Cultura UFMG

Mostra discute Cinema e Educação no Centro Cultural UFMG

Mostra discute Cinema e Educação no Centro Cultural UFMG

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Até o final de 2023, a Mostra Pensar o Cinema, Pensar a Educação exibirá filmes e promoverá debates sobre as relações entre audiovisual, educação e processos criativos
 
Quase todo mundo já deve ter assistido uma aula em que o professor ou a professora exibiu um filme para ilustrar alguma matéria que estava ensinando e, em seguida, discutiu-se o tema daquela produção. O uso do audiovisual em sala de aula não é uma novidade na educação brasileira, porém o debate, em geral, se limita ao tema do vídeo, e não sobre a forma ou as imagens do filme. A proposta da Mostra Pensar o Cinema, Pensar a Educação é justamente mudar essa realidade e explorar as potencialidades na relação entre cinema e educação. 
 
Ao todo, serão nove sessões de filmes, uma por mês, no Centro Cultural UFMG, seguidas de rodas de conversa que abrem espaço para discutir as possibilidades de experiências estéticas e docentes dos filmes. A primeira delas aconteceu dia 30 de março, com a exibição do documentário  Costuras (2019), de Thiago Rosado. O documentarista é quem assina a curadoria da mostra.
 
Mestrando em Educação pela UFMG e coordenador do programa de extensão Pensar a Educação, Pensar o Brasil, da Faculdade de Educação da UFMG (FaE), Rosado conta que a maioria das produções exibidas são curtas-metragens, com temas que transitam entre memória escolar, infâncias, trabalho no campo, escola, cotidiano de pessoas indígenas, crítica à educação mercantilizada, aos processos de formação do Brasil atual, racismo, fome, arquivos históricos e seus desdobramentos, envelhecimento, pobreza e política.

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Entrevista Thiago Rosado

 
Conversamos com o documentarista Thiago Rosado sobre a proposta e a curadoria da mostra Pensar o Cinema Pensar a Educação.
 
“A mostra é uma atividade realizada pelo Estúdio de Produção Audiovisual, um projeto vinculado ao Programa Pensar a Educação, Pensar o Brasil . No ano passado o Centro Cultural da UFMG abriu chamadas para o projeto CineCentro e eu vi uma oportunidade de articular alguns filmes e pessoas para que a gente pudesse ao longo desse ano de 2023 exibir filmes e conversar sobre cinema, processos criativos e educação. Ela foi elaborada por mim e eu convidei alguns parceiros: o Laboratório e Arquivo de Imagem e Som (LAIS) também da FaE, coordenado pela professor Clarisse Alvarenga, e o pesquisador e realizador Gustavo Jardim. A ideia é simples e potente, assistir filmes e conversar sobre eles depois, elaborando pensamentos sobre as imagens com pessoas envolvidas na área de cinema e educação e com público presente. Me motivou também o fato de que as exibições serão feitas no Centro Cultural da UFMG que fica na região do baixo centro.
 
 
 
Como a mostra dialoga com o programa "Pensar o Brasil, Pensar a Educação"?
 
O programa de extensão, Pensar a Educação, Pensar o Brasil tem 15 anos de existência e articula alguns projetos que desenvolvem atividades em educação e comunicação, com o público alvo predominantemente de professoras da educação básica, alunos de licenciatura e interessados em educação. Ao longo de todos esses anos temos feito todo esforço possível para elaborar reflexões sobre uma educação brasileira de qualidade e evidenciar as autoralidades das pessoas envolvidas na educação, sobretudo professoras. O caráter extensionista visa desenvolver saberes e conhecimentos com o restante da sociedade, e neste caso a Mostra é um desses lugares possíveis, um momento de troca direta com público com objetivo de pensarmos juntos questões importantes que relacionam o cinema, a educação e o dia a dia das pessoas.
 
 
Como foi o processo de escolha dos filmes e que tipo de produção está na mostra? 
 
