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Divulgação científica

‘UFMG nas ruas’ leva conhecimento, diversão e arte à Praça da Liberdade

Realizado pela primeira vez, evento, que reuniu mais de 50 atividades em um dos principais cartões-postais de BH, será incorporado ao calendário escolar da Universidade

Por Teresa Sanches e Hellen Cordeiro

Alameda da Educação, onde fica o Espaço do Conhecimento, foi tomada por pessoas interessadas em conhecer os projetos da UFMG
Foto: Raphaella Dias | UFMG

A Alameda da Educação, trecho de rua de cerca de 100 metros que margeia a Praça da Liberdade, em Belo Horizonte, transformou-se no último sábado, dia 18, numa pequena extensão dos campi da UFMG. Cerca de 50 atividades de ensino, pesquisa, extensão e cultura foram apresentadas à população da cidade por meio de experimentos científicos, oficinas, jogos e rodas de conversa. O evento UFMG nas ruas pintou um dos cartões-postais de Belo Horizonte com as cores do conhecimento.

Bárbara Oliveira, 10 anos, chegou determinada à Praça da Liberdade. Ela queria aprender sobre a Língua Brasileira de Sinais (Libras) e explicou o motivo. “Quero saber conversar [em Libras] quando encontrar alguém que precisa”, disse a garota, que planeja ser professora de educação infantil. Acompanhada da mãe, Lucineide de Oliveira Brito, e da irmã, Manuela Oliveira, de 5 anos, Bárbara observava atentamente e repetia com agilidade os sinais da intérprete Dinalva Andrade, do Espaço do Conhecimento UFMG. Dinalva contou para a família de Bárbara que seu trabalho é capacitar os mediadores do museu, ensinar e guiar os visitantes do espaço às exposições e durante o projeto Sábado com Libras, que ocorre duas vezes por mês.

Bárbara (à direita) e a irmã Manuela acompanham com atenção os sinais da intérprete de Libras Dinalva Andrade
Foto: Teresa Sanches | UFMG

“Olha, vamos lá conhecer a minha escola”. Essa foi a “isca” lançada pela mestranda Raika Mota, do Programa de Pós-graduação em Engenharia Metalúrgica, Materiais e de Minas da UFMG, para estimular o filho, João, de 7 anos, a passar algumas horas da manhã na Praça da Liberdade. Raika também queria tirá-lo da frente da tela do celular e proporcionar-lhe uma experiência de lazer analógico. Até o momento em que esta entrevista foi realizada, a estratégia havia funcionado. “Está difícil tirar ele de um bloco [estande] para o outro. Ele quer fazer tudo”, relatou Raika.

A família do médico Bruno Quirino, ex-aluno da Faculdade de Medicina, foi agradavelmente surpreendida pela programação da UFMG no último sábado. “Foi muito legal ver as atividades que ocorrem na UFMG expostas na rua”. Para a esposa, Natália Rezende, “todas essas atividades, abertas ao público e com interação para as crianças são sempre muito válidas”. Ela contou que as filhas do casal, Rafaela e Marina, gostaram de conhecer o milho roxo no estande do projeto Hortas escolares. 

De turista a intercambista
Para a dentista catarinense Maire Rambo, que veio a Belo Horizonte para assistir ao show da cantora Marisa Monte, “encontrar a feira da UFMG foi muita sorte, porque logo me identifiquei com o projeto”. Ela conversou com a reportagem em frente ao estande do projeto Tal mãe tal filho, que integra o programa de extensão Promoção de Saúde Bucal da Faculdade de Odontologia.

A dentista catarinense Maire Rambo no estande ‘Tal mãe, tal filho’
Foto: Teresa Sanches | UFMG

Quem falou do projeto para a dentista foram as estudantes Dâmaris Kézia Marcelino da Silva, do mestrado Profissional em Saúde Pública, e a graduanda Isabelle Duarte Souza Lima, do quinto período de Odontologia. “Eu também atendo no serviço público, e a saúde bucal no pré-natal tornou-se indicador obrigatório da saúde da gestante. Além disso, aproveitei para fazer arteterapia e conhecer os programas de pós-graduação e o e-book do projeto, que vou baixar para atualizar alguns conhecimentos”, contou a dentista.

 A professora Lívia Zina, que divide a coordenação do projeto com a colega Lolisa Chabebe, do Departamento de Odontologia Social e Preventiva, acrescentou que a temática da saúde bucal da gestante e do bebê é tratada como disciplina optativa no curso. A Faculdade oferece atendimento a gestantes na clínica da unidade, que será reaberta a partir de novembro. Além disso, desenvolve pesquisas e promove a capacitação de equipes das prefeituras.

Outros dois projetos vinculados ao Programa da Faculdade de Odontologia foram às ruas: o Promoção da Saúde Bucal para Adolescentes e o Caravana. Com a “dinâmica do bocão”, os estudantes ensinaram sobre escovação correta e temas como  bruxismo, cigarro eletrônico e fake news. A equipe contou que as atividades são levadas às escolas e presídios, com informações, materiais e dinâmicas adaptados a cada público.

