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Textos apócrifos: autoria errada e atribuição trocada

26 de julho de 2022

 

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“Eu gosto dos venenos mais lentos, dos cafés mais amargos, das bebidas mais fortes e tenho apetites vorazes por uns rapazes” disse certa vez Clarice Lispector. Na verdade, não! A escritora, um dos maiores nomes da literatura brasileira, também é uma das campeãs de citações equivocadas atribuídas a ela na internet.  Aliás, a frase acima é de outra escritora,  Bruna Lombardi, e consta no poema Alta Tensão, do livro “O perigo do Dragão”. Rio de Janeiro: Record, 1984. p.36. 

 

Clarice Lispector (Foto: Wikimedia Commons)

 

Esse tipo de situação é denominada texto apócrifo ou falsas autorias, também conhecidas como autoria errada ou atribuição trocada. São textos que circulam na rede, comumente atribuídos a um autor, mas que não pertencem a ele. 

 

Entre os autores que figuram no ranking de citações equivocadas na internet está o poeta, tradutor e jornalista gaúcho Mario Quintana, um dos importantes representantes do modernismo brasileiro. Para refrescar sua memória, ele é autor, entre outros, do Poeminho do Contra: “Todos esses que aí estão / Atravancando meu caminho / Eles passarão…/ Eu passarinho!”, no Caderno H, Mario Quintana: Poesia Completa, Editora Nova Aguilar, p. 257.

 

Mario Quintana (Foto: Dulce Helfer)

 

Poesia de Quintana em show sertanejo?

Quintana teve um poema erroneamente atribuído até por sertanejos famosos. Há algum tempo a dupla Bruno e Marrone nomeou um show de “Um dia”, inspirados em um poema homônimo que divulgaram como sendo do poeta gaúcho.  Em turnê  pelo país, a cada show, logo na abertura o tal poema era declamado  supostamente atribuído a Mario Quintana. Mas ele não é.  Á época vários jornais e sites destacaram essa parte poética e publicaram notícias validando que o show era inspirado em um poema de Quintana até no título. 

 

Assim, espalharam-se fake news sobre a obra do poeta. Se a informação tivesse sido checada, buscando a biografia do autor e referências bibliográficas, em poucos cliques seria possível descobrir que o poeta nunca escreveu tal conteúdo, e tratava-se de um texto apócrifo. 

 

Mas espalhar um texto com autoria trocada, não importam as circunstâncias e mesmo que não intencionalmente,  é desrespeito com o autor, seu patrimônio intelectual e seu legado. A situação é agravada pois a internet viraliza muito rapidamente, permitindo a distribuição de informação errada a milhões de pessoas em um curto espaço de tempo.

 

Todo cuidado é pouco

Para evitar espalhar  textos com autoria errada nas redes, o principal é sempre checar as informações antes de compartilhar, conferir em livros e demais bibliografias, creditando a autenticidade do texto. Dessa forma, é possível minimizar a difusão de falsas autorias e textos anônimos.

 

[Texto de autoria de Zirlene Lemos, assessora no Núcleo de Comunicação e Design]