Da Inconfidência à Independência: Campus Cultural UFMG em Tiradentes promove seminário e exposição reflexivos sobre o Bicentenário da Independência do Brasil
O Campus Cultural UFMG em Tiradentes e a Fundação Rodrigo Mello Franco de Andrade são parceiros em mais um Festival Artes Vertentes - Festival Internacional de Artes de Tiradentes. O evento, que está na sua 11ª edição, começa na próxima semana com duas atividades realizadas em conjunto. Na quinta, 17, inaugura a exposição Ainda que tardia: Brasil futuros, que ficará em cartaz até 17 de fevereiro no Museu Casa Padre Toledo (Rua Padre Toledo, 158, Tiradentes). Já na sexta, 18, tem início o seminário Da Inconfidência à Independência: quais independências comemorar, quais independências sonhar?, cum duração de sete dias no Quatro Cantos Espaço Cultural (Rua Direita, 5, Tiradentes). A participação no seminário é gratuita para todos os públicos. Já a entrada no Museu será gratuita para participantes do festival entre os dias 17 e 27 de setembro e também para estudantes e professores do sistema de ensino público (básico, fundamental, médio e superior) e residentes em Tiradentes, São João del-Rei e Santa Cruz de Minas. Demais públicos pagam R$10,00 (R$ 5,00 meia). A programação completa está disponível em www.artesvertentes.com. Mais informações pelo (32) 3355 1257.
Sob o mote curatorial de (IN)DEPENDÊNCIAS, as atividades propõem ao público uma reflexão em torno das diversas noções de independência que ecoam no Brasil, passados 200 anos da Proclamação da Independência. Na exposição coletiva Ainda que tardia: Brasil Futuros, realizada na antiga residência do inconfidente Padre Toledo, em Tiradentes, os professores da UFMG Verona Segantini, Guilherme Trielli e Fernanda Brito e o curador e diretor artístico do Festival Artes Vertentes Luiz Gustavo Carvalho promovem um diálogo entre obras que pertencem à coleção permanente do Museu Casa Padre Toledo e à coleção Brasiliana da UFMG, além de obras de artistas contemporâneos brasileiros como Arthur Bispo do Rosário, Edgar Xakriabá, Ricardo Aleixo e Mabe Bethônico, Massuelen, Josi, Ivan Grilo e outros.
Em 2022, quando tanto se fala sobre Independência, é “oportuno retomar as tentativas de liberdade, comemorá-las e assumir sua qualidade de algo que é ou está incompleto e fazer uma pergunta: quais independências comemorar e quais independências sonhar?”, comentam os coordenadores. Para enriquecer este diálogo, foi realizado ainda um convite a alguns artistas para a criação de obras, oficinas e performances que proponham alguma reação e/ou reflexões às obras históricas que compõem a mostra.
Ciclo de ideias
Reunindo 40 artistas, pesquisadores e professores de todo o país, o seminário Da Inconfidência à Independência: quais independências comemorar, quais independências sonhar? terá onze mesas-redondas, palestras e conversas que colocam em cena outras versões da história – versões dissidentes, contraculturais, decoloniais, sobretudo por meio de vozes historicamente silenciadas em nossa sociedade.
No dia 18, às 16h, Cristino Wapichana, Ricardo Siri e Eliane Brum participam da primeira mesa-redonda intitulada “Terras indígenas, guerras de invasão”. Com mediação de Lorena Anastácio, eles vão abordar questões históricas e políticas que atravessam contemporaneamente a causa indígena, os direitos constitucionais, de reconhecimento e defesa dos territórios e as condições para a permanência da vida no planeta.
No dia 19 de novembro, às 15h, o professor da Universidade de Santa Catarina José Antônio Kelly Luciani ministrará a palestra “Sobre a anti-mestiçagem”, que explora o contraste, diferenças, e complementaridades entre as ideias de mistura e transformação socioculturais implicadas na teoria e ideologia nacional (de vários países Latino-Americanos) da mestiçagem e as formas de mistura e transformação descritos para alguns povos indígenas.
No dia 20 de novembro, às 15h, a reitora da UFMG Sandra Regina Goulart Almeida ministrará a palestra “Pode o subalterno falar?”, tomando de empréstimo o título do famoso ensaio da crítica literária e feminista indiana Gayatri Chakravorty Spivak, para compartilhar reflexões sobre essa obra seminal dos estudos pós-coloniais e sua relação com o contexto brasileiro contemporâneo.
