Tomada a decisão pela realização
do simpósio, era necessário
definir a sede do evento. Entre outras,
a indicação de Paraty, como
sede do 1º
Simpósio Brasileiro de Cartografia
Histórica, foi acolhida
por razões históricas, além
de considerações logísticas.
Nesse sentido, Paraty, está fortemente
ligada à história de conquista
e ocupação dos sertões
da porção central da América
portuguesa, tendo em seu território
e em sua história, todos os elementos
de interesse para um simpósio que
mescla temas da Cartografia Histórica
e da Historia da Cartografia.
Voltada para o mar da baia de Angra e tendo
a serra do Mar, ainda recoberta pela exuberante
mata Atlântica, aos fundos, Paraty,
por conta de sua localização
estratégica, assistiu durante muitos
anos aos movimentos de entrada em direção
aos desertões e às minas de
ouro e diamantes e à saída
desses bens, levados para o Rio de Janeiro
ou para Lisboa, a partir de seu porto. Por
esse mesmo porto passaram muitos viajantes,
engenheiros, militares e governantes. Seu
núcleo urbano desenvolveu-se, sua
economia experimentou apogeus e declínios
e o seu nome ficou registrado em importantes
documentos cartográficos e relatos
de autoridades.
Como ponto de partida e chegada de caminhos,
sua importância histórica tem
início com a transferência
do poder da cidade de Salvador da Bahia
para a cidade do Rio de Janeiro, o que tornou
necessária uma ligação
da nova capital tanto com São Paulo,
quanto com a região das minas. A
cidade do Rio de Janeiro não dispunha
de caminhos terrestres ou mesmo de picadas
que a pusesse em comunicação
direta com estes territórios, então
sob a sua jurisdição, seja
pelos alagadiços da baixada fluminense
ou porque próxima a ela erguia-se
a Serra do Mar, formando uma verdadeira
muralha de granitos e gnaisses, impenetrável
e quase que totalmente revestida por matas
tão fechadas e escuras, que, mesmo
depois de vencidas, ainda provocavam algum
pânico nos viajantes.
Esses empecilhos para a transposição
da Serra do Mar impuseram grandes voltas
aos viajantes que se dirigiam a São
Paulo ou às minas a partir desta
cidade, ou em sentido contrário.
Alguns viajantes deslocavam-se por via marítima
até o porto de Santos, subiam o Caminho
do Mar até a Vila de São
Paulo e a partir daí seguiam pelo
Caminho do Sertão em direção
às minas. Embora alguns registros
indiquem a utilização de trilhas
indígenas na região da Serra
da Bocaina, já a partir do final
dos Quinhentos, somente a partir dos Seiscentos
e início dos Setecentos, é
que os viajantes, obrigados a contornar
a serrania, passaram a usar uma trilha que
tinha início em Paraty. Vencida a
serra, a trilha seguia pelos campos da Vila
do Falcão [Cunha] e pelo vale do
Paraíba, para alcançarem as
ditas minas. Este caminho que ficou conhecido
como Caminho Velho ou Caminho
Velho do Rio de Janeiro.
Elevada à condição
de vila em 1660, a consolidação
de Paraty, enquanto sítio urbano,
passou por diversas etapas. Segundo os historiadores,
um núcleo de colonos vicentinos,
situado no Morro da Vila Velha, atual Morro
do Forte Defensor Perpétuo, foi o
ponto de partida para a Paraty que conhecemos
hoje. Em seguida foi instalado um outro
com a ocupação da várzea
situada entre os rios Perequê-Açu
e Patitiba, até o final do século
XVII e em função da abertura
de caminhos por bandeirantes. Um terceiro
núcleo foi instalado por conta da
descoberta de ouro nas Geraes, e o porto
da cidade passou a ter grande importância
tendo sido então tomadas medidas
de defesa e ordenamento do núcleo.
Do final do século XVIII até
o primeiro quartel do XIX a cidade expandiu
e novas obras de fortificação
foram executadas. Por fim um outro período
se seguiu, caracterizado como aquele em
que foram tomados cuidados com o alinhamento
das edificações e o embelezamento
dos edifícios públicos e das
praças.
Por essas e outras razões, Paraty,
localizada em diversos documentos, como
no atlas de João Teixeira Albernaz,
reúne todas as condições
para sediar o 1º. Simpósio Brasileiro
de Cartografia Histórica, que tem
por principais objetivos:
- dar início às atividades
de um fórum de discussão
pública, que se pretende duradouro,
envolvendo especialistas que atuam nas
diversas áreas de interesse da
Cartografia Histórica;
- estabelecer a cooperação,
entre países da América
latina, limítrofes ao Brasil, com
vista à preservação
do conhecimento científico e cultural
relacionado à documentação
cartográfica de interesse mútuo;
- aprofundar a discussão sobre
as ações e os meios a serem
empreendidos e utilizados, tendo em vista
tornar, mais eficientes, o processamento
e a análise da informação
cartográfica, com o uso cada vez
mais freqüente das tecnologias digitais,
como modo de salvaguardar e facilitar
a consulta dessa informação.
- envolver novos talentos científicos
e acadêmicos nas atividades de conhecimento
e preservação dos documentos
cartográficos históricos,
como fontes de informação
primárias e objetos museológicos.
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