Edição Especial – Orgulho LGBTQIA+ : A Diversidade na História – Espaço do Conhecimento UFMG
 
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A Diversidade na História

26 de junho de 2020

 

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É muito importante, pelo momento que estamos passando, nos mantermos distantes uns dos outros. Entretanto, não devemos nunca nos distanciar de nossas celebrações! Você sabe o que comemoramos no dia 28 de junho?

No ano de  1969, em Nova York, o bar Stonewall Inn era conhecido por criar uma atmosfera acolhedora e tolerante para a comunidade LGBTQIA+. Porém, começaram a acontecer com frequência, de forma agressiva, batidas policiais no estabelecimento, que acabaram resultando em um levante da comunidade contra a perseguição policial. A rebelião ali instaurada representa um marco de resistência e resultou na criação das primeiras paradas do orgulho LGBTQIA+ pelo mundo. O dia 28 de junho tornou-se, então, o Dia do Orgulho LGBTQIA+.

Fotos do The New York Times sobre a Revolução de Stonewall:

A partir deste acontecimento, refletindo sobre representatividade e sobre o protagonismo de pessoas LGBTQIA+ na busca por direitos, percebemos que há, na história, diversas personalidades que lutaram pela diversidade e/ou tiveram suas sexualidades silenciadas. Neste texto, trazemos alguns exemplos que foram tratados na atividade “Diversidade na História”, realizada pelos mediadores do Espaço do Conhecimento UFMG.

 

Leonardo da Vinci (1452 – 1915)

 

Nascido próximo de Florença, na Itália, Da Vinci demonstrou, ainda na infância, um grande talento para o desenho e para as artes. Na adolescência, tornou-se aprendiz de um renomado pintor, Andrea del Verrocchio. Já adulto, ocupou diversas funções nas áreas de engenharia militar e arquitetura.

Da Vinci é conhecido pelas ilustres obras Mona Lisa e A Última Ceia, mas também criou esboços de diversas máquinas de guerra, como a metralhadora, em 1480. Criou também o primeiro protótipo para o paraquedas, que tinha uma forma triangular.

O autor Sherwin B. Nuland, no livro Leonardo da Vinci, destaca um estudo sobre Da Vinci realizado por  Sigmund Freud, em que afirma que Leonardo era homossexual. Mas atos homossexuais eram ilegais na Florença daquela época. Em 1476, Da Vinci, juntamente com mais três alunos do ateliê de Verrocchio, foram acusados de sodomia. Diante, no entanto, da falta de provas concretas que confirmassem semelhante acusação contra Leonardo e os outros três rapazes, além de um deles ser membro de uma família importante, o caso foi arquivado “com a condição de que não fossem feitas novas acusações”. Porém, algumas semanas depois, surgiu uma nova acusação, que foi retirada por falta de testemunhas, com a mesma condição anterior.  

Alan Turing (1912 – 1954)

Alan Turing é conhecido como o pai da computação. Foi um matemático britânico bastante influente, que atuou no desenvolvimento da ciência da computação, no conceito de algoritmo, no início da criação da inteligência artificial e desempenhou um papel importante na criação do computador moderno. Durante a Segunda Guerra Mundial, trabalhou para a inteligência britânica e conseguiu desenvolver técnicas para quebrar os códigos de comunicação nazista, impedindo vários ataques que a frota naval alemã planejara realizar.

Alan Turing era homossexual, um crime na Inglaterra de sua época. Ele respondeu a um processo criminal em 1952 e foi considerado culpado, tendo que escolher entre a prisão ou a castração química. Alan Turing se suicidou aos 41 anos, envenenado com cianeto por não aguentar o processo de castração ou o modo de vida ao qual tinha sido submetido.

Por muitos anos, ativistas LGBTQIA+ fizeram campanhas para resgatar a memória de Alan Turing, expondo o tratamento preconceituoso e desumano dado a ele. Somente em 2013, após uma petição com mais de 37 mil assinaturas, a rainha Elizabeth II concedeu a Real Prerrogativa de Perdão ao cientista.

João Francisco do Santos – Madame Satã (1900 – 1976)

João Francisco dos Santos, mais conhecido como Madame Satã, encantava o carnaval carioca com as suas fantasias. Artista negro, Madame Satã levava sua artes para as noites do bairro da Lapa e se auto intitulava transformista, palavra que surgiu bem antes dos termos drag queen ou crossdresser.

Dono da famosa frase “Eu fui homem algumas vezes e fui bicha outras vezes. Eu gostei mais de ser bicha”, assumiu-se homossexual aos 18 anos, em uma época que expressar sua liberdade, no Brasil, era muito mais complicado do que nos dias de hoje (em que ainda se observa uma enorme discriminação).

Sempre se impondo e se defendendo, tornou-se um grande ícone de resistência para a comunidade LGBTQIA+, mas suas atitudes foram motivo de alguns aprisionamentos.

26 anos depois de sua morte, no ano de 2002, foi produzido um filme que conta a história do ícone que Madame Satã se tornou, interpretado por Lázaro Ramos.  Para assistir ao trailer, clique aqui!