A escolha teve como critério pensar filmes que tivessem abertura para se discutir cinema, educação, processos criativos, construção de saberes, territorialidades, pensamentos críticos em relação ao mundo que vivemos, enfim, são filmes que não estão no circuito da indústria do cinema, que não são vistos em TV aberta, tampouco compartilham de uma lógica comercial. A maioria tem uma linguagem de documentário, mas a verdade é que também vão experimentar modos dissidentes de fazer cinema, de pensar as imagens, acho que estão menos interessados em se posicionarem como documentários e mais em provocar os limites daquilo que a gente aprendeu que é um bom cinema. Eu sou suspeito pra dizer, mas a seleção está incrível e vai colocar a gente pra pensar em muitas coisas.
 
 
Como os filmes podem contribuir para o ensino?
 
Essa pergunta é muito boa, porque existe um imaginário de que o cinema se relaciona com a educação quando o professor passa algum filme na aula para discutir a matéria que ele está ensinando, mas em muitos casos depois que o filme acaba não se discute mais as imagens, ou se fala apenas de aspectos gerais do conteúdo que se relaciona com a disciplina. Lembro uma vez um professor de geografia que eu tive passou um documentário chamado “Uma Verdade Inconveniente”, assim que o filme acabou ele desligou a TV e começou a falar sobre crise climática, mas em nenhum momento ele provocou uma discussão sobre como o filme foi feito, como as imagens apareciam na tela, as cores, os objetos. Bom, o professor tem autonomia para desenvolver suas atividades da maneira que quiser, mas nós estamos interessados em pensar o Cinema de uma forma mais profunda, que provoque uma experiência estética em quem assiste, ou seja, que articule possibilidades de ver e perceber o mundo de outra forma. Nesse sentido o cinema tem um mundo infinito para se pensar o ensino na escola, desde as cores que aparecem, as imagens, as letras, a voz, a distância que a câmera está daquilo que filma, a câmera parada, em movimento, as imagens do filme que suscitam sentimentos e sensações únicas em cada um, etc. Tem um texto da Anita Leandro que eu amo, se chama “Da imagem pedagógica à pedagogia da imagem”, e o movimento é exatamente esse, sair de uma imagem pedagogizante que quer explicar tudo e subestimar o espectador, à uma pedagogia da imagem que vai nos provocar modos de relacionar as imagens e o mundo em um processo formativo, crítico, palpável, como diz a professora Clarisse Alvarenga, um cinema ao alcance das mãos. 
 
O documentário Costuras, que abre a Mostra, parte das memórias escolares de 4 personagens. Porque você decidiu trabalhar com a memória?
 
O filme Costuras foi realizado em 2019 e logo em seguida a sua estreia veio a pandemia, portanto essa será a primeira exibição pública do filme, 3 anos após a sua criação, estou animado. Na época do filme, eu estava pensando muito que as memória escolares são temas presentes no nosso dia a dia, que a gente sempre conta histórias de coisas que vivemos no tempo de escola, e que as memórias são comum, como a fila pro almoço no recreio, as gincanas, pedir a professora para ir beber água, o caminho para escola no ônibus escolar, etc. Daí eu pensei que essas memórias poderiam ser potentes em um filme, que trariam reflexões importantes dos nossos processos de aprendizagem. Então eu comecei a elaborar o filme e convidei vários amigos pra fazer comigo. Fizemos uma chamada pública pedindo que as pessoas enviassem, em texto ou áudio, casos e histórias de seus tempos de escola, e pra minha surpresa mais de 60 pessoas enviaram material. Gente de vários cantos do Brasil e de outros países também. Com essas histórias em mãos, nós da equipe começamos a desenvolver o roteiro tentando manter exatamente as mesmas palavras que nos foram enviadas e fazendo uma “Costura” entre todas elas. É um filme bonito, poético e que eu me orgulho de ter feito, junto com toda equipe.
 
 
A Mostra Pensar o Cinema, Pensar a Educação está em cartaz no Centro Cultural UFMG - Av. Santos Dumont, 174 - Centro - BH | MG.  A mostra é aberta para todos os públicos, sobretudo para as pessoas que querem pensar as pedagogias presentes no cinema em seus trabalhos de pesquisa. O evento integra o projeto CineCentro, tem a entrada gratuita e classificação livre.

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