Mabe
Bethônico e O Colecionador
Inicialmente configurado
como um grande arquivo de imagens e textos retirados
de jornais, o projeto Mabe Bethônico e
o Colecionador foi desde então - anos
1996-97 - se expandindo e tornando-se mais complexo.
Com o desenrolar do trabalho, a artista sente
a necessidade de se distanciar conceitual e
simbolicamente desse arquivamento obsessivo
e cria a figura do Colecionador, um personagem
imaginário que se torna co-autor e é
integrado ao título da obra, sendo também
investido da responsabilidade de responder pelo
trabalho.
Os recortes, atualmente na casa dos 3.000, são
ordenados em quatro grandes módulos temáticos
- Destruição, Corrosão,
Construção e Flores. A estes,
Mabe Bethônico incorpora uma série
de subtemas, distribuídos em caixas e
arranjados em pastas, os ensaios. Essas categorias
centrais remetem a noções como
origem e fim, existência e desaparecimento,
associando metaforicamente a idéia de
colecionismo a ciclos de vida e morte.
Para a exposição no CEUMA, a artista
selecionou uma série de cada um dos quatro
temas, dispostos em vitrines e acompanhados
por um diagrama esquemático da coleção
aplicado na parede. Indica-se ainda que a Biblioteca
Monteiro Lobato abriga os arquivos completos
do projeto, permitindo ao espectador acesso
ao acervo da obra.
Mabe Bethônico e o Colecionador constitui-se
numa empreitada que desde sua concepção
se anuncia como um desafio, não oferecendo
uma leitura exatamente 'confortável'.
É um projeto que não oferece qualquer
índice de caráter estético
em sua apresentação, dificultando
assim uma aproximação pelas vias
de 'obra de arte', e que tensiona os próprios
mecanismos ligados às operações
de seleção, arquivamento e exibição
que o estruturam. E sua condição
de incompletude convida a incômodas mas
pertinentes reflexões acerca da natureza
do objeto de arte e suas implicações
no contexto de uma instituição
de arte contemporânea.
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