Land Art
KRAUSS, Rosalind. Caminhos da escultura moderna. São Paulo, Martins fontes. 1998
EBA - Acervo: 735.23 K91pPf 1998

Este livro de Rosalind Krauss faz uma viagem através da arte moderna desde as obras de Rodin. A autora faz referência aos anseios dos artistas e as cobranças de suas respectivas épocas. Propondo um percurso abrangente da arte, Rosalind Krauss mostra as causas e as conseqüências de cada caminho que a arte tomou.
Mais precisamente no capítulo sete, Krauss faz referência à Land Art. O título do capítulo é “O Duplo Negativo: uma nova sintaxe para a escultura”, em referência à obra de Michael Heizer “O Duplo Negativo” (1969). No entanto, é no capítulo seis “Balés mecânicos: Luz , Movimento e Teatro” que podemos conhecer as motivações que levariam a escultura a sair de vez dos Museus e assumir grandes escalas.
O livro possui algumas imagens das obras citadas pela autora ao longo do texto.

- Capítulo Seis: “Balés Mecânicos: Luz, Movimento e Teatro”

O texto começa se referindo a uma obra de Robert Morris, de 1961, criada para integrar o cenário de uma peça de teatro. Problematiza, em seguida, o contexto no qual se inseriram muitos artistas: a necessidade de ultrapassar os domínios de sua arte específica. No caso mais específico da escultura, a autora se vale dos exemplos de várias obras para esclarecer o leitor: A Coluna de Robert Morris, em 1961, feita para o teatro, não se diferenciava das obras que o artista expunha nas galerias; os acessórios cênicos criados por Rauschenberg para as coreografias de Merce Cunninghamn, o cenário feito por Picabia para a peça Relânche, dentre outros. Mas o mais importante nesse texto é que o autor relata a invasão das esculturas ou dos escultores em outros campos de arte e parte daí para esmiuçar toda a transformação no viés artístico desde a década de sessenta. Quando os escultores não mais se continham em seus próprios objetos, rompendo as barreiras entre os diversos tipos de arte. Mais tarde, incumbiram-se de travar um diálogo mais eficaz entre o ambiente, obra e observador. Assim foram os primeiros passos dados rumo à Land Art. Primeiro, os cenários e a linguagem estabelecida com o público. Então surgiram as construções cinéticas, que buscavam o movimento e colocavam o observador como “ativista subliminar”. As escalas dos objetos cresceram. O gigantismo vinculava o movimento ao observador em torno do objeto; “é antes o movimento do observador ao caminhar em torno do diadorama escultural ou se deter para interpretar o significado narrativo dos diferentes detalhes do quadro vivo que empresta a esses trabalhos um tempo dramático”. Começa a surgir daí os preceitos da Land Art: a acentuação do sentido de continuidade entre o mundo do observador e a ambientação do trabalho. “Eles constituem obstruções do espaço do observador por terem se tornado variações colossais de sua escala natural e terem promovido um sentido de interação em que o observador é um participante.”
A partir desse momento, a arte evolui para a performance. Surgem os happenings, com suas alterações no cotidiano das pessoas e o tratamento impessoal dado à platéia.

- Capítulo Sete: “O Duplo Negativo: uma nova sintaxe para a escultura”

O texto se inicia pontuando-se características da arte minimalista. Cita o filme de Richard Serra “Mão Agarrando Chumbo” (1969), para falar da repetição como forma de composição. Forma esta que entra em cheque com a forma européia do equilíbrio, do racionalismo, das relações pré-estabelecidas. Uma forma de descobrir o mundo através de um sistema já pronto e codificado. Donald Judd, Frank Stella, Dan Flavin, queriam enquadrar suas obras nessa forma de repetição, furtando-se a estabelecer relações e lógicas pré-concebidas. A resistência ao significado e às relações são características da obra minimalista. Objetos ao acaso são o que são diversas vezes. Assim, a autora discorre sobre a obra minimalista, estabelecendo uma comunicação com a arte pop. Os artistas pop trabalhavam com imagens altamente difundidas, os minimalistas com elementos comuns do cotidiano. Ambas as práticas trabalhavam os ready mades, a primeira de forma mais anedótica, a segunda considerando sua estrutura. O texto tece considerações importantes sobre a evolução da escultura: a partir dos minimalistas os objetos não mais eram vinculados à expressão. A idéia era da simples exterioridade. (Exterioridade da qual a Land Art necessita). Dessa forma, o objeto passou a ser matéria inerte, diferentemente da idéia de centro de energia difundida por Henry Moore e Jonh Arp. O ponto importante para a lógica da Land Art é que os minimalistas buscavam repudiar o interior das formas como fonte de significado para a escultura. A rejeição contra o eu individual que supõe personalidade, contra uma arte que baseia seus elementos na ilusão de um momento. Os minimalistas refutavam obras de caráter singular, privado, inacessível da experiência. Os escultores minimalistas queriam declarar a externalidade do significado. E assim chegaram à Land Art. A ambição do minimalismo portanto, era recolocar as origens do significado de uma escultura para o exterior, não mais modelando sua estrutura na privacidade do espírito psicológico. A estratégia compositiva de Duplo Negativo, obra de Michael Heizer de 1969, uma das primeiras da Land Art, foi o gigantismo da natureza. Para experimentar a obra de Heizer, era necessário adentrar-se nela, estar nela. Essa obra é interessante também porque pontua a nossa relação com o corpo. E Heizer propõe experimentá-lo através do ambiente, olhando para o outro lado. O Eu conhecido pela aparência do outro. Intervenção no espaço externo na existência interior do corpo. Também esse trabalho propõe a reflexão da passagem do tempo, a passagem do tempo através do espaço, através de nós mesmos. “Passagem” é uma idéia obsessiva entre os escultores. Passagem essa que se coloca não só de forma subjetiva nos trabalhos artísticos, como também de forma literal. A escultura estava deixando de lado o sistema museu – galeria para alcançar outros campos. A arte começava a exigir um espaço fora das instituições concebidas para receber arte. Era a passagem para um espaço real, que exigiria do escultor matéria prima real para a realização do trabalho do artista. Um espaço que estaria sempre em construção, ainda que o processo de criação já estivesse finalizado. Esse é o espaço que a arte contemporânea buscará ocupar.