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Em seminário, secretária estadual destaca importância da extensão na formação continuada de professores

quarta-feira, 21 de outubro de 2015, às 14h38

Pensar a formação continuada no contexto da extensão universitária é o caminho para o desenvolvimento de novos modelos de formação continuada e também o caminho inicial para professoras e professores do ensino básico brasileiro, afirma a secretária de Educação de Minas Gerais Macaé Evaristo. A opinião foi proferida em seminário realizado na manhã desta quarta-feira, 21, no auditório do Centro de Atividades Didáticas de Ciências Humanas (CAD 2) da UFMG, campus Pampulha.

Promovido pela Pró-reitoria de Extensão (Proex), o seminário integra programação da Semana do Conhecimento 2015 e tem o objetivo de compartilhar experiências e debater políticas de formação continuada na Universidade.

Na mesa de abertura, a vice-reitora da UFMG, Sandra Goulart Almeida [ao centro, em foto de Zirlene Lemos/Proex-UFMG], destacou a relevância e a oportunidade da discussão. A pró-reitora de Extensão, Benigna Maria de Oliveira, ressaltou a importância do trabalho desenvolvido pelo Comitê Gestor Institucional de Formação Inicial e Continuada dos Profissionais da Educação Básica (Comfor), coordenado pela professora Maria Isabel Antunes.

Mais que formar professores A secretária Macaé Evaristo enfatizou que a formação continuada não deve ser limitada à formação dos professores. Em sua opinião, a discussão deve ser amplificada, atrelando a ela indagações geradas por fatos vivenciados hoje no país.

“Recentemente, li artigo do professor Miguel Arroyo, em que ele questiona se o humano ainda é viável. Acho que podemos aplicar essa indagação aos debates que temos enfrentado recentemente acerca da escola pública, com questionamento das competências da escola e de seus profissionais”, destacou.

Para a secretária, a resposta a essa pergunta é positiva, lembrando que a própria crença no ato de educar "parte da consideração de que a humanidade é possível". Contudo, ressaltou que "ao longo da história, a desconstrução das diferenças tem imputado a alguns grupos sociais a impossibilidade de ser educados". Isso ocorre, segundo ela, em "ações, como a segregação, que colocam o outro, seja por sua origem, cor da pele ou orientação sexual, em lugares em que para esse sujeito a educação não é possível”.

Concepção equivocada Ao analisar material jornalístico publicado em portais de notícias brasileiros na internet, em 2015, a secretária destacou três fatos que ilustram a forma como o adolescente tem sido tratado no país.

O primeiro caso é de escola localizada em área marcada pela violência em Manaus, assumida por policiais, que impuseram aos alunos uma rotina militar. Segundo a secretária, a reportagem informava ainda que os alunos passaram a bater continência e foi proibido o uso do telefone celular. Trecho destacado por ela dizia: “Só neste ano, cinco foram expulsos, mas o Ideb melhorou”.

Para a professora, a notícia ilustra uma concepção que considera não ser possível levar a educação a determinadas classes sociais. Em um dos depoimentos, uma aluna negra relatava que seus cabelos precisavam estar ‘comportados’ para entrar na escola”, destacou.

O segundo fato analisado por Macaé Evaristo foi notícia em que parlamentares comemoravam a aprovação, na Câmara dos Deputados, da redução da maioridade penal, de 18 para 16 anos. “A matéria é bastante interessante por evidenciar tensões que fazem parte do debate atual: ações que caminham lado a lado com a falta de investimentos na escola pública e com a desqualificação de seus profissionais”, alertou Evaristo.

De acordo com a secretária, o discurso conservador afeta não apenas a escola básica, mas também atinge o ensino superior. “Nesse caso, a crítica deve-se a uma suposta ideologização que ocorreria nas universidades públicas. Com esse discurso, busca-se deslegitimar todas as discussões relacionadas aos direitos humanos, reduzindo-as a tentativas de ideologizar os alunos”, criticou.

O terceiro caso citado pela secretária foi a ação da Polícia Militar do Rio de Janeiro ao retirar dos ônibus jovens moradores da periferia, impedindo-os de chegar às praias da Zona Sul. Em fala emocionada, Macaé Evaristo defendeu que não se pode retirar a humanidade desses adolescentes.

“Estão colocando nossos jovens na indignidade, retirando deles o direito de ir e vir. Eles são nossos filhos, nossos alunos da escola pública, são eles que estão sendo assassinados. E a escola pública também está sendo destruída. Sofremos por chegar às nossas escolas e nos perguntamos por que não podemos garantir a dignidade desses adolescentes”, afirmou.

Macaé Evaristo lembrou também que a indignação é necessária para gerar a força para mudar esse quadro. ”A universidade não pode ficar fora dessa disputa que se dá no dia a dia, no debate público. Precisamos abrir caminhos para que nossos processos de formação e extensão se encontrem com esses jovens e com essas comunidades, oferecendo possibilidades para transformar essa situação”, defendeu.

Segundo a vice-reitora, Sandra Goulart Almeida, essa onda conservadora também tem preocupado a UFMG, que tem discutido estratégias de ação contra esse quadro. Para Evaristo, as estratégias para vencer o conservadorismo precisam ser traçadas de forma conjunta.

“Precisamos de uma boa articulação para que a formação continuada avance numa perspectiva em que as práticas de extensão incorporem uma agenda destinada não apenas à formação de professores, mas de outros profissionais para um novo tipo de sociedade que queremos construir. A extensão é a maneira mais próxima de estar com a comunidade e favorecer aquelas populações tradicionalmente deixadas de lado”, concluiu.

Fonte: Agência de Notícias UFMG