O ato de ensinar carrega múltiplos sentidos. “É compartilhar sonhos e se sentir realizado com o sucesso dos alunos”, resume o professor Francisco Barbosa, que há 45 anos integra o quadro docente do ICB. Para a reitora Sandra Regina Goulart Almeida, a experiência docente é, sobretudo, um aprendizado. “Toda nova turma traz um diálogo diferente e experiências distintas”, afirma a reitora, que ingressou na Faculdade de Letras em 1995.

O “calouro” Frederico Lages, que iniciou apenas neste ano sua carreira na Faculdade de Odontologia, vê sua incursão pela sala de aula como um movimento quase natural. “Meus colegas sempre comentavam que eu tinha essa vocação para ensinar”, relata.

Os depoimentos de Francisco, Sandra e Frederico integram a campanha Ser professor, que estreou na semana do Dia do Professor (15 de outubro) nas redes sociais (YouTubeInstagram e Twitter) da Diretoria de Inovação e Metodologias (GIZ) da UFMG. Os oito primeiros vídeos já foram postados, e novas produções (quatro de cada vez) serão publicadas às terças e quintas-feiras.

Segundo a professora Maria José Flores, da Faculdade de Educação (FaE) e diretora do GIZ, 46 professores – entre docentes mais novos e os chamados decanos – enviaram seus vídeos opinando sobre o que é ser docente e relatando os caminhos que os conduziram à carreira docente.

“Percebemos grande diversidade e riqueza de experiências. O material configura um retrato da docência na consolidação do ensino, em uma universidade pública que é comprometida com a qualidade, o pensamento científico, a reflexão, a afirmação dos valores políticos e o entendimento do que é uma instituição pública”, observa a diretora.

Os professores participantes, de acordo com Maria Flores, mostraram seu comprometimento com o valor da universidade como espaço democrático de relevância social. “É visível que são sensíveis quanto à dimensão afetiva no trato com os alunos, cientes de que tal aspecto é fundamental para a permanência dos estudantes e, portanto, para a consolidação do direito à educação”, completou.

Segundo a diretora, a campanha Ser professor integra um esforço da UFMG de valorização da docência, reconhecimento simbólico e reverberação das ações dos profissionais. “Desde o início do ano, temos feito um movimento de encontro dos professores, de reflexão sobre o valor do ensino e o lugar que a docência ocupa nas atividades cotidianas das instituições de ensino superior”, relata.

Em março, o GIZ e a Pró-reitoria de Recursos Humanos (ProRH) realizaram uma atividade voltada para os docentes recém-ingressados na UFMG, em que foi apresentada a estrutura de gestão do ensino na universidade. O evento reuniu 150 novos professores, que foram convidados a falar sobre o significado da atividade. Seus depoimentos e fotografias estão sendo expostos em um painel no site do Giz.

Desafio sem precedente

No contexto da pandemia do novo coronavírus e da impossibilidade de realização de aulas presenciais, os professores foram desafiados, segundo Maria Flores, “de maneira nunca antes vista”, a oferecer respostas eficientes às novas condições de ensino proporcionadas pelo regime remoto.

“Foi preciso que eles se debruçassem sobre novas práticas de ensino, para dar conta da demanda inédita. Vimos um movimento muito bonito, intenso e forte nesse sentido”, observa.

Maria Flores conta que o GIZ acolheu os professores por meio do Programa de Integração Docente, movimento criado, segundo ela, “para que não se perdesse de vista a identidade docente no contexto universitário”. No site do programa, estão disponíveis textos, vídeos e outros materiais, publicados por alguns dos professores da UFMG, sobre as experiências de adaptação ao ensino remoto, que constituem a campanha Aulas inesquecíveis.

Na tarde desta quarta-feira, 14, três professores fizeram relatos dessas experiências em evento que integra a série de fóruns on-line promovida pelo Programa Integração Docente. Rogério Rodrigues, do Instituto de Geociências (IGC), falou de sua atuação como professor das disciplinas Fundamentos de geologia e Introdução à geologia. Ele conta que montou um simulacro de sala de aula dentro de sua casa, usando equipamentos tradicionais, como o quadro negro e o retroprojetor. “Quando tudo estava pronto, inclusive a iluminação do estúdio, deparei  com uma grande dificuldade: como gravar a aula olhando para uma câmera? Isso para mim foi uma angústia, uma dificuldade clara”, confessou.

A ajuda da família, de acordo com o professor, foi fundamental para superar a ansiedade e o medo. “Consegui gravar, e os alunos ficaram muito felizes e satisfeitos”, testemunhou.

‘Atando os nós’

Débora Balabram, da Faculdade de Medicina, relatou sua experiência como professora da disciplina Cirurgia 1. Normalmente, é nesse estágio que os alunos de Medicina têm o primeiro contato com as técnicas cirúrgicas, aprendem a realizar nós manuais, suturas e outras tarefas complexas.

“É preciso muita delicadeza para fazer um nó cirúrgico. Tive que me desdobrar para ensinar isso a distância”, conta. Para tanto, a docente pesquisou na literatura sobre como estão sendo ministradas, em todo o mundo, aulas de cirurgia. “Usei materiais simples como o fio dental para fazer os nós em tampas de latas, como as de cerveja, que, por serem extremamente leves, exigem muita delicadeza nos gestos”, descreveu.

O professor Armando Neves, do Departamento de Matemática, recorreu a um conto, de sua autoria, para ensinar Geometria analítica e álgebra linear (Gaal), disciplina ministrada para todos os cursos das ciências exatas.

“No meu departamento, temos uma equipe grande de professores, que trabalha em conjunto e divide as tarefas, como a elaboração de textos e de questões. Seria mais difícil assumir sozinho essa responsabilidade”, disse. Para o professor, o ensino remoto deixa a lição de que, por mais que se disponha de tecnologia e métodos modernos, a presença humana sempre será indispensável.

Sem receita pronta

A professora Fernanda Cimini, da Face, também enviou sua “aula inesquecível” para o banco da campanha. Sua experiência está relacionada ao ensino da disciplina Economia politica internacional, para graduandos do curso de Relações Econômicas Internacionais. Ela contou que, em suas aulas, buscou poupar os estudantes das resenhas escritas, optando por organizar debates em formatos de live.

“Com base em textos e em aulas anteriores, os alunos discutiram sobre os conteúdos que versaram sobre assuntos de interesse global, como movimentos raciais, questões de gênero, sistema monetário e financeiro, comércio internacional, teorias de desenvolvimento e relação-centro periferia. Percebi uma maturidade dos estudantes em suas análises que, em muitos casos, são mais interessantes do que as veiculadas pela mídia tradicional”, descreveu.

No próximo dia 22, será transmitida, pelo YouTube do Giz, uma webinar com egressos dos cursos promovidos pela Diretoria. Os professores vão testemunhar sobre os movimentos e possibilidades que criaram para manter o vínculo com os estudantes e as atividades da Universidade durante a vigência do regime remoto.

(Matheus Espíndola)