55º Festival de Inverno UFMG destaca o papel da cultura nas disputas políticas do Brasil
Evento será realizado no campus Pampulha e nos espaços culturais da UFMG com entrada gratuita; apresentações culturais, oficinas, exposições, mesas redondas e lançamento de livros fazem parte da programação
De 19 a 27 de julho, a UFMG realiza a 55ª edição de seu tradicional Festival de Inverno. De volta ao formato 100% presencial, o evento vai promover conversas, shows, performances e mostras de diferentes manifestações culturais do país, em uma programação gratuita e aberta ao público, que poderá ser consultada em www.ufmg.br/festivaldeinverno. Neste ano, o evento será realizado em parceria com o 22º Congresso Internacional de Estética - promovido pelos programas de Pós-Graduação em Filosofia e de Artes da UFMG -, que ocorrerá entre os dias 24 a 28 de julho na Universidade. As atualizações do festival poderão ser acompanhadas por meio das redes sociais: facebook.com/festivalufmg e instagram.com/festival_ufmg.
Em 2023, o Festival de Inverno UFMG tem como tema Emergências e insurgências: estética, políticas e culturas. A proposta é reconhecer a estética - no sentido filosófico - como espaço de disputa política no Brasil contemporâneo e a centralidade da cultura nesse embate. “Essa relação entre estética e política nunca esteve tão evidente quanto nesse momento”, explica o pró-reitor de Cultura da UFMG e um dos coordenadores do Festival, Fernando Mencarelli. “Nos últimos anos, obras de arte, performances e manifestações tradicionais foram, e continuam sendo, alvo de ataques, que tomam formas variadas, sempre em torno de uma pauta que projeta para o país um contorno extremamente conservador, marcado por traços autoritários, e que reconhece o campo estético como campo de disputa. O ataque a Brasília em 8 de janeiro, por exemplo, gerou imagens impactantes de destruição real e simbólica”.
A reitora Sandra Regina Goulart Almeida avalia que as universidades exercem papel fundamental na discussão de um projeto de país que tenha a cultura como dimensão central. “Precisamos pensar a cultura como direito, instrumento de inclusão e de combate ao autoritarismo. Isso está na gênese da UFMG. Nosso primeiro reitor, Mendes Pimentel, dizia que ‘a Universidade jamais será cúmplice de tiranias’. Esse é o traço fundamental do nosso ethos”, diz a reitora.
Durante os 8 dias de evento, o público poderá acompanhar essas discussões por meio de uma programação diversificada, que inclui mesas redondas, lançamento de livros, oficinas e uma residência. Haverá ainda três exposições e doze apresentações artísticas, entre shows e performances. As atividades serão realizadas nos espaços culturais da Pró-reitoria de Cultura da UFMG (Procult): Centro Cultural UFMG, Conservatório UFMG, Espaço do Conhecimento UFMG, Espaço Acervo Artístico UFMG e também em outros locais no Campus Pampulha.
MC Colombiana é uma das representantes da cultura Hip Hop no 55º Festival de Inverno UFMG
Estética, políticas e culturas
Na Filosofia, o conceito de estética está associado aos estudos da criação e apreciação dos valores estéticos da arte, da natureza e da vida cotidiana, além das relações desses valores com a vida econômica, política e social. “As discussões sobre a arte, a beleza e nossos modos de percebê-las remontam aos primórdios da filosofia, na Grécia Antiga. Hoje, mais do que nunca, a estética é a emissária de uma urgente renovação do pensamento conectado a demandas sociais, políticas e culturais que extrapolam em muito o âmbito acadêmico e estão a clamar por uma necessária conexão com os movimentos oriundos da própria sociedade”, explica Rodrigo Duarte, professor do Departamento de Filosofia da UFMG e presidente da Associação Internacional de Estética. “Nesse sentido, a parceria entre o 22⁰ Congresso Internacional de Estética e o 55⁰ Festival de Inverno da UFMG é uma oportunidade perfeita para a aproximação da estética filosófica com a prática da cultura no seu sentido mais amplo e frutífero”.
