De outros festivais: os 50 anos do Festival de Inverno da UFMG

Apresentação da peça “A Peste e o Intrigante”, do grupo Giramundo, na abertura oficial do 19º Festival de Inverno da UFMG, realizado em São João Del Rei em 1987. Foto: Eber Faioli. Acervo: Cedecom UFMG

[Apresentação da peça “A Peste e o Intrigante”, do grupo Giramundo, na abertura oficial do 19º Festival de Inverno da UFMG, realizado em São João Del Rei em 1987. Foto: Eber Faioli. Acervo: Cedecom UFMG]

A edição é a 49ª, mas o aniversário é de 50 anos. Para comemorar, o Festival de Inverno da UFMG oferece, de 28 de julho a 5 de agosto, 30 atividades, entre oficinas, minicursos e aulas abertas, e 20 apresentações culturais que vão ocorrer em diferentes espaços de Belo Horizonte e nas unidades da UFMG. A comemoração é dupla, já que coincide também com os 90 anos da UFMG.

Para abrir as comemorações quem assume a noite da abertura do Festival é o Grupo Galpão, formado nas oficinas do próprio Festival de Inverno de 1982. O grupo retorna aos palcos da UFMG para apresentar a peça De tempos somos. Ao longo da semana a programação cultural tem ainda concerto do Ars Nova Coral da UFMG, show Eras, do Coletivo Negras Autoras, e com o espetáculo teatral Isso te interessa?, da Cia Brasileira de Teatro.

As opções para as oficinas, minicursos e residências artísticas também são variadas. A programação tem atividades para todas as idades e perfis de público. As atividades envolvem dança, música e literatura e os saberes da cultura afro-mineira e brasileira e também indígena. Eu canto, porque o instante existe, Escrever sem doer, e Grafismo indígena e pintura corporal são algumas das oficinas oferecidas.

Residências artísticas

Duas residências visam à imersão dos artistas: a Oficina da Música Universal, com Itiberê Zwarg, do Rio de Janeiro; e a Oficina de Construção de Bonecos de Balcão, oferecida pelo grupo Giramundo, que também tem uma estreita relação com a história do Festival de Inverno da UFMG.

O Grupo Giramundo foi formado pelos professores Álvaro Apocalypse, Terezinha Veloso e Maria do Carmo Martins, a Madu, que lecionavam na Escola de Belas Artes da UFMG. Segundo Álvaro, seu fundador, o Festival de Inverno da Universidade atuou como um divisor de águas na trajetória do grupo. A peça “El Retablo de Maese Pedro”, produzida com bonecos em tamanho real durante o Festival de Inverno de 1976 , teve excelente repercussão. A partir de então, o grupo contaria com a parceria da UFMG e do Festival de Inverno para o seu funcionamento e financiamento parcial, até 1999.

Criação e Resistência

O Festival de Inverno da UFMG, um dos mais tradicionais eventos culturais de Minas Gerais e do Brasil, chega ao seu cinquentenário no mesmo ano em que a Universidade Federal de Minas Gerais completa nove décadas.

49º Festival de Inverno da UFMG – Poéticas de Transformação: Criação e Resistência

Realizada pela Diretoria de Ação Cultural da UFMG e com o tema “Poéticas de Transformação: Criação e Resistência”, a 49ª edição quer promover o diálogo entre dois conceitos aparentemente contraditórios, mas que juntos possibilitam a expressão da arte na capital mineira, como destacado no programa.

“Em um momento como o que vivemos, configura-se fundamental a existência de um espaço e um tempo para experimentar tal combinação, criação e resistência, para encontrar o alento de avançar, seguir adiante para realizar o realizável no trabalho sobre si e com o coletivo.”

50 anos, 49 edições

A primeira edição do Festival de Inverno foi realizada em 1967, na cidade de Ouro Preto. Ele foi criado por um grupo de professores da Escola de Belas Artes e da Escola de Música da UFMG, que buscavam aproximar a arte e os artistas do público.

Sobre a edição pioneira, escreve o professor aposentado da Escola de Belas Artes da UFMG, José Tavares de Barros, no Boletim UFMG de número 1239:

“Tive a chance de integrar o grupo que planejou o primeiro Festival de Inverno, em 1967. Naquela época de comunicações precárias, a viagem entre Belo Horizonte e Ouro Preto levava quase duas horas. A cidade histórica vivia ainda mergulhada nas tradições e nos rígidos costumes da antiga capital. Mas seu espaço barroco era essencial para a proposta renovadora de oferecer a estudantes do Brasil inteiro cursos livres de artes plásticas e música, do nível básico às especializações mais alentadas”.

Ouro Preto sediou o Festival de Inverno da UFMG até 1979, época em que o evento durava cerca de um mês. Edições do Festival também já ocorreram em Diamantina, São João Del Rei, Poços de Caldas e Belo Horizonte, local de realização do evento desde 2014.

O cinquentenário só não é percebido no número das edições porque o festival não ocorreu em duas ocasiões: em 1980, devido ao cerceamento do governo militar, e em 1984, quando uma greve de servidores e docentes inviabilizou o evento.

Considerado “celeiro da arte mineira”, o Festival favoreceu o nascimento de grupos artísticos como o Galpão, Corpo, Oficcina Multimédia, e Uakti. Sua realização em Belo Horizonte também desencadeou na formação de outros festivais, como o Internacional de Dança (FID) e o Internacional de Teatro (FIT).