Seu gesto de coleta corresponde a um exercício
do olhar e a um desejo de pensar através de cada imagem.
Sem descartar os significados possíveis impregnados
nesses fragmentos reunidos, está sobretudo interessado
nas perguntas que deles emanam e nas novas conexões
que estabelecem com o todo. Seus diagramas, a explicitar
a genealogia dos temas, estão sempre em transformação,
sendo registrados em suas novas configurações.
Poderíamos relacionar
esse ato de coleta ao ato da citação.
Antoine Compagnon, em seu O Trabalho da Citação,
dedica um capítulo ao que chamou de "Ablação"
que significa "tirar a força": "Quando
cito, extraio, mutilo, desenraízo."
Quando recorta cada imagem, O Colecionador
parece repetir esse mesmo procedimento. O deslocamento
que promove nega o contexto em que a foto estava inserida
assim como os dados temporais que a envolviam. Conseqüentemente
constrói outras tantas possibilidades de leitura
na aproximação provocada com os outros
fragmentos criando novas associações
e justaposições. Assim a imagem se comporta
como citação, reforçando idéias
caras ao colecionador relacionadas ao espaço
urbano, suas imposições arquitetônicas
e o contraponto proporcionado pela paisagem, visível
através das flores.
O jornal como suporte
é matéria contaminada, depositária
de informações escritas e visuais que,
no processo de reciclagem, acabam por fazer parte
de seu cerne, de seu próprio corpo. As imagens
resgatadas pelo Colecionador são as sobreviventes,
porém, dada sua fragilidade, no amarelar e
desbotam de sua superfície impressa, estarão
sempre condenadas ao inexorável destino de
fenecer, assim como qualquer ser vivente, assim como
as flores que nesta mostra o papel acolhe.
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