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Este livro de Rosalind Krauss faz uma viagem através
da arte moderna desde as obras de Rodin. A autora faz
referência aos anseios dos artistas e as cobranças
de suas respectivas épocas. Propondo um percurso
abrangente da arte, Rosalind Krauss mostra as causas
e as conseqüências de cada caminho que a
arte tomou.
Mais precisamente no capítulo sete, Krauss faz
referência à Land Art. O título
do capítulo é “O Duplo Negativo:
uma nova sintaxe para a escultura”, em referência
à obra de Michael Heizer “O Duplo Negativo”
(1969). No entanto, é no capítulo seis
“Balés mecânicos: Luz , Movimento
e Teatro” que podemos conhecer as motivações
que levariam a escultura a sair de vez dos Museus e
assumir grandes escalas.
O livro possui algumas imagens das obras citadas pela
autora ao longo do texto.
- Capítulo Seis: “Balés Mecânicos:
Luz, Movimento e Teatro”
O texto começa se referindo a uma obra de Robert
Morris, de 1961, criada para integrar o cenário
de uma peça de teatro. Problematiza, em seguida,
o contexto no qual se inseriram muitos artistas: a necessidade
de ultrapassar os domínios de sua arte específica.
No caso mais específico da escultura, a autora
se vale dos exemplos de várias obras para esclarecer
o leitor: A Coluna de Robert Morris, em 1961, feita
para o teatro, não se diferenciava das obras
que o artista expunha nas galerias; os acessórios
cênicos criados por Rauschenberg para as coreografias
de Merce Cunninghamn, o cenário feito por Picabia
para a peça Relânche, dentre outros. Mas
o mais importante nesse texto é que o autor relata
a invasão das esculturas ou dos escultores em
outros campos de arte e parte daí para esmiuçar
toda a transformação no viés artístico
desde a década de sessenta. Quando os escultores
não mais se continham em seus próprios
objetos, rompendo as barreiras entre os diversos tipos
de arte. Mais tarde, incumbiram-se de travar um diálogo
mais eficaz entre o ambiente, obra e observador. Assim
foram os primeiros passos dados rumo à Land Art.
Primeiro, os cenários e a linguagem estabelecida
com o público. Então surgiram as construções
cinéticas, que buscavam o movimento e colocavam
o observador como “ativista subliminar”.
As escalas dos objetos cresceram. O gigantismo vinculava
o movimento ao observador em torno do objeto; “é
antes o movimento do observador ao caminhar em torno
do diadorama escultural ou se deter para interpretar
o significado narrativo dos diferentes detalhes do quadro
vivo que empresta a esses trabalhos um tempo dramático”.
Começa a surgir daí os preceitos da Land Art: a acentuação do sentido de continuidade
entre o mundo do observador e a ambientação
do trabalho. “Eles constituem obstruções
do espaço do observador por terem se tornado
variações colossais de sua escala natural
e terem promovido um sentido de interação
em que o observador é um participante.”
A partir desse momento, a arte evolui para a performance.
Surgem os happenings, com suas alterações
no cotidiano das pessoas e o tratamento impessoal dado
à platéia.
- Capítulo Sete: “O Duplo Negativo: uma
nova sintaxe para a escultura”
O texto se inicia pontuando-se características
da arte minimalista. Cita o filme de Richard Serra “Mão
Agarrando Chumbo” (1969), para falar da repetição
como forma de composição. Forma esta que
entra em cheque com a forma européia do equilíbrio,
do racionalismo, das relações pré-estabelecidas.
Uma forma de descobrir o mundo através de um
sistema já pronto e codificado. Donald Judd,
Frank Stella, Dan Flavin, queriam enquadrar suas obras
nessa forma de repetição, furtando-se
a estabelecer relações e lógicas
pré-concebidas. A resistência ao significado
e às relações são características
da obra minimalista. Objetos ao acaso são o que
são diversas vezes. Assim, a autora discorre
sobre a obra minimalista, estabelecendo uma comunicação
com a arte pop. Os artistas pop trabalhavam com imagens
altamente difundidas, os minimalistas com elementos
comuns do cotidiano. Ambas as práticas trabalhavam
os ready mades, a primeira de forma mais anedótica,
a segunda considerando sua estrutura. O texto tece considerações
importantes sobre a evolução da escultura:
a partir dos minimalistas os objetos não mais
eram vinculados à expressão. A idéia
era da simples exterioridade. (Exterioridade da qual
a Land Art necessita). Dessa forma, o objeto passou
a ser matéria inerte, diferentemente da idéia
de centro de energia difundida por Henry Moore e Jonh
Arp. O ponto importante para a lógica da Land Art é que os minimalistas buscavam repudiar o
interior das formas como fonte de significado para a
escultura. A rejeição contra o eu individual
que supõe personalidade, contra uma arte que
baseia seus elementos na ilusão de um momento.
Os minimalistas refutavam obras de caráter singular,
privado, inacessível da experiência. Os
escultores minimalistas queriam declarar a externalidade
do significado. E assim chegaram à Land Art.
A ambição do minimalismo portanto, era
recolocar as origens do significado de uma escultura
para o exterior, não mais modelando sua estrutura
na privacidade do espírito psicológico.
A estratégia compositiva de Duplo Negativo, obra
de Michael Heizer de 1969, uma das primeiras da Land Art, foi o gigantismo da natureza. Para experimentar
a obra de Heizer, era necessário adentrar-se
nela, estar nela. Essa obra é interessante também
porque pontua a nossa relação com o corpo.
E Heizer propõe experimentá-lo através
do ambiente, olhando para o outro lado. O Eu conhecido
pela aparência do outro. Intervenção
no espaço externo na existência interior
do corpo. Também esse trabalho propõe
a reflexão da passagem do tempo, a passagem do
tempo através do espaço, através
de nós mesmos. “Passagem” é
uma idéia obsessiva entre os escultores. Passagem
essa que se coloca não só de forma subjetiva
nos trabalhos artísticos, como também
de forma literal. A escultura estava deixando de lado
o sistema museu – galeria para alcançar
outros campos. A arte começava a exigir um espaço
fora das instituições concebidas para
receber arte. Era a passagem para um espaço real,
que exigiria do escultor matéria prima real para
a realização do trabalho do artista. Um
espaço que estaria sempre em construção,
ainda que o processo de criação já
estivesse finalizado. Esse é o espaço
que a arte contemporânea buscará ocupar.
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