‘Dinâmica do bocão’: escovação correta
Foto: Teresa Sanches | UFMG

Aonde o povo está
Em uma força-tarefa contra o mosquito transmissor da dengue, da zika e da chicungunha, estudantes dos cursos de graduação ao pós-doutorado em Ciências Biológicas foram às ruas para informar a população, com bom humor, “sobre as fases de reprodução do mosquito e desmitificar informações por meio do jogo ‘fato ou fake’”, explicou a doutoranda em Imunologia Manuela Viana. O estudante do 4º período da graduação Igor Guedes contou que o projeto nasceu da divulgação das pesquisas no Instagram Gpav, e o grupo também agrega pesquisas sobre outras viroses, como febre amarela, influenza e sars-cov 2.

A primeira edição do evento, também realizada em Montes Claros, no sábado anterior (11 de setembro), foi bem avaliada pela reitora Sandra Goulart Almeida. “Certamente, ele será incorporado ao calendário acadêmico da UFMG”, garantiu. Após visitar os estantes, a reitora afirmou: “Fizemos um movimento no sentido oposto ao de outros eventos. A UFMG já se mostra para a comunidade por meio de seus projetos de extensão e do Domingo no campus, situações em que a população é convidada a ir aos campi. Com o UFMG nas ruas, nós é que vamos até as pessoas para mostrar um pouquinho do que é produzido na universidade, que é de todos nós”.

Sandra Goulart: movimento no sentido oposto ao de outros eventos destinados à comunidade externa
Foto: Raphaella Dias | UFMG

Troca que mobiliza e fortalece
Enquanto visitava o projeto de extensão A promoção da educação a partir das hortas escolares, a professora Shirley Miranda, da Faculdade de Educação (FaE) e pró-reitora adjunta de Assuntos Estudantis, refletia sobre a importância de reunir elementos em defesa da ciência. “Está sendo uma experiência inédita e muito potente, porque aqui estão várias unidades acadêmicas. Essa troca é muito especial. Ela nos mobiliza, traz mais vida para o nosso trabalho e fortalece. A ciência hoje tem sofrido muitos ataques, e um evento como esse reforça o nosso propósito de continuar levando a ciência para a sociedade e não deixá-la na universidade”.

O projeto das hortas escolares contempla da educação infantil aos anos finais do ensino fundamental por meio da articulação entre saúde, educação inclusiva, arte e agroecologia. Uma das atrações apresentadas pela equipe do projeto foi um caderno de curiosidades feito pelas próprias crianças da Escola Municipal Professora Alice Nacif, localizada na comunidade do Conjunto Confisco, em Belo Horizonte.

“É um projeto que busca fazer com que as crianças entendam que a gente precisa da natureza; a gente deve ter esse contato, aprender a cuidar dela. Devemos aproveitar os recursos que ela pode nos dar, mas não no sentido de explorar, mas de cuidar e compreender que sem ela não existe vida”, explicou Beatriz Martins, estudante do curso de Pedagogia da Faculdade de Educação (FaE). Ao lado dela, o estudante de Veterinária e bolsista do projeto Daniel Alves completou: “Nesse projeto, a gente consegue abordar desde a matemática básica até geografia e história. E o legal desse projeto na horta é que conseguimos trabalhar tudo ali. Conseguimos instigar a curiosidade dos alunos, que começam a fazer perguntas e a trazer dúvidas dos pais para nós”.

Equipe do projeto das hortas escolares: Felipe Sales, Beatriz Martins, Elaine Lima e Daniel Alves
Foto: Raphaella Dias | UFMG

Ações de acolhimento
Várias ações de acolhimento marcaram presença na primeira edição do UFMG nas ruas. Uma delas é o Coletivo de Estudantes Kilombolas da UFMG, o Coleki. A coordenadora externa do projeto e líder quilombola, Fabíola Braga, apresentou detalhes sobre a vivência nas comunidades quilombolas e as ações de acolhimento: “Estamos apresentando uma atividade de palavras positivas que contribuem para que as pessoas dos quilombos que chegam à universidade não se sintam muito isoladas, porque, querendo ou não, são poucas. E estamos mudando essa realidade cada vez mais, trazendo mais pessoas quilombolas para dentro da universidade”, afirmou.

Fabíola Braga: acolhimento de estudantes quilombolas
Foto: Raphaella Dias | UFMG

O acolhimento oferecido por projetos da UFMG contempla não só a comunidade interna, mas também outros públicos, como as gestantes atendidas pelo Sentidos do nascer, que busca valorizar a cultura do parto normal na sociedade brasileira. A iniciativa é realizada em conjunto com a Secretaria de Saúde de Belo Horizonte, com financiamento do Ministério da Saúde. Sônia Lansky, coordenadora do projeto, explica que a tradição da cirurgia cesariana priva a promoção da saúde, a proteção do aleitamento materno e demais benefícios do nascer pleno. “A cirurgia, quando bem indicada, salva vidas, mas quando é desnecessária, pode provocar hemorragia, infecção, dificuldade no aleitamento materno e até depressão pós-parto. Quando chega à vida adulta, a pessoa que nasce de parto normal é beneficiada por uma carga genética que a protege de diabetes, hipertensão, asma e alergias”, explicou Lansky.