Frida Kahlo (1907 – 1954)

Frida Kahlo foi uma grande pintora mexicana. Aos 18 anos, sofreu um grave acidente que afetou todo o restante de sua vida, o que reverberou enormemente em suas obras e em seu fazer artístico. Em 1928, entrou para o partido comunista mexicano, assumindo a postura de uma mulher politicamente ativa. Casou-se com Diego Rivera, renomado moralista mexicano de seus tempos. Mantinham uma relação aberta , tendo casos fora do casamento.

Frida era abertamente bissexual, vivendo romances tanto com homens quanto com mulheres. Suas pinturas retratavam temas considerados como tabus, como o aborto, a sexualidade feminina, a dor, os padrões de beleza e a cultura popular do México. Ela não se importava com os estereótipos de gênero, sendo vista em fotografias de família vestida com trajes próprios dos homens de sua época e ressaltando seus traços tidos como masculinos.

Bayard Rustin (1912 – 1987)

Bayard Rustin foi um intelectual negro, gay e ativista do século XX. Nos anos 30, mudou-se para Nova York e se envolveu em grupos pacifistas e de protestos pelos direitos civis. Graças à sua resistência não-violenta e às suas habilidades oracionais, tornou-se um dos principais conselheiros de Martin Luther King Jr na década de 1960. Foi preso várias vezes por ser abertamente homossexual. 

Após a aprovação dos direitos civis nos Estados Unidos, Rustin se tornou o chefe do instituto  A. Philip Randolph, onde promoveu a integração de negros dentro do sindicato, ocupado anteriormente apenas por brancos. Próximo de sua morte, em 1987, estava em uma missão humanitária no Haiti.

Marsha P. Johnson (1945 – 1992)

Marsha P. Johnson foi uma mulher transgênero, drag queen, negra, prostituta, modelo e uma das principais referências LGBTQIA+ para os dias atuais. Em Nova York, Marsha frequentava vários bares simpatizantes das causas LGBTQIA+, participando, assim, da Revolta de Stonewall, quando esteve na linha de frente no confronto com a polícia, passando a ser conhecida como uma das “chamas de Stonewall”. Junto com sua amiga Sylvia Rivera, fundou a STARS, casa que oferecia abrigo a LGBT’s em situação de rua, lutando durante toda sua vida por essa causa.

Em 1992, seu corpo foi encontrado no rio Hudson. O caso nunca foi investigado e foi concluído como um ato de suicídio, mas seus amigos afirmam que Marsha foi vítima de um terrível assassinato.

Marielle Franco (1979 – 2018)

Marielle Francisca da Silva foi uma vereadora preta, feminista e lésbica. Nascida na favela da Maré, no Rio de Janeiro, graduou-se em Ciências Sociais e Administração Pública, e se tornou mãe aos 19 anos. Deu aulas no cursinho preparatório vestibular comunitário da favela da Maré. Foi eleita vereadora no Rio de Janeiro com mais de 40 mil votos.

Ativista pelos direitos das mulheres e das crianças, ficou conhecida por dar suporte e apoiar a causa dos direitos humanos aos favelados e aos profissionais da polícia. Em seu mandato na Câmara Municipal do Rio de Janeiro, aprovou cinco dos sete projetos propostos.

Entre os aprovados, estava a PL 72.2017, um projeto de lei batizado de “Dia da luta contra a homofobia, a lesbofobia, a bifobia e a transfobia” que foi inserido no calendário oficial do Rio no dia 17 de maio, dia em que a Organização Mundial da Saúde, em 1992, parou de considerar a homossexualidade como uma doença. Trabalhou como vereadora até ser brutalmente assassinada em 2018, crime cujos mandantes até hoje não foram formalmente identificados.

Rebecca Sugar (1987 – atualmente)

Rebecca Sugar é uma mulher bissexual, ativista LGBT, artista, animadora e compositora. Em seu desenho Steven Universo, retrata questões de gênero e de sexualidade de uma forma leve, mesmo quando os temas não são tão leves assim. Rebecca graduou-se na Escola de Artes Visuais de Nova York, onde produziu seu primeiro curta animado, Singles.

Seu primeiro trabalho no Cartoon Network foi no seriado Hora de Aventura, como revisora de storyboard, tendo reconhecimento pela qualidade de seu trabalho, sendo logo promovida a artista de storyboard. Foi nomeada ao Emmy por alguns episódio do desenho.

Durante a quinta temporada de Hora de Aventura, Rebecca deixou a equipe para se dedicar à sua própria produção, Steven Universo.

Duda Salabert (1981 – atualmente)

Duda Salabert é uma mulher transsexual, belo-horizontina, muito importante para o cenário LGBTQIA+ atual. Em 2018, foi a primeira mulher trans a se candidatar ao Senado, recebendo 350 mil votos, apesar de não ter sido eleita.

Duda é uma mulher lésbica e presidenta da ONG Transvest, que tem o objetivo de inserir pessoas trans na sociedade, oferecendo supletivo e pré-vestibular à comunidade. A ONG não recebe dinheiro do governo e oferece auxílio transporte aos seus alunos, com verba recolhida por meio de doações.

 


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