Escolas do Ensino Médio e Chances de Aprovação no Vestibular UFMG 2003 

Freqüentemente se discute a qualidade das escolas do ensino médio considerando-se o número de seus estudantes que logram aprovação nos vestibulares das principais universidades do país. As próprias escolas estimulam tal procedimento, divulgando na mídia ou em outdoors os resultados dessa comparação. Certamente, a qualidade da educação ministrada no ensino médio não pode ser avaliada tendo em vista apenas este indicador. Mas, talvez seja interessante chamar a atenção para um aspecto que muito raramente é considerado. Se se pretende avaliar o quanto uma determinada escola contribui para que um estudante chegue à universidade – à UFMG, por exemplo –, é preciso separar a contribuição da escola da contribuição do ambiente social em que o estudante foi criado. O que as pesquisas indicam é que a condição socioeconômica do estudante interfere fortemente nas suas chances de aprovação no vestibular, superando freqüentemente a contribuição das escolas. É o que se vai analisar neste trabalho, considerando-se os dados do vestibular da UFMG de 2003.

Para mensurar a condição socioeconômica do estudante, foi criado um indicador, denominado Fator SocioEconômico-FSE, que combina aspectos de sua trajetória escolar, com o padrão de renda familiar, bem como o nível de instrução e o tipo de profissão de seus pais. A escala FSE varia de zero a dez e quanto maior o seu valor, melhor a condição socioeconômica do estudante. O que se observa – ver curva em azul na figura  – é que a chance de aprovação cresce exponencialmente com a condição socioeconômica, sendo cerca de sete vezes maior para o estudante com FSE dez que para o estudante com FSE zero. Para comparar o desempenho de escolas, convém considerar apenas aquelas com um número mínimo de candidatos inscritos no vestibular. Escolheu-se arbitrariamente o número 100. Ou seja, só serão considerados nesse estudo aquelas escolas do ensino médio em que estudaram pelos menos 100 estudantes inscritos no vestibular UFMG 2003. Quando essa restrição é feita, observa-se que as chances de aprovação continuam sendo fortemente determinadas pela condição socioeconômica do estudante – ver curva em vermelho da figura – ainda que as chances de aprovação de todos os grupos aumentem.

 

Nessa figura podem ser também apresentados os pontos representativos de cada escola, com a média de FSE de seus estudantes e a chance de aprovação correspondente. Quando o ponto representativo de uma determinada escola estiver próximo à curva em vermelho significa dizer que a chance de aprovação de seus estudantes apenas reproduz aquela esperada para o seu grupo socioeconômico. Ou seja, a escola não influenciou o desempenho de seus estudantes no vestibular UFMG. Quando o ponto representativo de uma escola estiver claramente acima da curva em vermelho, significa dizer que a escola em questão influenciou positivamente a chance de aprovação de seus estudantes. Por outro lado, se o ponto representativo da escola estiver claramente abaixo da curva em vermelho, significa dizer que a escola em questão influenciou negativamente a chance de aprovação de seus estudantes. Ou seja, o estudante provavelmente teria uma chance maior se estudasse em outra escola da região.

Certamente não é adequado representar na figura os pontos representativos de todas as escolas que inscreveram pelo menos 100 estudantes no vestibular UFMG 2003. Elas são mais de uma centena. Para ilustrar o trabalho, foram representadas na figura 6 escolas, indicadas por pontos em verde e denominadas de E1, E2, E3, E4, E5 e E6. A escola E6, escola privada, atende estudantes de classe alta. O valor médio do FSE de seus estudantes é de 8,7 em um máximo possível de 10. Estudantes com essa característica tiveram mais de 14% de chance de aprovação (a comparação é sempre com a curva em vermelho). No entanto os alunos da escola E6 têm apenas 7,7% de chance de aprovação. Ou seja, a escola E6 influenciou negativamente a chance de aprovação de seus estudantes no vestibular 2003. Por outro lado, a escola E1, escola técnica municipal do interior do estado, tem um alunado típico das classes sociais mais empobrecidas. O FSE médio de seus estudantes é de 1,2. Estudantes com tal característica tiveram 3,7% de chance de aprovação. Mas, os estudantes da escola E1 tiveram 6% de chance de aprovação. Ou seja, embora os estudantes da escola E6 tenham tido maior chance de aprovação que os da escola E1 (7,7% contra 6,0%), esta última contribuiu mais que a primeira para a aprovação de seus estudantes no vestibular UFMG 2003.