‘Remédio lúdico’
Ainda na área de saúde, a equipe do projeto Leitura é saúde, também representada na Praça da Liberdade, explicava os benefícios da literatura para o bem-estar. O projeto mantém uma biblioteca pública itinerante no campus Saúde, por meio da qual disponibiliza várias obras literárias. Os leitores podem retirar as obras. A iniciativa sobrevive de doações, e os exemplares podem ser entregues na Escola de Enfermagem.

“Além da biblioteca itinerante, realizamos leituras guiadas nos ambulatórios do Hospital das Clínicas. Enquanto os pacientes, especialmente as crianças estão em tratamento, recebendo algum tipo de medicação, a gente faz rodas de leitura ou leitura guiada com elas. Após a atividade, promovemos algumas atividades lúdicas para trabalhar a interpretação e o desenvolvimento cognitivo”, explica a professora Karla Rona, do Departamento de Gestão e Saúde da Escola de Enfermagem.

Karla define a iniciativa como um “remédio lúdico”. “É o momento de estimular a criatividade, de a imaginação aflorar por meio da leitura e aliviar a dor e sofrimento que, muitas vezes, o tratamento traz para criança e para sua família. Essa ‘dose positiva’ de medicamento auxilia muito na recuperação da pessoa”, reitera a professora.

Crianças brincam com livros infantis do acervo da biblioteca do projeto ‘Leitura é saúde’
Foto: Raphaella Dias | UFMG

O projeto vai além do ambiente físico e mantém em seu perfil no Instagram indicações de obras literárias, sinopses de livros e links onde é possível encontrar obras gratuitas em formato de e-book.

Ciência acessível
“Creio que a UFMG expandiu bastante a capacidade de divulgação de arte e de ciência com essa iniciativa. Aqui há vários públicos, e conseguimos alcançar pessoas que não conseguem acessar a universidade’, avaliou Gabriel Eduardo, estudante do curso de Farmácia, que apresentou detalhes do seu projeto de divulgação científica, Virologia ilustrada: observando os vírus pela lente da arte, desenvolvido no âmbito do Laboratório de Virologia Básica e Aplicada do Instituto de Ciências Biológicas, com apoio da Pró-reitoria de Assuntos Estudantis (Prae).

“Desenvolvo uma parte de pesquisa voltada para epitopos, vacinas, estudos de resposta imune e interação patógeno-hospedeiro”, detalhou Eduardo, para quem a virologia ilustrada é uma forma de usar a arte como ferramenta de comunicação. A exposição contou também com cartazes informativos estruturados de forma mais simples. “A parte mais técnica da comunicação não alcança o grande público, mas uma informação mais simplificada chega”, frisou o estudante. Por meio da aquarela, disse ele, o projeto consegue simplificar a manifestação clínica de forma visual sem perder sua essência informacional.

Gabriel Eduardo exibe cartazes produzidos especialmente para o evento: vírus e arte
Foto: Raphaella Dias | UFMG

O uso da linguagem acessível na ciência também é a base do projeto DNA em foco, que esteve presente em outros eventos de extensão da Universidade, como o Domingo no campus. Dessa vez, a equipe apresentou explicações sobre a genética e o DNA associados ao contexto da campanha Outubro rosa. O grupo, que reúne estudantes e professores dos cursos de nutrição, biomedicina e medicina, mostrou como as alterações genéticas e os hábitos saudáveis e não saudáveis aumentam ou diminuem o risco do câncer de mama.

“Trouxemos alguns modelos anatômicos para explicar quando a mulher deve procurar o pronto-atendimento para se submeter a exames e sobre a importância de se fazer a mamografia com frequência. Também mostramos a célula no microscópio para as pessoas que pudessem visualizar como é uma célula do câncer de mama”, relatou Giulia Carregal, nutricionista e mestranda em Medicina Molecular na UFMG.

Integrantes do projeto ‘DNA em foco’ explicam a relação entre genética e câncer de mama
Foto: Raphaella Dias | UFMG

Ainda no estande do projeto foram apresentados casos de pessoas famosas que tiveram câncer de mama. Ao final, os visitantes responderam a um quiz para testar seus conhecimentos.

Além dos projetos de ensino, pesquisa e extensão, quatro atrações culturais movimentaram a Praça da Liberdade: o Coral de Trombones e Tubas e o Quarteto de Saxofones, da Escola de Música, a intervenção cênica Projeto Sonhos Mascarantes, da Escola de Belas Artes, e a roda de capoeira do Centro de Convergência Negra (CCN), da Fafich.

Intervenção cênica de grupo da Escola de Belas Artes divertiu o público que visitou os estandes
Foto: Raphaella Dias | UFMG
Categoria: Extensão

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