Entrevista

 

foto_ronaldo_pena_2.jpgDiversa Vestibular - O senhor defende a necessidade de as universidades públicas adotarem mecanismos de inclusão mais eficazes? Que mecanismos seriam esses? Qual a opinião do senhor sobre as cotas raciais?
RP - Pessoalmente, acho que cota não é uma boa solução, é uma solução simplista, que reserva lugar. A UFMG optou por outro caminho. Todos aqueles que vêm de escolas públicas, desde a 5ª série, vão receber 10% [de bônus] sobre a pontuação que alcançarem no vestibular. Caso se declararem negros, receberão mais 5%. No total, o candidato negro que estudou desde a 5ª série na escola pública vai receber 15% de bônus. Nós entendemos que vai haver uma maior inclusão com esse processo, sem prejudicar a qualidade. Pelo contrário, estamos incentivando a qualidade.

Diversa Vestibular - O senhor defende que esses mecanismos sejam específicos de cada instituição ou curso, ou seria possível pensar em mecanismos de inclusão universais? A sociedade, de forma geral, parece avaliar o ritmo de adoção desses mecanismos como moroso. O senhor concorda?
RP - Uma característica da instituição universitária, em qualquer lugar do mundo, é a autonomia. A universidade tem que ser capaz de analisar quem é o público, quais são suas condições, as do candidato, as restrições, os vínculos regionais, o nível de emprego, como são as famílias, e então estabelecer o processo para a inclusão. É possível até se estabelecer metas para todos, mas, como chegar à meta tem que ser uma solução local. A proposta da UFMG foi implantar esses mecanismos de inclusão em quatro anos, e fazer uma nova análise no terceiro ano. Agora, no Brasil, é uma coisa recente. Se concluímos que precisamos de mecanismos de inclusão hoje, certamente sempre precisamos. Então, realmente, demorou muito para isso.

Diversa Vestibular - Atualmente cerca de 60% dos inscritos no vestibular são oriundos de escolas públicas. Em contrapartida, 60% dos aprovados na UFMG estudaram em escolas particulares. Os mecanismos de inclusão recentemente adotados podem reverter este quadro?
RP - Nossas projeções mostram que vai se ampliar bastante a presença de alunos de escolas públicas, ou seja, de alunos mais pobres. Eu acredito que a distribuição também vai melhorar. O curso de Pedagogia noturno, por exemplo, tem uma presença grande de alunos de escolas públicas. Já na Medicina, a presença é muito pequena. Arquitetura, Economia, Engenharia de Controle e Automação, Odontologia... Vários cursos têm presença baixa de alunos de escolas públicas.  Com o critério do bônus, eu espero um grande impacto nesses cursos, já no próximo vestibular.

Diversa Vestibular - Qual a opinião do senhor sobre o ProUni (programa federal que concede bolsas de estudo para alunos carentes em escolas particulares)? Não seria mais adequado que o governo destinasse esse investimento ao aumento da capacidade do ensino público?
RP - No ProUni, um grande volume de recursos vem de renúncia fiscal. Com um recurso pequeno, o governo está colocando mais de 100 mil jovens nas universidades. O dinheiro que o governo colocou nesse projeto não geraria 100 mil vagas por ano no sistema público, em nenhuma hipótese. E esses jovens estão obtendo resultados muito bons e as primeiras turmas começam a se formar. Agora, é muito fácil ficar teorizando a distância. Para melhor avaliar o programa, basta perguntar ao aluno do ProUni se ele está satisfeito.

Diversa Vestibular - O senhor acredita que o vestibular é realmente o mecanismo mais adequado de acesso ao ensino superior?

RP - Em qualquer lugar onde a demanda é maior do que a oferta, precisa haver um mecanismo para decidir quem vai ocupar as vagas. No Brasil, esse mecanismo é uma prova de conhecimentos. Pode haver outros elementos, como o bônus. Há quem defenda cotas, há quem defenda o Enem [Exame Nacional do Ensino Médio]. Não é possível considerar que o resultado do aluno ao longo do ensino básico possa definir [o ingresso no ensino superior], porque há muita variação na qualidade do ensino básico no país. Mas eu acredito que o vestibular precisa ser continuamente estudado e, eventualmente, modificado. Deve-se, cada vez mais, aumentar a exigência sobre a capacidade de comunicação, escrita e compreensão de leitura. Se a pessoa lê bem e se comunica bem, é uma indicação de que vai ser capaz de aprender. A UFMG tem se preocupado com o vestibular, prova disso é que nós fizemos mudanças neste ano [para o Vestibular 2009].

As responsabilidades da Reitoria

O reitor é o dirigente máximo de uma universidade. É quem representa e responde pela instituição, legalmente e nas situações em que a universidade é convocada a se pronunciar sobre questões de interesse público, ou recebe uma autoridade, por exemplo. A administração e a fiscalização das atividades da universidade também são de responsabilidade do reitor. A ele competem ainda o provimento e a coordenação da distribuição dos recursos, visando garantir as condições de infra-estrutura necessárias para o funcionamento das atividades universitárias. Na ausência do reitor, quem o substitui é o vice-reitor, também responsável pela supervisão administrativa da vida acadêmica e das atividades assistenciais da universidade. Outra competência do vice-reitor é representar a administração da universidade junto aos estudantes.

 



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Revista Diversa nº 15
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