Com recursos simples e criatividade, professores adaptam experiências curriculares ao ensino remoto

Tecnologias de fácil acesso, criatividade e construções coletivas de soluções: essas são alguns dos ingredientes básicos para adaptar as experiências curriculares dos cursos graduação da UFMG ao ensino remoto emergencial, segundo professores que participaram de fórum online sobre o tema, realizado nesta quarta-feira.

Promovido pelo programa Integração Docente, o evento, que chega à sua nona edição, pode ser conferido na íntegra no canal da Coordenadoria de Ações Comunitárias (CAC) no Youtube, onde também estão disponíveis os anteriores.

O pró-reitor de Graduação, Bruno Teixeira, responsável pela abertura do evento, ressaltou a contribuição das atividades que vão além das disciplinas tradicionais, para a trajetória dos alunos, como, por exemplo, as Formações Transversais, ofertadas desde 2015, em nove opções.

“Elas representam uma oportunidade ímpar, por um lado, para docentes de diversas áreas de terem um espaço para produção e divulgação do conhecimento no âmbito do ensino de graduação, e para os graduandos terem uma formação científica, tecnológica, cultural e humanística de qualidade, dentro da sua área, mas também uma formação ética e cidadã, preparando os nossos estudantes para enfrentar os desafios do nosso país e da humanidade.”

O professor também convidou os colegiados a submeter propostas, até o próximo dia 22, ao Programa de Desenvolvimento de Ensino de Graduação, que tem o objetivo de estimular a incorporação de práticas pedagógicas inovadoras pelos cursos. Inédita, a iniciativa promovida pela Prograd distribuirá bolsas para graduandos e pós-graduandos envolvidos nesses esforços.

Acessibilidade como direito

Coordenadora da Formação Transversal em Acessibilidade e Inclusão, a professora Terezinha Rocha, da Faculdade de Educação, apresentou o escopo desse percurso formativo, que inclui 46 disciplinas, ministradas por cerca de 40 professores de 11 unidades acadêmicas, e falou sobre as soluções encontradas para lidar com os desafios do ensino remoto emergencial.

Para adequar as atividades ao novo contexto, foi elaborado um planejamento que incluiu pesquisas de recursos tecnológicos para garantir a acessibilidade dos conteúdos, análises e discussões sobre as práticas pedagógicas, seguidas de sua implementação e avaliação.

Entre as inovações adotadas, estão a divulgação de informações, nos perfis do Facebook e do Instagram da Formação, sobre ferramentas, softwares, serviços de acessibilidade e atendimentos para pessoas com deficiência; um projeto de seminários e de aulas abertas ao público, transmitidas pelo seu canal no YouTube e elaboração de um calendário com datas marcantes para pessoas com deficiência.

Todo o processo, explica Terezinha, foi norteado pela noção de que disponibilizar conteúdos acessíveis é um dever. “Nós entendemos a acessibilidade como um direito em oposição ao discurso de caridade, de que estaria sendo feito um favor às pessoas com deficiência. Pelo contrário, estamos buscando trazer representatividade, um diálogo amplo, democrático e trazendo as pessoas com deficiência para serem protagonistas nesse processo.” Atualmente, a UFMG conta com 534 alunos com deficiência.

Cartografias virtuais

Como o ensino de arquitetura e de urbanismo, campos de conhecimento tão ligados à cidade, pode se manter, com qualidade, num momento que estamos recolhidos nas nossas casas?

Utilizando recursos tecnológicos gratuitos, sensibilidade e muita criatividade, como têm feito os professores Fernando Speranza, da Universidade de Buenos Aires, e Eduardo Mascarenhas, da Escola de Arquitetura e Design, que atuam no projeto “Cartografias da cidade Arquisur: uma visão projetual do espaço urbano em tempos de pandemia”.

“Fizemos uma aposta por uma estratégia simples, mas muito, muito potente: um trabalho organizado a partir de ferramentas virtuais que todos conhecemos e que nos servem de pretexto para um triplo processo: de vinculação, imersão e ensino-aprendizagem. A particularidade que tem a nossa disciplina é que projetar se aprender projetando, então é também um processo de ensino de projeto”, explicou o professor argentino.

Recursos como Google Maps, YouTube, Facebook, o Padlet e o Miro, usados para organização gráfica de ideais e conceitos, além de plataformas de videoconferências foram alguns dos utilizados.

Idealizado com um ateliê, no qual 600 graduandos de cursos de Arquitetura e Urbanismo de 17 faculdades latino-americanas desenvolvem reflexões sobre o território e sua ocupação, a partir de registros como diários de bordos, apresentações, fotografias, criação de acervos sobre as cidades em que vivem os estudantes e sugestões de rotas para conhecê-las.

“É um trabalho muito mais de problematização acerca das cidades,  da cidade na pandemia, em que os alunos estabelecem percursos pelas cidades e apresentam para seus colegas. Alunos de Belo Horizonte apresentaram para alunos de Mar del Plata, por exemplo. Depois há uma troca, e cada um imagina questões e apresenta soluções e visões sobre a cidade dos outros. Essa trica é muito interessante, especialmente nesse momento do Covid. Eu sinto que foi emocionante”, avaliou Eduardo.

Abordando as manifestações artísticas e culturais elementos fundamentais para vislumbrar novas perspectivas para a própria existência, os professores Carlos Mendonça e Juarez Guimarães, do departamento de Comunicação Social, comentaram o trabalho desenvolvido pela Formação Transversal em Culturas em Movimento e Processos Criativos.

O percurso, associado ao grupo Núcleo de Estudos em Estéticas do Performático e Experiência Comunicacional (NEEPEC), se organiza a partir de conceitos como teatralidade, performance, comunicação e gênero e, atualmente, está centrado nas linhas de estudo sobre violência e subtração da vida da população LGBTQIA+ e autobiografia ou a ficcionalização de si, reflexões sobre como os sujeitos se posicionam e lutam por reconhecimento.

“Narrar é também produzir memórias, produzir espaços na arena pública de corpos muitas vezes esquecidos. Nos interessar realizar trabalhos que observem também como a arte e cultura são fundamentais para a criação e o estabelecimento de novas formas de vida”, justificou Carlos.

Além do seu papel formativo, o núcleo tem também fortalecido a sua vocação como um espaço de liberdade e de encontro, especialmente durante a pandemia de Covid-19, quando as tecnologias de informação têm ampliado as possibilidades de participação, inclusive para pessoas da comunidade em geral.

“O Nepec vem se tornado um lugar de acolhimento de muitos estudantes, homens e mulheres trans, que têm nos procurado para se envolver com as discussões das questões de gênero, de alunos gays, lésbicas, mas também héteros, que têm a possibilidade colocar as experiências e as vivências para serem debatidas junto com o nosso elenco de textos ao longo do semestre e de  eventos, para criar esse caldeirão em ebulição para esses temas que são muitos caros, não só para nós, mas para pessoas de várias áreas”, relevou Juarez.