A versão final do DN foi aprovada na última terça-feira, 17 de junho, pela Câmara de Graduação. O documento, que pode ser acessado no site do Seriado UFMG, é destinado às escolas e aos professores da Educação Básica e à equipe de docentes da UFMG que estará encarregada da elaboração das provas da primeira etapa do processo, que serão realizadas em 14 de dezembro. O Seriado UFMG será uma forma adicional de seleção para os cursos de graduação e vai coexistir com o processo que combina o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e o Sistema de Seleção Unificado (Sisu) e com os demais processos seletivos existentes na instituição.

A versão preliminar do DN havia sido divulgada em meados de maio. Durante a Mostra Sua UFMG, realizada em 24 de maio, 745 professores de todo o estado de Minas Gerais estiveram reunidos no campus Pampulha em três sessões para a apresentação e apreciação do texto preliminar. Esses docentes receberam um formulário para avaliar o documento, e 270 responderam com sugestões. Entre os comentários, há muitos elogios ao DN e ao processo de escuta dos professores e das escolas, assim como algumas críticas e sugestões pontuais de aprimoramentos.

A reitora Sandra Regina Goulart Almeida exalta o diálogo com os professores e as escolas de educação básica. “Esse foi sempre o espírito desse processo de construção: aumentar e estreitar o relacionamento da UFMG com o segmento, especialmente em Minas Gerais. A própria opção por adotarmos o ingresso seriado teve o objetivo de garantir a troca com as escolas e professores, além de criar uma nova alternativa de seleção, democrática e inclusiva”, diz a dirigente, que também faz questão de valorizar o percurso de construção coletiva do processo dentro da Universidade.

O Seriado UFMG
O processo seletivo de avaliação seriada é uma modalidade própria de seleção de estudantes para ingresso nos cursos de graduação da UFMG, criada com o objetivo de oferecer mais uma possibilidade de ingresso. A participação em um processo seletivo não impedirá que o estudante participe também do outro processo, ou seja, um estudante poderá tentar seu ingresso tanto pelo Seriado UFMG quanto pelo Enem/Sisu. Assim como ocorre com o Enem/Sisu, o sistema de cotas para ingresso de estudantes da escola pública, pessoas negras, indígenas, quilombolas e pessoas com deficiência e de baixa renda também se aplica ao Seriado UFMG.

No Seriado UFMG, os estudantes serão avaliados em três etapas, cada uma delas relativa a cada ano do Ensino Médio (EM). Podem participar alunos de qualquer ano do Ensino Médio, pois a primeira etapa tem como referência o primeiro ano, mas os estudantes têm flexibilidade para iniciar um ciclo avaliativo independentemente do ano que estejam cursando. O processo também é aberto a egressos do EM e da Educação de Jovens e Adultos (EJA), independentemente do tempo passado desde a conclusão do curso.

 

Diretrizes embasadas
A elaboração das diretrizes para as provas tem como parâmetros a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), o Currículo Referência de Minas Gerais (CRMG), a Matriz de Referência do Enem e os Planos de Curso 2025 da Secretaria Estadual de Educação de Minas Gerais. De acordo com o documento, “tais currículos dialogam entre si, oferecendo referências de competências, habilidades e objetos de conhecimento derivados das disciplinas ou componentes curriculares a serem apropriados por estudantes ao longo da Educação Básica e consolidados na etapa final do Ensino Médio”. Esclarece-se ainda no DN que a participação de professores da Educação Básica no preenchimento do formulário de avaliação de sua versão preliminar possibilitou à Comissão Estrutura das Avaliações propor ajustes nas matrizes de referência das quatro áreas do conhecimento.

“Consideramos que a prevalência de sugestões pontuais demonstra validação por parte dos professores, ou seja, entendemos que as diretrizes estão em acordo com o que é ensinado nas escolas”, afirma o pró-reitor de Graduação, Bruno Otávio Soares Teixeira. Ele revela que os ajustes consistiram na simplificação de alguns objetos do conhecimento e na redução da quantidade de tópicos dos assuntos previstos para a primeira etapa. “As respostas foram consistentes, muitos professores fizeram as mesmas sugestões sobre pontos específicos, e essa escuta contribuiu para o aprimoramento de outras partes do Documento Norteador que demandavam informações adicionais e para afirmar a participação dos professores das escolas de educação básica no processo”, acrescenta o pró-reitor.

Coerência entre educação e avaliação
O Documento Norteador das provas da primeira etapa contém, entre outros tópicos, o percurso para sua elaboração, os princípios e valores que regem o Seriado UFMG, as abordagens pedagógicas, as características do instrumento avaliativo, as diretrizes para indicação de obras de literatura e arte e as matrizes de referência nas quatro grandes áreas do conhecimento: Linguagens e suas tecnologias, Matemática e suas tecnologias, Ciências da Natureza e suas tecnologias e Ciências Humanas e Sociais Aplicadas.

Como se afirma no DN, “um princípio basilar expressado pela comunidade acadêmica da UFMG e referendado por seus órgãos colegiados superiores é a coerência entre a avaliação e o processo educativo, de maneira a preservar a não subordinação deste a uma avaliação alheia à realidade educacional brasileira. Esse princípio é fundamental para não acirrar as desigualdades escolares e desenvolver modos de acesso socialmente justos à universidade pública”.

