Pesquisa desenvolvida com apoio do Programa de Iniciação à Docência (PID) - 2004, com a orientação de Mabe Bethônico.

Land Art é uma corrente artística surgida no final da década de 1960, que se utilizava do meio ambiente, de espaços e recursos naturais para realizar suas obras. Em locais remotos e desertos, os artistas da Land Art traçaram imensas linhas sobre a terra, empilharam pedras, escavaram tumbas, realizaram intervenções em grande escala, normalmente de caráter efêmero, e registraram seu processo (e resultados) em vídeos ou fotografias.

A Land Art pode ser considerada o passo decisivo da arte em direção ao meio exterior, tomando como material a natureza e fazendo dos seus espaços, espaços da própria arte, do próprio trabalho.

A Land Art teve seu ponto de partida no Movimento Minimalista. Em 1913, Malevich lança a semente ao pintar um quadrado branco sobre fundo branco: "a arte não se preocupa mais em servir ao Estado, à religião, não deseja mais ilustrar a história de costumes, não quer mais ter nada a ver com o objeto como tal. Acredita que pode existir em si mesma e para si mesma". Na década de 50, surge o movimento minimalista, apoiado na idéia de que a arte deve existir por si mesma, livrando-se de todo e qualquer subjetivismo que possa vir a lhe impor sentido.

O Minimalismo designava uma tendência na pintura e principalmente na escultura que pregava a simplicidade das formas e reagia contrariamente a todos os valores do expressionismo abstrato: o emocionalismo, a subjetividade, a espotaneidade do gestual, o improviso. Os minimalistas criaram as diretrizes de uma arte que cultivava o objetivo, o trabalho feito com matéria real em espaço real. Os minimalistas fizeram minguar a simbolização (criada pelo caudal de emoções do expressionismo) acentuando a clareza e a literalidade em seus trabalhos de cores, materiais e espaços reais, concretos. Ganhando definitivamente o campo tridimensional, o minimalismo expôs para o mundo trabalhos em que a composição importava menos que a luz, as cores, as escalas, a relação com o espaço. Principalmente neste último item, a Land Art tem como base valores da arte minimalista, podendo ser considerada uma veia desse movimento, uma evolução conseqüente da arte minimal e até uma resposta à estaticidade desses trabalhos.

A Land Art é considerada também, por alguns estudiosos, um corolário da Arte Povera e Arte Ecológica. Arte Povera foi um termo criado pelo crítico de arte italiano Germano Celant, para reunir sob a mesma denominação certos aspectos da arte conceitual minimalista e performática que repudiavam ou ignoravam a característica colecionável da arte e utilizavam-se de materiais não convencionalmente artísticos como o solo, a terra, entre outros. A Arte Ecológica, como o próprio nome sugere, é uma arte que trabalha com materiais recicláveis e recursos da natureza.

O conceito Earthwork estabeleceu-se em um exposição organizada em 1968 em Nova York, na Dwan Gallery. A exposição intitulava-se Earth Art e incluía fotografias de um trabalho de Sol Lewitt, "Caixa num buraco" (um cubo de aço enterrado nos terrenos da Holanda), e desenhos do projeto "Uma Milha" de Walter De Maria (linhas de gesso paralelas, brancas, traçadas no deserto de Nevada). Novas designações como Land Art ou Earth Art surgiram como referências aos diversos trabalhos realizados na natureza e com recursos da natureza.

Essa exposição foi rotulada como uma exposição de Arte Conceitual. Devido a este início, e às dificuldades de se realizar os projetos; da execução dos trabalhos, ao contato ao vivo com as obras, muitas vezes a Land Art pode ser confundida com Arte Conceitual.

É importante esclarecer é que a Land Art, embora tomando para si valores que compõem genuinamente outros movimentos - como os já citados Minimalismo, Arte Povera, Arte Ecológica, Arte Conceitual -, é uma corrente artística cuja essência propõe uma nova relação da arte com o espaço, com o meio ambiente, com o espectador, com a sociedade. Na Land Art a paisagem se torna meio da obra de arte. Recusando definitivamente o sistema museu-galeria, a Land Art exige para suas obras um espaço real que não figurará apenas como pano de fundo para o trabalho do artista mas fará parte dele. O espaço da obra e o espaço do mundo se comunicam na Land Art, interagindo-se e realizando-se um através do outro.

Ao espectador é oferecido novo papel: ele pode apenas comtemplar a obra ou seu registro, mas como em o "Duplo Negativo" de Michael Heizer ou em "Ligthning Field" de Walter De Maria ele é convidado a estar nela, fazer parte do seu espaço, ainda que brevemente. Na Land Art, a paisagem se transforma em parte da experiência estética do observador.

A maioria dos artistas que se aventuraram pela Land Art compõe o quadro de grandes nomes da arte conceitual e até do minimalismo. Podemos citar como alguns dos mais conhecidos:

Robert Smithson, escultor e artista experimental norte americano, viveu entre 1938 e 1973. Produziu intensamente, na década de 1960, a maior parte de seus trabalhos considerados minimalistas. Voltou-se para a Land Art no final da mesma década. Sua principal obra deLand Art foi "Spiral Jetty", de 1970, feito no grande lago salgado de Utah.

Michael Heizer é um artista que, em 1969, criou um dos trabalhos mais famosos da Land Art."O Duplo Negativo" é uma terraplanagem feita no Deserto de Nevada, nos EUA. Consiste em duas fendas, cada qual com 12 metros de profundidade e 30 metros de comprimento, escavadas no topo de duas mesetas situadas uma de frente para outra e separadas por um desfiladeiro profundo. O observador só pode experimentar esse trabalho estando nele. Assim, ele concretamente viverá a relação com o próprio corpo, pois no "Duplo Negativo", estando de um lado, só temos a visão do outro, e é impossível ocuparmos o centro da escultura.

Walter De Maria, escultor e um dos principais expoentes da arte minimalista, foi também pioneiro da Land Art, tendo produzido obras desse tipo antes do termo entrar em uso corrente. Parte de sua obra é considerada conceitual. Seus principais trabalhos são "Las Vegas Piece", de 1969, e "The Lightning Field", que foi elaborado e realizado entre 1974 e 1977, no Novo México, tornando-se depois parte da coleção do Dia Art Foundation em Nova Iorque.

Christo, escultor e designer búlgaro, se estabeleceu em Nova York em 1964 e é conhecido principalmente como criador da arte de Empaquetage. Embrulhando objetos com lona ou plástico semitransparente, eleva-os à categoria de obra de arte. Sua obra é considerada conceitual, apesar de ser Land Art. Entre 1972 e 1976, interferiu na paisagem da Califórnia e já chegou a encapar parte da costa australiana.