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Cancelamento: pesquisa propõe conceito para o fenômeno das redes digitais

Dissertação defendida na pós-graduação em Ciência Política é tema do novo episódio do ‘Aqui tem ciência’, da Rádio UFMG Educativa

Fenômeno do cancelamento está atrelado à “sociedade da plataforma”, afirma pesquisadora
Foto: Freepik

O movimento #MeToo tornou-se conhecido em 2017, a partir da mobilização de mulheres nas redes sociais para expor assediadores e agressores. No episódio que desencadeou a ação coletiva, o produtor de cinema de Hollywood Harvey Weinstein foi acusado de assédio sexual e agressão por dezenas de mulheres, incluindo artistas renomadas. Ele foi condenado em 2020 e permanece preso, embora uma das condenações tenha sido anulada pela justiça. 

#MeToo é considerado o marco inicial do fenômeno do cancelamento pela consultora em marketing político Beatriz Valle Martins, autora da dissertação de mestrado defendida no Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFMG sobre o tema. Segundo ela, o cancelamento está atrelado à chamada “sociedade da plataforma”, termo cunhado pela pesquisadora José Van Dijck, da Universidade de Utrecht, nos Países Baixos.

“Nessa sociedade, as mídias sociais são amplamente utilizadas, os algoritmos definem a informação prioritária a ser acessada, e o volume de interações que o usuário tem com aquele conteúdo é chamado de engajamento. Então, é impossível pensar a noção de ser cancelado sem pensar nessa estrutura”, explica Martins.

IA no processo de pesquisa
Em sua dissertação, Beatriz Martins apresenta uma revisão bibliográfica sistemática: ela levantou definições existentes de cancelamento no meio acadêmico e identificou abordagens cristalizadas para compor o corpus final da pesquisa, um total de 122 artigos em inglês e português.

Para analisar a base de dados, a autora usou ferramentas de inteligência artificial (IA) baseadas em um código Python (linguagem aberta de programação) desenvolvido pelo pesquisador Julião Amaral, do Centro de Pesquisas em Política e Internet (Ceppi), do Departamento de Ciência Política da UFMG. Segundo Martins, a tecnologia serviu como espécie de backup, com o objetivo de garantir que ela não eliminasse algum artigo relevante para análise. 

“Primeiro, eu pedi que o código me retornasse as sentenças em que o termo cancelamento ou termos semelhantes eram citados. Então, eu pedi que esse código identificasse e criasse um arquivo para cada artigo, com essas frases delimitadas, para eu poder olhar só para aquelas que mencionavam o cancelamento”, revela. “Eu também usei esse código para identificar os termos mais frequentes, calculados a partir de uma métrica, que me diziam qual era a maior relevância daqueles artigos dentro do corpus.

A autora ressalta a importância da transparência no uso de ferramentas de inteligência artificial na pesquisa científica. “O código que eu utilizei está descrito na íntegra em minha pesquisa. Então, se alguém quiser testar o meu banco de dados ou outros bancos com esse código, pode fazê-lo”, assegura. 

Definição conceitual
O principal resultado do trabalho foi a elaboração de uma proposta de conceito para o cancelamento: “uma prática de humilhação pública nas mídias sociais digitais, provocada por uma transgressão a uma norma social (alegada ou real), realizada por meio de variadas formas de ataque, como boicote a marcas ou empresas, práticas de assédio como doxingcyberbullying, empilhamento e outras estratégias de mobilização digital”.

A pesquisa foi realizada sob orientação do professor Marcus Abilio Gomes Pereira, do Departamento de Ciência Política da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (Fafich)  da UFMG, com coorientação do pesquisador Manoel Leonardo Wanderley Duarte Santos.

Raio-x da pesquisa

Título: #Cancelado: o que é o cancelamento nas mídias sociais
Autora: Beatriz Valle Martins
Programa de pós-graduação: Mestrado em Ciência Política na UFMG
O que é: dissertação de mestrado que propõe uma definição para o conceito de cancelamento: a prática de humilhação pública que consiste em tentar fazer uma pessoa voltar à norma social, no momento em que ela transgride ou em que existe a suspeita de que ela tenha transgredido essa norma, no contexto das mídias sociais. Por meio de uma revisão bibliográfica sistemática, com apoio de ferramentas de inteligência artificial, 122 artigos em inglês e português sobre o tema foram analisados.
Orientador: Marcus Abilio Gomes Pereira
Coorientador: Manoel Leonardo Wanderley Duarte Santos
Ano de defesa: 2025

O episódio 202 do Aqui tem ciência tem produção e apresentação de Hugo Reis, edição de Alessandra Ribeiro e trabalhos técnicos de Cláudio Zazá. O programa é uma pílula radiofônica sobre estudos realizados na UFMG e abrange todas as áreas do conhecimento. A cada semana, a equipe apresenta os resultados de uma pesquisa desenvolvida na Universidade. 

Aqui tem ciência vai ao ar na frequência 104,5 FM e na página da emissora, às segundas, às 12h45, com reprises às quintas, às 17h45, e pode ser ouvido também em plataformas de áudio como Spotify e Amazon Music.

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