Além de representar forma adicional de ingresso na Universidade e contribuir para estreitar o relacionamento da Universidade com a educação básica e, em especial, as escolas públicas, o Seriado UFMG tem o objetivo de estimular a reflexão crítica e processual de estudantes do ensino médio sobre a trajetória pessoal, acadêmica e profissional que pretendem seguir.

Democratização do acesso ao ensino superior

Integrante da Comissão Estrutura das Avaliações, na subcomissão de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas, a professora Nina Rosas, do Departamento de Sociologia da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (Fafich), conta que um primeiro desafio para a formulação das diretrizes nessa área foi a baixa carga horária dedicada, nas escolas, à sociologia e à filosofia. Outra questão é que, segundo ela, ao mesmo tempo que não é o caso de replicar o modelo das provas do Enem, também não faz sentido fazer de forma muito discrepante.

“E ainda é preciso pensar de forma ampla, para as três etapas. Isso tudo é muito novo para todos aqui na UFMG. Por isso, houve muita discussão sobre o assunto. Temos a consciência de que não se trata de criar algo inédito. Avaliamos minuciosamente os documentos oficiais e nos esforçamos para respeitar a realidade de sala de aula para chegarmos à proposta da matriz de referência”, afirma Nina Rosas. “Nosso objetivo foi aplicar uma lógica mais palatável ao plano de curso. Não importa apenas o que vai cair na prova do Seriado, é essencial pensar em temáticas a ser desenvolvidas em sala de aula”, acrescenta.

A professora da Fafich diz que, com base no feedback dos professores de Ensino Médio e da EJA, foi possível fazer correções pontuais, imprimir mais clareza e linearidade ao texto da matriz de referência e torná-lo mais acessível.

 

Mudanças em Biologia
Vinculada à subcomissão de Ciências da Natureza, a professora Luciana Andrade, do Departamento de Morfologia do ICB, revela que o tópico mais comentado da matriz em sua área foi a genética. “Seguimos o currículo mineiro, que é bem extenso, mas muitas escolas cortam da primeira série conteúdos mais específicos de genética e evolução, que são abordados na série seguinte. Então, fizemos os ajustes”, diz.

De acordo com Luciana, a subcomissão já havia preterido algumas partes da matéria, uma vez que a ideia é que a primeira prova não tivesse conteúdo demais. “As sugestões recebidas nos inspiraram a rever as referências, e retiramos genes dominantes e recessivos (responsáveis pelas características de fenótipo e comportamento das espécies), manipulação gênica e biologia celular. Mantivemos, desse campo, apenas divisão celular e cromossomos. E não incluímos o conteúdo de ecologia. Ficaram histologia, composição das células, multiplicação celular e aspectos iniciais da origem da vida e evolução, composição química dos seres vivos, moléculas, seres uni e pluricelulares”, enumera.

Luciana Andrade salienta que as sugestões foram em geral muito bem aceitas pelas subcomissões de cada área. “Os professores conhecem melhor a realidade das escolas. Temos algum contato com as escolas, claro, mas é diferente, a consulta pública ajuda a orientar o trabalho, foi muito produtivo ouvir os professores. E esse processo contribui também para balizar o trabalho a ser feito nos próximos anos”, ela conclui. As inscrições de candidatos para a Etapa 1 deverão começar na segunda quinzena de agosto. O Documento Norteador completo, com orientações para as três etapas do Seriado UFMG, será divulgado ainda em 2025.

 

Consistente com a BNCC
Em seus comentários no formulário distribuído aos professores, Claudia Maria Francklim Silva, da Escola Estadual Dona Canuta Rosa de Oliveira Barbosa, em Ipatinga, escreveu que a matriz de referência do Documento Norteador está em sua grande parte adequada ao que é ensinado na 1ª série do Ensino Médio. Ela recomendou apenas a supressão de progressão aritmética e progressão geométrica. Na 1ª série, os alunos têm noção desses objetos, os conceitos iniciais. O assunto só é sistematizado na 2ª série”, argumenta a professora, atualmente dedicada à gestão escolar.

Docente de Biologia nos segmentos EM e EJA em escolas das redes pública e privada, Kelly Gomes Pires registrou no formulário que é “muito importante construírem essa avaliação com os professores, já que estamos lidando com o ensino dos ‘objetos do conhecimento’ diretamente com os estudantes e temos como verificar e confirmar se os conteúdos têm sido consolidados em tempo, dentro da série.”

O depoimento do professor Átila Geraldo Amaral, da Escola Estadual Alberto Delpino, em Belo Horizonte, se alinha aos objetivos da instituição: “Gostaria de aproveitar a oportunidade para parabenizar as organizadoras e os organizadores do Documento Norteador do Seriado UFMG, que está consistente com as demandas da BNCC. O processo Seriado UFMG contribui para a democratização do acesso ao ensino superior em uma das maiores e melhores instituições públicas de ensino superior do país”, escreveu Átila, que dá aulas de Língua Portuguesa.