Caro(a) leitor(a), você acredita em fantasmas?
Você já passou por uma situação em que passos não identificados foram ouvidos, as portas se abriram sozinhas, luzes se apagaram, sombras se moveram, cachorros latiram, gatos se atiçaram, pelos se arrepiaram e, de repente, você não estava mais sozinho?
Ou você prefere negar a existência destas entidades? Citando que não existem evidências científicas destes seres e que todos os registros são montagens e golpes, ou que todas as experiências desta natureza surgem de devaneios da mente humana que, por meio de sentidos duvidosos, acredita ter visto algo que não existe.
Experiências pessoais sempre serão profundamente diferentes umas das outras, em especial quando falamos de um tópico tão oculto e até mesmo místico. Entretanto, como não abordar um assunto como esse? Considerando que nossa espécie sempre buscou significado para o que acontece com a consciência depois da morte, desde as mais antigas civilizações conhecidas pela História.
Independente de acharmos que fantasmas existem ou não, para a História, contudo, eles são reais. Não em seus estados plasmáticos e espectrais, mas enquanto contos e lendas que realmente foram escritas e repassadas pelas sociedades dentro das cidades. E em Belo Horizonte isso não poderia ser diferente.
Fundada em 12 de dezembro de 1897, Belo Horizonte surgiu sobre o Curral del Rey, antigo arraial que teve sua existência encerrada para que a nova capital de Minas Gerais pudesse viver. No entanto, a ideia desse projeto, que trazia tanta alegria para a recém-formada república brasileira, levou um destino cruel aos moradores do pequeno povoado, que foram expulsos e tiveram suas casas destruídas.
Dos destroços do antigo Curral, nasceram os primeiros fantasmas desta cidade – espíritos e entidades que perderam tudo para a máquina do progresso -, que hoje vagam nas ruas pelos mais diversos motivos: vingança contra os construtores e habitantes da metrópole, em busca de um amor que lhes foi negado enquanto estavam vivos e até mesmo atrás de pagamento pelos serviços que prestaram na construção da cidade.
Curral Del Rey, arraial que antecedeu a cidade de Belo Horizonte, em 1896. (Créditos: APCBH).
Aqui contaremos algumas destas lendas, mas também buscaremos entender como elas podem ter surgido e porque, nos dias de hoje, nem nos lembramos mais dessas assombrações que no passado eram conhecidas por todos.
Primeiramente, é importante lembrar que histórias de fantasmas podem surgir a qualquer momento, basta um relato para outros ouvintes e pronto: surge uma nova lenda. Porém, nem todos os fantasmas são iguais e nem todos se tornam famosos. Por isso, os primeiros fantasmas de que falaremos são aqueles que não conhecemos, esquecidos ou dispensados da consciência popular por não terem tido sua existência creditada, os sem nomes e sem aparência, reduzidos a meros truques da luz de um poste defeituoso, entidades cujos sumiços não foram notados. Estes são os primeiros dos quais temos que nos lembrar.
Em seguida, temos os fantasmas que foram afortunados o suficiente para serem lembrados, mas que ainda não são tão bem conhecidos. Um deles é o Avantesma da Lagoinha, que vaga pelas ruas do bairro que lhe deu seu nome, descarrilhando os bondes que um dia existiram na capital mineira, rindo de seus atos, impregnando o ar com o cheiro de enxofre que exala e andando algumas vezes sobre os viadutos da cidade, como o Santa Tereza.
Viaduto Santa Tereza, no começo do século XX, região onde o Avantesma da Lagoinha podia ser visto. (Créditos: Antônio Paulo Mello/Arquivo pessoal).
Além dele, na região do bairro da Serra, um fantasma assombra a Rua do Ouro: um homem vestido completamente de branco, possível funcionário público forçado a deixar Ouro Preto para trabalhar na nova cidade. Sempre se faz visível à meia-noite, vestindo um terno, chapéu e um manto de neblina, que se espalha pelo bairro.
Descendo da Serra, chegamos à Savassi, onde uma moça “branca, longa e fria”, como descrito por Carlos Drummond de Andrade, vestida de noiva, com um perfume de jasmim e dama da noite, vaga pelas ruas em busca de um amor que nunca teve, pronta para arrastá-lo até o pós vida com ela.