No dia 23, às 10h, José Luiz de Oliveira (UFSJ), Manuel Jauará (UFSJ), mestre Prego (Congado Nossa Senhora do Rosário e Escrava Anastácia) e Padre Mauro participam de mesa-redonda “Quilombo: território e resistência”. Os territórios quilombolas, tal como os territórios indígenas, enfrentam diariamente os avanços predatórios do capital, que imprimem em nossa história e na história mundial contínuas ondas de violência e destruição. Conjugado com o capital, o Estado expropria e produz a extinção de etnias e grupos sociais (indígenas, ribeirinhos, quilombolas) que ao longo do tempo despontam com suas formas alternativas de vida, cultura e organização social. Esta mesa nos oferece a oportunidade para refletirmos sobre as lutas e resistência de quilombolas por suas formas de expressão cultural, territórios e vida Às 15h30, os escritores Mia Couto (Moçambique), Tal Nitzán (Israel) e Tierno Monénembo (Guiné) participam da mesa-redonda “Independência em outras terras”.
No dia 25 de novembro, às 10h, a mesa intitulada “Autonomia por meio da arte”, terá participação de Rogério de Almeida (Prefeitura Municipal de Tiradentes), Maria Raquel Fernandes (Museu Bispo do Rosário Arte Contemporânea, Rio de Janeiro), Isis Bey e Ísis Alcântara (Ação Cultural Artes Vertentes). A partir da Ação Cultural Artes Vertentes realizada pelo Festival Artes Vertentes em Tiradentes e das atividades realizadas pelo Campus Cultural UFMG, esta mesa propõe uma reflexão sobre autonomia e formação de cidadãos críticos através da arte. Às 15h30, acontece outra mesa-redonda: “Democracia, populismos e polarização”, com Anthony Pereira (Kings College, Londres) e Oswaldo Amaral (UNICAMP). Segundo o Democracy Matrix, um projeto de pesquisa sediado na Universidade de Würzburg, na Alemanha, o número de “democracias robustas” no mundo diminuiu desde 2017. Uma das supostas causas da decadência democrática é o “populismo”. O número de governos populistas no mundo quase dobrou nos últimos quinze anos, e a qualidade democrática deteriora sob esses governos. É improvável que o populismo desapareça... A questão agora é: o momento populista se transformará em uma era populista – e colocará em cheque a própria sobrevivência da democracia liberal?
No dia 26 de novembro, às 10h, acontece a mesa “Natureza, educação, ciência e estado”, com a participação de Bárbara Freitag (UnB), Thais Nívia de Lima Fonseca (UFMG) e Mary del Priore. Às 15h, João Guilherme Ripper (Sala Cecília Meireles, Rio de Janeiro) e Chico Pelúcio (Galpão Cine Horto) participam da mesa-redonda “Independência e sustentabilidade das atividades culturais”. Encerrando o dia, às 18h30 João Cezar de Castro Rocha (UERJ) ministrará a palestra “Meninos, eu não vi! O indígena na literatura brasileira”. Nela, literatura e artes plásticas estarão em diálogo para compor uma peça em dois movimentos. No primeiro instante, a presença indígena é nenhuma ou apenas rarefeita – e sempre enunciada pela perspectiva do outro. No segundo momento, as expressões indígenas se afirmam a partir de sua própria voz.
No último dia, 27 de novembro, às 10h, Duda Salabert, Ricardo Domeneck e Luciana Walther (UFSJ) participam de mesa-redonda “Mesmo o silêncio gera mal entendidos”. Às 16h30, Kássia Borges Karajá (UFU), Marcela Telles de Lima (UFMG) e Telma Borges irão conversar sobre a mulher e as independências na mesa redonda “Segundo sexo, feminismos plurais: resistências e lutas”. Esta mesa refletirá sobre a condição da mulher na vida contemporânea brasileira, considerando também, de uma perspectiva histórica, os silenciamentos e as inúmeras formas de violência que a sociedade patriarcal brasileira impõe às mulheres, sobretudo às mulheres indígenas e às mulheres pretas e pardas. Além de um balanço sobre o preconceito e a violência contra as mulheres, a mesa oferecerá um panorama sobre as lutas cotidianas de feminismos plurais, sua resistência e sua memória, a um só tempo marcadas pela potência de imaginar utopias possíveis para um mundo por vir e pela precisão de suas estratégias de atuação política e criação estética.
Sobre o Campus Cultural UFMG em Tiradentes
O Campus Cultural UFMG em Tiradentes foi criado em 2011, a partir de um Termo de Cooperação entre a UFMG e a Fundação Rodrigo Mello Franco de Andrade (FRMFA), e desenvolve ações culturais em três espaços localizados no centro histórico da cidade. A Fundação, vinculada à universidade desde 1997, é uma fundação de apoio à cultura da UFMG, contribuindo com a gestão de projetos de diferentes unidades e iniciativas.
Atualmente, integram o Campus: o Centro de Estudos e Biblioteca, que reúne importante acervo bibliográfico adquirido pela UFMG e FRMFA; o Quatro Cantos Espaço Cultural, destinado à realização de exposições e outras atividades artísticas e culturais; e o Museu Casa Padre Toledo, um espaço de reflexão, de construção da memória e de valorização do patrimônio referente à Inconfidência Mineira.
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