Cartografias Sonoras – Espaço do Conhecimento UFMG
 
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A exposição Cartografias Sonoras propôs ao espectador e ouvinte uma ressensibilização da sua escuta na percepção dos fenômenos sonoros que o rodeiam. A mostra reuniu obras de Frederico Pessoa, Henrique Iwao, Marco Scarassatti, Pedro Aspahan e Pedro Durães de 19 de novembro de 2016 a 17 de fevereiro 2017.

A inusitada acústica de um vaso sanitário e a musicalidade tanto de ruídos urbanos quanto de utensílios domésticos foram alguns dos elementos presentes em obras da exposição, que estão inseridas no campo da arte sonora, formado entre música, performance, cinema e artes visuais. Em suas diferentes abordagens, discutem como o conhecimento do mundo que elaboramos pela escuta é ora apagado no domínio da visão e do pensamento racional; ora reduzido pela exposição a ruídos contínuos; ora tornado objeto de consumo irrefletido; ora esquecido na funcionalização dos objetos; ora homogeneizado, a partir da perda de referencial para apreender os diversos matizes. Todas as obras partem da experiência cotidiana da cidade, em seus espaços de troca, percursos, habitação, lazer e trabalho.


Obras
Em Deriva, de Marco Scarassatti, visitantes utilizaram capacetes especialmente construídos para a obra, que alteram a percepção da escuta, colocando-a no centro da experiência do caminhar.

Frederico Pessoa, também curador da exposição, apresentou a obra Em Família, que solicita ao espectador e ouvinte refazer o reconhecimento e julgamento de utensílios domésticos. Selecionados a partir de sua forma, matéria, textura, cor, timbre e uso, os objetos criam grupos sonoro-visuais particulares, as famílias do título, que podem criar composições musicais múltiplas, efêmeras, aleatórias e provocar uma experiência de escuta singular.

A prática da colagem ou do sampleamento, comum tanto no rap e no pop quanto na música eletroacústica e radiofônica desde o final dos anos 1940, é um recurso presente na obra Mulheres, em que Henrique Iwao apresentou uma coleção de recortes feitos a partir dos mais de 50 álbuns do compositor Chico Buarque de Hollanda. Retirados de seu contexto de origem, constroem, a partir da espacialização, uma composição musical em contínua transformação. A obra foi suporte para duas apresentações, uma delas combinada a uma palestra, de Iwao.

Pacote, de Pedro Durães, propôs uma experiência de estranhamento diante de sons, que, por estarem tão presentes no cotidiano de uma metrópole, acabam passando despercebidos. A partir de ruídos, aparentemente não musicais, gravados em espaços de trabalho pequenos e confinados, como lanchonetes, sapatarias, chaveiros e bancas de revista, o artista criou composições que colocam em jogo não apenas o incômodo de uma exposição forçada a esses sons, mas também as mudanças de estado perceptivo.

Já a inusitada acústica das privadas foi usada para propagar discursos de governantes que chegaram ao posto por meio da usurpação do poder e de uma retórica vazia na obra O Homem que Desapareceu ou Vasos Comunicantes, de Pedro Aspahan. Para ouvi-los, é preciso abrir a tampa e introduzir a cabeça nos vasos. Assim, o trabalho solicita uma escuta crítica, que consiga perceber a contradição entre ato e fala, no apagamento do bem comum em favor de um projeto próprio de poder. 

 

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