Projetos

Coletânea “Saberes Plurais”

“A história oral de vida é uma história do tempo presente,quer dizer, uma narração que os indivíduos envolvidos fazem de sua vida no momento das falas e das entrevistas. Ela é uma representação, um refazer de uma vida, na complexidade e incompletude próprias de toda experiência humana.” Michel Le Ven

Atualmente, identificam-se inúmeras tentativas de se submeter os saberes populares à lógica desmedida da globalização do gosto no contexto internacional. Por intermédio de dinâmicas centradas no mercado, busca-se compor uma noção de arte alheia às suas marcas de origem, em que se sobrepõem novas razões para torná-las admiráveis e, portanto, consumíveis na “distribuição geocultural do valor.” Essas dinâmicas que conectam, ostensivamente, cultura e mercado, por vezes, submetem as produções culturais a novas lógicas nas quais a genialidade artística é suspensa ou rarefeita. Nesse contexto, os saberes intergeracionais, que podem nascer em processos criativos originais, correm o risco de se tornarem homogêneos em face da agonia e da desconexão das ações socioculturais que lhe dariam Diante disso, o projeto “Saberes Plurais”, ao aguçar as memórias que atam criadores e criaturas, busca colocar em cena a pluralidade de saberes, o sagrado, o profano e o trabalho em uma urdidura de iminências que se assenta na arte que não se nomeia, mas que se vivencia diuturnamente. Acredita-se que os gestos criativos dos mestres de ofício do Vale do Jequitinhonha nos dizem de saberes entretecidos e afirmados por reminiscências e omnilateralidades próprias a arte dos cidadãos comuns.

Nessa perspectiva, a coletânea “Saberes Plurais” busca recompor as narrativas dos mestres de ofício do Vale do Jequitinhonha e de seus seguidores, sob a forma de memória audiovisual. Espera-se que, ao dar centralidade ao contexto de criação e de difusão dos saberes tradicionais, sob o ponto de vista de quem lhes oferta “régua e compasso”, a UFMG possa reiterar o seu compromisso com a educação que emancipa e com o conhecimento que se fundamenta no reconhecimento das memórias partilhadas.

Referência

LE VEN. Michel Marie. Dazinho: um cristão nas minas.Belo Horizonte: CDI, 1998.