Colaboração entre professores e alunos é estratégia para retomada das aulas nos cursos de ciências agrárias

As condições para a retomada das atividades dos cursos de graduação de ciências agrárias foram debatidas em fórum online, promovido na tarde desta quarta-feira, pelo programa Integração Docente: Ações Formativas para as Práticas Pedagógicas

No debate, o quinto a tratar do impacto da pandemia de Covid-19 sobre as aulas e dos processos para seu retorno, previsto para o próximo dia 3, docentes e estudantes do Instituto de Ciências Agrárias (ICA/UFMG), em Montes Claros, e da Escola de Veterinária, no campus Pampulha, abordaram os desafios e as possibilidades trazidas pelo regime de ensino de remoto emergencial, adotado pela Universidade. 

“Esse é o último fórum dessa fase preparatória para iniciarmos o ensino remoto propriamente dito, e nós fomos muito felizes na escolha dessa área. Nós temos aqui duas unidades onde os docentes já vinham repensando as suas práticas pedagógicas, buscando utilizar novas metodologias e tecnologias mesmo antes dessa pandemia”, explicou a pró-reitora de Graduação, Benigna de Oliveira na abertura do evento, mediado pela professora Cristina Alvim, coordenadora do Comitê de Enfrentamento ao Coronavírus da UFMG.

Sintonizados

Os professores Neide Judith Faria e Alcinei Azevedo, do ICA, apresentaram suas experiências com o uso de tecnologias digitais. Adepta de uma abordagem mais afetiva dos processo de aprendizagem, Neide criou, antes mesmo da pandemia, perfis em redes sociais para manter contato mais próximo com seus alunos, e um canal no YouTube, com vídeos sobre temas das disciplinas que ministra, recursos que tiveram seu uso intensificado em tempos de isolamento social. “É preciso acolher e entender a educação remota, enquanto não podemos fazer a presencial”, ressalta. 

Alcinei, responsável por ensinar estatística experimental, também mantém um canal no YouTube, desde fevereiro de 2019, com materiais sobre cálculos, resenhas de livros didáticos e pesquisas desenvolvidas nos programas de pós-graduação em Produção Vegetal e em Produção Animal, nos quais também leciona.

Os vídeos, gravados com câmera do notebook e quadro branco e editados com softwares como o RStudio e o OBS Studio, têm permitido ao professor auxiliar estudantes e internautas a compreender o passo a passo de contas estatísticas e a aprofundar as discussões com suas turmas. “Na pós-graduação, onde tenho dado aulas remotas há cerca de três meses, eu mando o link da aula com uma semana de antecedência. No dia da aula síncrona, os alunos trazem várias dúvidas, e eu consigo dar a disciplina online com leveza bem maior porque a maioria dos alunos já viu aquele assunto antecipadamente.”

Desafios na prática 

Os desafios e as estratégias para adaptar a matriz curricular do curso de Medicina Veterinária à nova realidade foram tema da fala da professora Joana Ribeiro, membro do Núcleo Docente Estruturante e da comissão de Aperfeiçoamento das Práticas de Ensino (Ativas) da Escola. 

A grande carga horária de atividades práticas, que corresponde a 57% das disciplinas obrigatórias; a necessidade de capacitação para os docentes lidarem com as novas tecnologias e de os alunos aprenderam a ser mais responsáveis pela organização de seus estudos, em curto período de tempo, foram alguns dos percalços enumerados pela docente, que listou também as ações adotadas para superá-los. 

O NDE e o colegiado enviaram modelos de planos de ensino para docentes e fizeram pesquisas com os discentes sobre o acesso à internet e a equipamentos para acompanhar as aulas. 

A Escola também obteve licença para o serviço G Suite for Education, tem preparado tutoriais para uso de ferramentas tecnológicas e promovido encontros virtuais para a troca de conhecimentos entre os professores da Unidade, como o Da Vet para Vet, realizado nos dias 15 e 16. “O evento também serve para formar uma rede de apoio porque o professor fica sabendo que o colega tem experiência numa plataforma, e pode pedir socorro a ele quando for utilizá-la”, coloca Joana.

Carlos Leal, coordenador do curso de Aquacultura, compartilhou a experiência bem sucedida da oferta virtual de disciplina de matemática para seus graduandos, no segundo semestre de 2019.  

A atividade remota foi recomendada como alternativa à matéria “Matemática aplicada à aquacultura”, ofertada presencialmente e responsável pelo maior índice de retenção dos alunos do curso, impedindo seu avanço para outros semestres de forma regular. O desempenho dos estudantes que cursaram a disciplina online, cerca de 60 % superior aos que frequentaram as aulas fisicamente, contribuiu para a revisão das práticas pelo colegiado.

“Aqui no nosso curso e em outras unidades também, nós temos costume de ver como professor bom, necessariamente, aquele que está fisicamente na sala de aula, mas não é sempre assim. O mundo muda, as pessoas mudam e, para nós do colegiado, a pandemia vai ser uma boa oportunidade para ver se alguma parte do curso pode ser ministrada continuamente de forma remota, principalmente aquelas que têm algum problema de retenção”, revela.

Acolhimento

O aluno do curso de Administração do ICA Wellyngton Poli, membro discente nas Comissões de Saúde Mental e de Acompanhamento de Volta por Ensino Remoto Emergencial e tesoureiro do Diretório Acadêmico (DA) do ICA, apresentou os resultados da pesquisa feita pelo órgão, sobre o perfil dos estudantes do Instituto. 

Aplicada entre o final de maio e começo de junho, a investigação contou com 451 participantes, cerca de 40% do corpo discente do campi, e constatou que expressiva parcela do alunado está em situação de maior vulnerabilidade social: 61% dos entrevistados são assistidos pela Fump, 26% responderam que não tinham acesso à internet com qualidade suficiente para acompanhar aulas a distância e 40% deles ou de seus familiares não aderiram ao distanciamento social. 

Na avaliação do graduando, a situação pede solidariedade e compreensão. “A gente deve ter sensibilidade acima de tudo, empatia e atenção dos docentes, porque tanto professores quanto alunos podem estar passando por situações difíceis”, diz Wellyngton, que sugere a ampliação dos atendimentos de apoio psicológico, a flexibilização dos prazos para a realização de tarefas e o diálogo constante.

Graduanda em Medicina Veterinária, Brisa Rodrigues apresentou as ações do programa Vet na Rede, inicialmente concebido para manter o contato dos estudantes com o conteúdo sobre a área, mas que se tornou também um momento de encontro e de acolhimento para a comunidade da Escola. 

A iniciativa inclui atividades como oficinas de artesanatos e de plantas medicinais, salas de bate papo e de café, e os eventos Percursos Formativos  e Diálogos de Aproximações, baseados nas discussões de temas da veterinária e da aquacultura,  acessíveis a estudantes de todos os períodos. 

A empresa júnior da Escola, Vet Jr., também tem organizado encontros, abertos ao público, entre os grupos de estudos da Escola e, em agosto, promove a VetWeek, com palestras para exposição dessas pesquisas.

Brisa destaca a importância do apoio da direção da Escola para o sucesso dessas experiências. “Foi muito bacana, esse envolvimento. Quando a gente  olha para tudo o que aconteceu, dá um calorzinho no coração porque todo mundo começou lá na primeira semana,  a partir de quase nada, e no decorrer do tempo foi virando uma ferramenta muito bacana de promoção e de extensão do conhecimento.”

Imagem: Raphaella Dias/UFMG