Considere-se agora a situação das escolas E2 e E5. A primeira é uma escola estadual localizada em um bairro pobre de Belo Horizonte; a segunda, uma escola privada da capital, atendendo a estudantes de elevado poder aquisitivo. Os estudantes da escola E5 tiveram maiores chances de aprovação que os da escola E2. Mas, a contribuição das duas escolas para o sucesso de seus alunos no vestibular 2003 foi similar. Em ambos os casos, o percentual de aprovação foi praticamente aquele esperado, tendo em vista a condição socioeconômica média dos alunos das duas escolas. Ou seja, eles provavelmente teriam essa mesma chance de aprovação se tivessem estudado em outra escola na mesma região de sua casa.

Um último exemplo ilustrado na figura é o das escolas E3 e E4. A primeira delas, uma escola federal, cujo perfil médio de seus estudantes é de classe média baixa. A segunda, uma escola privada confessional, da zona sul de Belo Horizonte, cujos estudantes são da classe média alta. Ambas revelaram uma excelente contribuição para o sucesso de seus alunos no vestibular 2003. Nas duas, o percentual de aprovação observado foi muito acima do esperado para os estudantes com perfil socioeconômico similar ao de seus alunos.

Em geral, observou-se que os grupos de escolas de ensino médio que contribuíram muito para a aprovação de seus alunos no vestibular de 2003 foram as federais, as confessionais e as escolas técnicas. Para avaliar a contribuição das escolas médias para o sucesso de seus alunos no vestibular UFMG 2003, criou-se uma escala com cinco posições, conforme a tabela 1. Os resultados encontrados para cada escola estão mostrados na tabela 2, em anexo. A súmula desses resultados indica que 40% das escolas consideradas tiveram desempenho abaixo do esperado, 37%, dentro do esperado, 11%, acima do esperado, 7%, muito acima do esperado, e 5% muito abaixo do esperado.

 

Tabela 1 – critérios para a escala de desempenho das escolas no vestibular UFMG 2003

desempenho

Classificação

mais que 75% superior ao esperado

muito acima do esperado - MACESP

de 25% a 75% superior ao esperado

acima do esperado – ACESP

até 25% acima ou abaixo do esperado

esperado – ESP

de 25% a 75% inferior ao esperado

abaixo do esperado – ABESP

mais que 75% inferior ao esperado

muito abaixo do esperado - MABESP

Tabela 2 – Escolas de ensino médio e vestibular UFMG 2003

Escola

FSE

aprovação real/%

aprovação esperada/%

diferença/%

classificação

Colégio Técnico UFMG

3,7

24,1

5,8

+ 315

MACESP

CEFET BH

2,5

18,1

4,7

+ 283

MACESP

Colégio Militar de Belo Horizonte

5,4

24,4

7,9

+ 208

MACESP

Colégio Santo Antônio

7,9

33,5

12,5

+ 167

MACESP

Colégio Loyola

8,9

34,6

14,8

+ 133

MACESP

Colégio Universitário de Viçosa

5,4

18,2

7,9

+ 131

MACESP

Colégio Santo Agostinho

7,7

25,7

12,0

+ 114

MACESP

Escola Técnica de Formação Gerencial

6,1

17,8

9,1

+ 96

MACESP

Colégio Santa Maria

6,8

20,0

10,3

+ 95

MACESP

 

 

 

 

 

 

Colégio João Herculino (Sete Lagoas)

5,4

13,5

7,9

+71

ACESP

Colégio Padre Eustáquio

4,7

11,3

7,0

+62

ACESP

Escola Técnica Municipal de Sete Lagoas

1,2

6,0

3,7

+ 60

ACESP

Escola Técnica de Divinópolis

5,9

13,1

8,7

+51

ACESP

Colégio São Bento

7,1

16,1

10,7

+51

ACESP

IEC - Unidade Centec (Contagem)

1,2

5,2

3,7

+41

ACESP

Colégio Sta. Marcelina

6,7

14,2

10,1

+ 40

ACESP

Colégio Santo Agostinho (Contagem)

6,3

12,6

9,3

+36

ACESP

Colégio Marista Dom Silvério

8,3

18,1

13,5

+34

ACESP

Escola Estadual Fernando Otávio (Pará de Minas)

3,2

7,0

5,4

+31

ACESP

Colégio Técnico de Contagem

3,0

6,8

5,2

+31

ACESP

Colégio São Francisco Xavier (Ipatinga)

6,9

13,5

10,4

+30

ACESP

Colégio São Mguel Arcanjo

5,9

11,0

8,6

+27

ACESP

Instituto Itapoã

5,5

10,3

8,1

+26

ACESP

 

 

   

 

 

