação da mostra..
A exposição, continua o texto, “desloca-se do museu na cidade para a institucionalidade do campus da UFMG e marca a sua presença como gesto epistêmico em direção à pluriversidade”. A partir desta remontagem, por meio do projeto de extensão Mundos indígenas: projeto para um programa contínuo na UFMG e da Pró-reitoria de Cultura, com recursos advindos da emenda parlamentar da deputada federal Célia Xakriabá, a exposição vai envolver os estudantes e pesquisadores indígenas da UFMG e convidar ao diálogo a comunidade acadêmica.
Vivem hoje no Brasil 305 povos indígenas que falam 274 línguas diferentes. A população indígena no Brasil é de 1,7 milhão de pessoas, sendo 914.746 moradoras das cidades e 780.090 de aldeias e áreas rurais espalhadas de Norte a Sul do país, segundo o Censo 2022 do IBGE. É rica a diversidade de territórios socioambientais, e a exposição tem a curadoria de cinco povos, convidados por estarem presentes na UFMG há mais de 25 anos, como professores, alunos e pesquisadores, na Faculdade de Educação e na Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (Fafich).
Disposição sensível
Os curadores convidam o público a conhecer seus mundos, que criam e envolvem existências humanas e outras – como as de plantas, animais e espíritos – com quem convivem efetivamente. Ainda segundo o texto de divulgação, “aceitar o convite para compreender realidades indígenas depende de uma disposição sensível para experienciar seus mundos sem traduzir ou comparar com a realidade conhecida pelos não indígenas. A ideia é que se aceite o desafio de entender seus mundos em seus próprios termos”.
A noção de mundo tem vários significados. No sentido mais amplo, abarca a dimensão concreta de toda a existência, como a noção de universo significa. Dentro desse universo de seres, objetos e relações, há mundos singulares, organizados em torno de interações específicas. Ou seja, o que se entende como “grande mundo” contém mundos menores. Mas há outras possibilidades de entender a existência.
A pluralidade de mundos indígenas – como os aqui apresentados – revela a possibilidade de outros englobamentos totais, ou a existência de universos, no plural. Os mundos indígenas se baseiam em premissas diferentes das que adotam os não indígenas para definir o que existe. Cada mundo indígena é mostrado a partir de um conceito proposto pela curadoria: në ropë, weichö, corpo-território, yãy hã miy e hãm’kuna’ã xeka (Com os mundos indígenas, podemos aprender a coexistir, a interagir com respeito e cuidado. Aprender que existem outros mundos).
“A exposição foi especialmente relevante porque os povos indígenas foram convidados a nos apresentar uma visão de mundo, o conceito central de sua cultura. E agora ela cumpre o importante papel de trazer essa discussão para dentro do campus”, diz o pró-reitor de Cultura, Fernando Mencarelli. “Também acrescentará à discussão ampliada que há hoje na Universidade sobre as políticas para os nossos estudantes indígenas e sobre a relação da UFMG com os povos indígenas, em particular, os que fizeram a curadoria”, afirma.
A coordenação da exposição no Espaço do Conhecimento foi de Deborah Lima, Ana Maria R. Gomes e Mariana de Oliveira. Ana Maria Gomes, Paulo Maia e Renata Marquez coordenam a mostra nesta nova fase, no campus Pampulha.
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