As obras de Vincent Van Gogh, personificação da transição entre Impressionismo e Pós-Impressionismo, revelam a profunda espiritualidade do artista. Suas criações proporcionam diversas interpretações, mas uma em particular, A Noite Estrelada, cativa o olhar do público. Para alguns, as pinceladas grossas e largas dessa obra refletem o momento de profunda agonia vivido por Van Gogh em 1889. No entanto, recentemente, uma análise conduzida por físicos da China e da França sugere que o pintor holandês possuía, por meio de sua exímia e meticulosa habilidade de observar a natureza, uma impressionante e intuitiva compreensão de fluxos turbulentos — termo da física que descreve o movimento irregular de fluidos, como gases e líquidos.
Mas afinal, você já ouviu falar sobre este fenômeno natural? Ele é mais comum do que parece! Presente em correntes oceânicas, nas nuvens de tempestade, de fumaça, ou até mesmo na circulação sanguínea, o fluxo turbulento é de ordem comum e observado em fluidos, possuindo uma natureza caótica. Embora pareça aleatória para um observador qualquer, essa turbulência segue um padrão que pode ser estudado e parcialmente explicado usando equações matemáticas.

“A Noite Estrelada” de Vincent van Gogh (1889), com seus céus em movimento e vórtices de luz, ilustra poeticamente um dos fenômenos da natureza: a turbulência dos fluidos. (Disponível em domínio público via Wikimedia Commons.)
Imagine o intenso desafio de realizar este estudo, considerando que a obra é estática, enquanto a turbulência dos fluidos está intrinsecamente ligada ao movimento. A tradução e interpretação do material foi baseada nas pinceladas e cores presentes nos redemoinhos da pintura, em uma tentativa de obter dados que representassem o dinamismo do céu.
Como resultado, os pesquisadores e as pesquisadoras identificaram que os tamanhos dos 14 redemoinhos em “A Noite Estrelada”, assim como suas distâncias e intensidades relativas, seguem as mesmas regras que governam o movimento dos fluidos na natureza. Eles obedecem a teoria da turbulência de Kolmogorov, que descreve como a energia em um fluxo é transferida e se dissipa em padrões caóticos, mas ainda assim previsíveis.
Além disso, durante a pesquisa, as pinceladas em menor escala foram percebidas se misturando com alguns redemoinhos e giros de fundo de uma forma prevista pela teoria, seguindo um padrão estatístico conhecido como a escala de Batchelor. É como se a pintura imitasse a maneira como pequenas partículas são levadas por correntes turbulentas, como algas no mar ou poeira no vento.
