Atividade realizada há cerca de 20 anos contribui para a troca de conhecimento sobre plantas medicinais e contribui para geração de renda

Foto: TV UFMG
Difundir o conhecimento acerca das plantas medicinais por meio da criação de hortos, é o que o projeto de extensão Olericultura e Plantas Medicinais na Formação de Jovens e Adultos, do campus da UFMG em Montes Claros, proporciona aos participantes num encontro entre saberes tradicionais e científicos. Coordenada pelo professor Ernane Martins a iniciativa criada há cerca de 20 anos propõe a criação de hortos em escolas, penitenciárias e outras instituições em Montes Claros, com o objetivo de contribuir com a formação de jovens e adultos a partir da hortoterapia e de criar possibilidades de geração de renda para as famílias por meio do cultivo agroecológico e do manejo sustentável de plantas terapêuticas. “O horto tem um objetivo muito claro, que é disseminar essas plantas que foram introduzidas para outras comunidades e também virar um centro de formação para que as pessoas venham aprender sobre essas plantas, produzam as mudas, levem para as comunidades. E que também possam expandir a produção para que possa atender esse mercado de plantas medicinais que existe na região”, explica o professor Ernane Martins.
Casa de Cura

Foto: TV UFMG
Entre as atividades do projeto está a Casa de Cura, fruto de uma parceria entre trabalhadores rurais do Movimento Sem Terra (MST) e professores e estudantes da UFMG, da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes) e do Instituo Federal do Norte de Minas (IFNMG). De acordo com o professor Ernane Martins, atualmente, cerca de 30 pessoas estão envolvidas no projeto: dois professores da UFMG, professores da Unimontes e Instituto Federal do Norte de Minas Gerais, três bolsistas da FAPEMIG, sendo dois alocados na UFMG, uma doutoranda da UFMG e pós-graduandos da Unimontes. A atividade é realizada junto a trabalhadores rurais do Movimento Sem Terra (MST). “Quando nós planejamos fazer este trabalho nos assentamentos ligados ao MST, o que nós fizemos foi conversar com a comunidade para saber exatamente o que eles queriam. Fizemos nossa proposta, interagimos e chegamos ao ponto de que nós teríamos que montar dois hortos medicinais, um em Bocaiuva e outro em Montes Claros”, conta.
Em Bocaiuva, as atividades são realizadas no Assentamento Professor Mazan. A bióloga e militante do MST, Daniela Borges, explicou como tem sido a dinâmica dos trabalhos. “Os professores vieram mostraram o projeto, como iria ser feito tudo. Depois, a gente já teve o plantio do horto, que o professor Ernane falou que as mudas já estavam prontas. A gente já tinha aqui o lugar arado, já estava preparado para receber as mudas. E agora, com a professora Rúbia, teve a identificação de plantas, mostrando as características das folhas, as diferenças das árvores também”.
Para a agricultora Selma Ferreira, o projeto possibilitou a continuidade da transmissão de conhecimento para as gerações futuras. “Eu na minha infância, eu fui uma pessoa muito doente. E eu fui tratada em casa, com remédio de casa. Os vizinhos que tinham algum conhecimento, meus avós que ajudavam meus pais. Hoje, para passar para os meus filhos, eu tenho mais dificuldade de conhecimento, de como usar, quantidade certa, modo de preparo”.
As plantas que estão no horto de Bocaiuva são tanto nativas quanto exóticas, que vieram de outros lugares. Nas plantas exóticas, foi dada preferência para as que estão nos programas de fitoterapia do serviço público. O professor destaca que os resultados dos cuidados adotados serão analisados posteriormente na Universidade, com a finalidade de garantir a qualidade do produto. “Nós estamos encaminhando na produção agroecológica, para que não tenha resíduos, tenha uma qualidade superior. E nós vamos acompanhar isso com as análises fitoquímicas, para certificar que este material tenha uma qualidade química também”.
Intercâmbio de Saberes
Para os envolvidos no projeto Olericultura e Plantas Medicinais na Formação de Jovens e Adultos, as atividades vão além do que se vê nos canteiros. A troca de conhecimentos ao longo do projeto traz benefícios para todos. O estudante de Agronomia e bolsista João Gabriel Figueiredo destaca as habilidades sociais que desenvolveu a partir do projeto. “A gente trabalha em uma dinâmica muito interessante. Em diferentes níveis sociais, nós tratamos de diversos assuntos que sejam pertinentes para aquelas pessoas. Eu acho que isso é muito importante para a integração da Universidade não só com o município de Montes Claros, mas com o Norte de Minas como um todo. Toda essa dinâmica da extensão é sempre uma troca, mas eu acho que a extensão rural proporciona mais isso para a gente. É um conhecimento não só na parte técnica, do que eles sabem e o que eu sei, mas também de como me portar, como conversar com eles”.
O coordenador Ernane Martins vê também outros benefícios desta troca. “Para os estudantes é bastante interessante porque eles se colocam no lugar do professor. Eles vão trabalhar com as crianças e ao mesmo tempo veem a realização que é implantar uma horta e aquilo acontecer. E também veem as frustrações quando não dá certo, quando falta água, quando falta algum insumo ou as plantas são destruídas. Essa formação, a gente não tem em sala de aula. E é a mesma coisa na pós-graduação. Esses hortos e hortas medicinais são na verdade um laboratório fantástico porque muitas das demandas que nós temos surgem daí”.
Ernane Martins ressalta ainda a importância destas trocas. “Toda vez tem um conhecimento novo. Tem uma planta nova que a gente não conhecia, tem uma forma nova de lidar com essa planta, de utilizar, de colher ou a época melhor até de propagar essas plantas. A gente sempre está adquirindo conhecimento com estas comunidades e ao mesmo tempo, alguns experimentos, algumas experiências que a gente tem na Universidade a gente traz também. E isso é muito enriquecedor”.
O trabalho do projeto de extensão Olericultura e Plantas Medicinais na Formação de Jovens e Adultos foi registrado em uma matéria da TV UFMG publicada esta semana. O material tem produção de Ana Cláudia Mendes e Olívia Resende, reportagem de Olívia Resende, imagens de Ângelo Araújo e Samuel do Vale e edição de Marcia Botelho.
Assista ao vídeo abaixo.
(Ana Cláudia Mendes I Cedecom UFMG Montes Claros)