Segundo Mônica Medeiros Ribeiro, pró-reitora adjunta de Cultura, “são as ações artísticas e culturais que consideramos disruptivas o suficiente para contribuir com o movimento de retomada da democracia. O recorte que essas ações promovem no espaço-tempo da vida viabilizam experiências sensíveis, que promovem, como nos diz Jacques Rancière, “a partilha do mundo comum”. O Festival de Inverno assume, portanto, esse lugar — espaço-tempo de co-existência — tecido de afetos que fazem pensar e agir o mundo.”
Assim, a 55ª edição busca trazer para o debate as diferentes culturas que praticam e compartilham outras economias, políticas, sociabilidades e poéticas que se traduzem em outras estéticas. Dentro desta proposta, o festival compartilha imagens e ecoa vozes resistentes que se somam à emergência vigorosa dos movimentos de decolonização, da afirmação do bem comum, da pluralidade epistêmica e da defesa da democracia que fortalecem o país que podemos e devemos ser.
Na programação, veremos trabalhos como da artista amazonense, Uýra, que utiliza o corpo como suporte para narrar histórias de diferentes “Naturezas” com a performance Espiral da Morte; a herança africana de Maurício Tizumba no espetáculo Galanga Chico Rei em um formato adaptado especialmente para o evento; a cultura urbana de resistência da mc Colombiana e do rapper Radical Tee; a exposição Respirar, de Shirley Paes Leme, que utiliza filtros de ar condicionado para refletir sobre a vida cotidiana, entre diversas outras atrações e manifestações artísticas.
Amaro Freitas abre o Festival de Inverno UFMG com suas experimentações no piano solo
Abertura com Amaro Freitas
A abertura do Festival será no dia 19 de julho, quarta-feira, às 19h30, no Conservatório UFMG, com apresentação do pianista pernambucano Amaro Freitas. Um dos grandes nomes do jazz contemporâneo, Amaro, que também é compositor, se apresenta em formato solo, num show que vai além do sempre predominante samba jazz e volta-se para a cultura nordestina, traduzindo o frevo, o baião, o maracatu, a ciranda e o maxixe para a linguagem do jazz moderno.
Mais cedo, às 14h, Freitas inaugura as atividades formativas do festival com o workshop O piano moderno na rítmica afro-brasileira, também no Conservatório UFMG. No minicurso, o pianista abordará temáticas que envolvem produção musical e o seu processo criativo e de improvisação. Ele também fará um estudo de caso, com uma de suas músicas e portanto é recomendado que os participantes levem algum instrumento para interagir com o pianista. As 40 vagas serão preenchidas por ordem de chegada.
Sobre o Festival
O Festival de Inverno UFMG, criado em 1967, é realizado anualmente pela Pró-reitoria de Cultura da UFMG. Tradição da capital mineira e referência nacional, o objetivo do evento é promover uma interlocução entre universidade e sociedade, aliando arte e cultura contemporânea de ponta às manifestações culturais da tradição.
Com 57 anos de existência, o festival se consolidou em Belo Horizonte em 2014, após passar por cidades como Ouro Preto, Diamantina, São João del Rei e Poços de Caldas. O Festival favoreceu o nascimento de grupos artísticos como o Galpão, Corpo, Oficcina Multimédia, e Uakti. Sua realização em Belo Horizonte também inspirou a formação de outros festivais, como o Internacional de Dança (FID) e o Internacional de Teatro (FIT).
Em junho de 2021, recebeu da Associação das Universidades do Grupo Montevidéu (AUGM) o diploma de distinção em razão das boas e inovadoras práticas da UFMG no âmbito da colaboração com governos locais. Esse reconhecimento, na categoria Gestão cultural, reforça o histórico de ações potentes e transformadoras que o evento promove na área da cultura universitária e seus impactos e repercussões sociais.
55º Festival de Inverno UFMG - Emergências e insurgências: estética, políticas e culturas
19 a 27 de julho de 2023
Locais:
Centro Cultural UFMG, Conservatório UFMG, Espaço do Conhecimento UFMG, Espaço Acervo Artístico UFMG e Campus Pampulha.
Programação completa no site:
Toda a programação é gratuita.
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