Colégio Santa Dorotéia

8,5

16,9

13,8

+22

ESP

Escola Estadual Augusto de Lima (Nova Lima)

2,4

5,3

4,7

+15

ESP

Colégio Municipal Marconi

3,4

6,3

5,5

+14

ESP

Colégio Pio XII

6,8

11,4

10,3

+11

ESP

Colégio Imaculada Conceição

7,1

11,8

10,7

+10

ESP

Colégio Batista Mineiro

6,0

9,6

8,9

+8

ESP

Centro Educacional Mineiro

5,7

8,9

8,4

+7

ESP

Colégio Nossa Sra. de Nazaré (Lafaiete)

6,1

9,5

9,0

+6

ESP

Escola Municipal Paulo Mendes Campos

3,0

5,4

5,1

+5

ESP

Colégio Magnum Agostiniano

7,5

12,0

11,5

+4

ESP

Colégio Técnico de Cel. Fabriciano

4,8

7,2

7,1

+2

ESP

Colégio Pitágoras BH

7.8

11,7

12,1

-4

ESP

Escola Estadual Sagrada Família

2,8

4,8

5,0

-4

ESP

Escola Estadual Padre Menezes (Lagoa Santa)

2,4

4,5

4,7

-4

ESP

 Escola Municipal Luiz Gatti

2,0

4,1

4,3

-5

ESP

Colégio Márcio Paulino (Sete Lagoas)

6,6

9,0

9,8

-8

ESP

Escola Municipal Dom Orione

2,4

4,2

4,6

-8

ESP

Escola Estadual Prof. Hilton Rocha

2,3

4,1

4,6

-10

ESP

Escola Estadual Djanira  Rodrigues de Oliveira

1,9

3,8

4,2

-10

ESP

Colégio Arnaldo

6,0

7,9

8,8

-11

ESP

Colégio Imaco

2,0

3,8

4,3

-11

ESP

Colégio Frei Orlando

5,4

7,1

8,0

-11

ESP

Escola Estadual Dep. Ilacir Pereira Lima

2,5

4,1

4,7

-12

ESP

Escola Municipal Governador Carlos Lacerda

2,9

4,3

5,1

-14

ESP

Escola Estadual Governador Milton Campos

3,1

4,5

5,3

-14

ESP

Escola Municipal Geraldo Teixeira da Costa

2,3

3,9

4,5

-15

ESP

Colégio Ibituruna (Governador Valadares)

6,6

8,3

9,8

-15

ESP

Colégio Polimig

3,2

4,4

5,3

-16

ESP

Escola Municipal Mestre Ataíde

2,2

3,6

4,4

-18

ESP

Escola Municipal Santos Dumont

2,4

3,8

4,6

-18

ESP

Escola Técnica Federal  de Ouro Preto

2,9

4,2

5,1

-18

ESP

Escola Estadual Tec. Ind. Prof. Fontes

2,0

3,5

4,3

-19

ESP

Escola Estadual Mestre Zea Amâncio (Itabira)

2,8

4,0

5,0

-19

ESP

Escola Est. Pedro Alcântara Nogueira (Rib. Neves)

2,2

3,6

4,4

-19

ESP

Instituto de Educação de Minas Gerais

2,7

3,9

4,9

-20

ESP

Colégio Roma

5,1

5,9

7,5

-21

ESP

Colégio Promove I

7,2

8,7

11,0

-21

ESP

Escola Estadual Ordem e Progresso

2,8

3,9

5,0

-22

ESP

Colégio Soma

6,4

7,2

9,5

-24

ESP

 

 

   

 

 

Instituto Presbiteriano Gammon (Lavras)

7,0

8,0

10,7

-25

ABESP

Escola Est. Prof. Domingos Ornelas (Sta. Luzia)

2,3

3,4

4,6

-25

ABESP

Esc. Est. Maurílio de Jesus Peixoto (Sete Lagoas)

2,6

3,6

4,8

-26

ABESP

Escola Estadual  Pedro II

2,8

3,7

5,0

-26

ABESP

Colégio Militar da PMMG

3,5

4,1

5,6

-27

ABESP

Colégio Equipe (Viçosa)

6,3

6,9

9,4

-27

ABESP

Escola Estadual Santos Dumont

2,5

3,5

4,7

-27

ABESP

Colégio Modelo

6,5

6,9

9,7

-28

ABESP

Escola Estadual Três Poderes

2,8

3,5

4,9

-29

ABESP

Esc. Est. Dona Antônia Valadares (Divinópolis)

2,9

3,6

5,1

-29

ABESP

Escola Estadual Professor Morais

2,8

3,5

5,0

-30

ABESP

Instituto Educacional  Mayrink Vieira (Ipatinga)

