Mabe Bethônico e o Colecionador   índice de Notícias e Textos
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 Maria Helena Saddi     voltar  avançar  
     
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     E as flores?
     O livro do "Cântico dos cânticos" de Salomão é considerado, teologicamente, uma alegoria da íntima relação espiritual de Jesus Cristo (o Esposo) com a sua Igreja (a Esposa). No início do capítulo 2, a Igreja se antoconceitua com a metáfora "Eu sou o lírio dos vales". Sendo Cristo o cabeça desse organismo espiritual, Ele participa metonimicamente desse conceito. O que se confirma na referência poética,feita pela Esposa: "os seus lábios são lírios / que gotejam mirra preciosa." (Cânt., V: 13b). E aqui se faz de considerável importância o verbete enciclopédico de Al Van Born, conforme o qual a palavra lírio - šušam, em hebraico, não significa apenas o lírio propriamente dito. É também nome coletivo de diversas espécies de flores do campo. Desse modo, as "Flores", que fecham a seqüência temática da coletânea, não poderiam ser uma evocação do "Lírio dos vales" - Jesus Cristo - como a esperança multicolorida (para todas as raças e etnias, tribos, nações e línguas), a esperança terna e linda, aliviante compensação estética e espiritual - florescendo sobre os escombros? Afinal, dele se tem a promessa de realização do último e maior ato de reciclagem - a "ressurreição da carne":
     Quem comer a minha carne e beber o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia (S. Jó., VI, 54).
     Assim, a atividade colecionista de Mabe Bethônico propõe-se-nos como representativa de uma arte - a de nossos dias, que, dê-se conta ou não, está fazendo uso da função poética da linguagem, em seus diferentes códigos, para desempenhar o papel do vate: neste caso, o de prenunciar o tempo pós-escatológico, ou cosmogônico, de ação do sumo. Reciclador, Jesus.

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