Entrevista

Universidade atenta a demandas da sociedade

A instituição deve manter olhos e ouvidos abertos para perceber que a ela cabe um papel social estratégico no desenvolvimento do país

Alessandra Ribeiro

Fotos: Foca Lisboa
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Para Ronaldo Pena, a  universidade precisa estar atenta às demandas da sociedade brasileira

Conceito que, no passado, era associado quase que exclusivamente à qualidade dos programas acadêmicos, dos projetos e pesquisas desenvolvidos pelas instituições de ensino. Mas o tempo mostrou que este conceito precisa ultrapassar fronteiras e se aproximar da dimensão social. Em outras palavras, a universidade não pode ser um centro de excelência isolado e atento apenas às próprias demandas. A instituição deve manter olhos e ouvidos abertos para perceber que a ela cabe um papel social estratégico no desenvolvimento do país.

No cargo de reitor da UFMG desde 2006, o professor Ronaldo Tadêu Pena, PhD em Engenharia Elétrica pela Universidade do Texas, nos Estados Unidos, e atual professor titular do Departamento de Engenharia Eletrônica da UFMG, soma quase 35 anos dedicados à universidade. Na metade do mandato, comanda a implantação de mecanismos de inclusão no vestibular da UFMG, com bônus para candidatos negros e oriundos de escolas públicas, e o crescimento da universidade por meio do Reuni, o Plano de Reestruturação e Expansão das Universidades Públicas. Acompanhe a entrevista que ele, em seu terceiro concurso vestibular como dirigente da UFMG, concedeu à revista Diversa.

Diversa Vestibular -  Professor Ronaldo Pena, pensando no candidato ao vestibular, como o senhor definiria a UFMG? Que universidade o futuro estudante vai encontrar?
Ronaldo Pena - A UFMG é uma das universidades públicas mais importantes do país. Uma referência, entre as 500 melhores universidades do mundo, e se aperfeiçoa cada vez mais, com uma excelência bem distribuída. Não temos áreas deficientes, o que é resultado de uma conjugação de excelência com relevância. Temos projetos no nível das melhores universidades do mundo, tanto de ensino quanto de pesquisas. O que não pode ser separado da relevância, ou seja, da compreensão do lugar onde estamos e do tempo em que vivemos. Vivemos num país com muitas diferenças, que refletem em problemas sociais, e a universidade está atenta a isso. A UFMG busca aumentar a inclusão, fazer intervenções na sociedade, por meio de programas de saúde, hospitais, intervenções na área cultural e geração de renda na economia regional.

foto_ronaldo_pena.jpgDiversa Vestibular - Além da escolha do curso, que outros fatores devem ser avaliados pelo candidato na hora de escolher a instituição de ensino superior? Há diferença significativa entre estudar em uma universidade e em uma faculdade? O fator campus faz diferença?
RP - A pessoa deve levar em conta a qualidade da instituição, sua reputação, tradição, sua história. Hoje, existe um grande número de possibilidades. A instituição precisa ser capaz de proporcionar a formação necessária para que o candidato possa exercer sua profissão posteriormente. É evidente que uma universidade oferece muito mais oportunidades, no sentido do entrelaçamento de áreas, da possibilidade de o aluno fazer um curso, mas também ter disciplinas em outros cursos, em outras áreas, ter uma formação mais completa. O campus é continuação dessa idéia, é o espaço onde dentro do ônibus, no restaurante, encontram-se pessoas de todas as áreas. Esse diálogo é essencial na formação acadêmica.

Diversa Vestibular - Como o senhor avalia a expansão da UFMG por meio do Reuni (Plano de Reestruturação e Expansão das Universidades Públicas, do governo federal)? A universidade vai conseguir assegurar a qualidade do ensino com o aumento do número de vagas? Como o senhor avalia as críticas de quem se diz contrário ao Reuni?
RP - Não tenho a menor dúvida de que a universidade vai ter condições de manter a mesma qualidade no processo de expansão e reestruturação previsto no Reuni. É uma oportunidade de expansão com qualidade, porque prevê financiamento adequado. O sistema universitário público nunca viu um projeto como o Reuni. O governo definiu um volume de verbas suficiente e deu total autonomia às universidades. E nós seguimos a mesma lógica. Aderiram ao Reuni na UFMG as unidades que quiseram aderir. Todas as congregações entenderam que o projeto era muito positivo. Claro que, quando se expande, existe um período de transição. É preciso que toda a comunidade compreenda isso, para que possamos chegar a uma universidade maior, mais inclusiva, com mais recursos e, portanto, com melhores condições de cumprir sua missão.

Diversa Vestibular - Uma grande expansão se dá no Instituto de Ciências Agrárias, em Montes Claros. Como o senhor avalia esse crescimento na oferta de vagas no norte de Minas Gerais?
RP - É a universidade cumprindo seu papel. Saímos de um colégio agrícola e criamos, efetivamente, uma unidade acadêmica, que atualmente tem dois cursos de graduação e vai passar a ter seis, mais dois cursos de mestrado. Montes Claros é uma região que precisa de desenvolvimento na área do agronegócio. Vamos consolidar a vocação de um campus temático em Ciências Agrárias no norte de Minas Gerais.

Diversa Vestibular - A excelência da UFMG muitas vezes afasta potenciais candidatos, que temem a grande concorrência. De alguma forma, isso afasta a UFMG de seu objetivo?
RP - Este ano nós expandimos muitos cursos, há muitas portas de entrada. É claro que os jovens precisam estudar, têm que estar preparados. Temos feito movimentos no sentido de motivar mais jovens a tentar entrar na UFMG. Em 2008, cerca de 56 mil estudantes de nível médio participaram da Mostra de Profissões [evento realizado anualmente com o objetivo de apresentar as alternativas e trajetórias acadêmicas para os candidatos ao vestibular]. O estudante que não chega a tentar o vestibular precisa saber que a universidade tem mecanismos para manter sua permanência, apoio com bolsa-moradia, bolsa-alimentação... Se ele consegue entrar, não vai sair por causa de condição financeira desfavorável.



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Revista Diversa nº 15
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