5,9

6,1

8,8

-30

ABESP

Escola Municipal Professor Tabajara Pedroso

1,8

2,9

4,2

-30

ABESP

CESU - Maria Vieira Barbosa

2,6

3,3

4,8

-32

ABESP

Colégio Anchieta

5,1

4,8

7,5

-35

ABESP

Escola Municipal Arthur Versiani Velloso

3,8

3,8

5,9

-35

ABESP

Escola Estadual Professor Leopoldo De Miranda

3,6

3,7

5,8

-36

ABESP

Colégio Municipal de Belo Horizonte

2,6

3,1

4,8

-36

ABESP

Escola Estadual Alfredo Sá (Teófilo Otoni)

3,5

3,5

5,6

-37

ABESP

Escola Estadual Helena Guerra (Contagem)

1,9

2,7

4,2

-37

ABESP

Escola Estadual Maria Luiza Miranda Bastos

2,9

3,2

5,1

-37

ABESP

Escola Municipal Prof. Lourenço De Oliveira

3,3

3,4

5,5

-37

ABESP

Colégio Roberto Carneiro (Divinópolis)

6,9

6,3

10,4

-40

ABESP

CIPCON (Governador Valadares)

6,2

5,3

9,1

-42

ABESP

Colégio  Máximus

5,9

4,9

8,7

-44

ABESP

Escola Estadual Machado de Assis (Vespasiano)

2,5

2,5

4,7

-46

ABESP

Colégio Edna Roriz

8,7

7,7

14,4

-47

ABESP

Colégio Pedro II

4,7

3,6

7,0

-49

ABESP

Escola Est. Raul Teixeira Sobrinho (Sta Luzia)

2,1

2,2

4,4

-49

ABESP

Escola Estadual Maurício Murgel

2,6

2,4

4,8

-49

ABESP

Escola Estadual Odilon Bherens

2,1

2,2

4,4

-49

ABESP

Colégio Brasileiro

2,4

2,3

4,6

-50

ABESP

Colégio Pioneiro (Montes Claros)

5,8

4,3

8,6

-50

ABESP

Colégio Nossa Sra. das Dores

6,4

4,4

9,5

-54

ABESP

Esc. Est. Imaculada Conceição (P. Leopoldo)

2,4

2,0

4,6

-56

ABESP

Escola Estadual Nossa Sra. do Carmo (Betim)

2,7

2,1

4,9

-58

ABESP

Colégio Cotemig

4,3

2,7

6,5

-58

ABESP

Escola Estadual Prof. Francisco Brant

2,3

1,9

4,6

-59

ABESP

Escola Estadual Prof. Caetano Azeredo

2,7

2,0

4,9

-60

ABESP

Escola Estadual Maestro Villa Lobos

3,3

2,2

5,5

-60

ABESP

Escola Estadual Celso Machado

2,0

1,7

4,3

-60

ABESP

Colégio Kennedy (João Monlevade)

4,9

2,9

7,2

-60

ABESP

Escola Estadual Madre Carmelita

2,4

1,8

4,6

-61

ABESP

Escola Estadual Prof. Alisson Pereira Guimarães

2,6

1,9

4,8

-61

ABESP

Colégio João Paulo II (Pouso Alegre)

6,4

3,6

9,5

-62

ABESP

Escola Estadual Paschoal Comanducci

1,6

1,5

4,0

-63

ABESP

Colégio Palomar Aprova

3,9

2,1

6,0

-65

ABESP

Escola Estadual Carlos Drumond De Andrade

1,9

1,4

4,2

-66

ABESP

CESU - Clemente De Faria (Contagem)

2,2

1,5

4,5

-67

ABESP

Esc. Est. Prof. Zoroastro Vianna Passos (Sabará)

2,1

1,4

4,4

-68

ABESP

Colégio Dom Cabral

4,9

2,0

7,3

-73

ABESP

 

 

   

 

 

Escola Estadual Olegário Maciel

2,1

0,8

4,4

-81

MABESP

Escola Estadual Profa. Maria Amélia Guimarães

2,3

0,8

4,5

-83

MABESP

Colégio Abgar Renault

3,5

0,9

5,6

-84

MABESP

Escola Estadual Des. Rodrigues Campos

2,0

0,6

4,3

-85

MABESP

Escola Municipal Hilda Rabello Matta

1,4

0,0

3,8

-100

MABESP

Colégio Rui Barbosa

3,0

0,0

5,2

-100

MABESP

Escola Salesiana

5,2

0,0

7,7

-100

MABESP

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