A atividade intelectual humana é sempre inventiva, criativa e artística. Todo conhecimento é, nesse sentido, uma construção, uma interpretação situada sobre o mundo.
Nosso conhecimento, disse Nietzsche, é humano, demasiado humano, para pretender algo como a objetividade ou o distanciamento dos fenômenos. Estamos sempre interpretando o mundo a partir de um jeito de ser no mundo. Além disso, o conhecimento está sempre em movimento, em criação, e também em disputa.
A confluência dos pensamentos de matrizes indígenas e africanas tem nos ensinado que o mundo ocidental possui uma perspectiva muito limitada sobre o humano e que a própria noção de humanidade foi utilizada para invisibilizar modos de vida que se distanciam da visão de progresso e de des-envolvimento dominantes. A produção de um humano des-envolvido, des-enraizado, está na base das crises sociais, econômicas e ambientais, e das múltiplas formas de violência perpetradas contra diferentes povos no passado e atualmente.
Por isso, hoje, para além de afirmar que nosso conhecimento é humano, devemos nos questionar de qual humano estamos falando. De que lugar falamos quando dizemos que conhecemos algo? Quais memórias e quais perspectivas compartilhamos quando julgamos conhecer o mundo? Essas perspectivas são únicas? Como outras perspectivas sobre o humano, a natureza e a vida podem ativar outras memórias e outros futuros possíveis para o conhecimento? É com estas perguntas que abrimos nossa jornada na exposição demasiado humano.