Data: 19 de maio

Hora: 09h3

Local: sala 2060 – FAFICH

O papel da psicologia frente às lutas de equidade de gênero e pelos direitos das mulheres é conhecido e reconhecido por longa data, e aparece como um dos pontos axiais na luta antimanicomial a extrema necessidade de se considerar os marcadores sociais, como gênero, na problematização dessas discussões. Porém, também é notória a tendência clinica de psicologizar o adoecimento das mulheres e, infelizmente, frequentemente individualizar os processos psicossociais relacionados à violência de gênero. Assim, pode-se propor debates que leve a psicologia, enquanto categoria, a desempenhar um papel crucial na compreensão e no enfrentamento dessas questões, sendo imprescindível evitar a tendência de reduzir todos os problemas enfrentados pelas mulheres a causas psicológicas individuais, e assim abordar tais questões de saúde mental sem que haja recortes sociais, culturais, espirituais, históricos, territoriais e de gênero.
Em relação ao adoecimento das mulheres, a psicologia pode desempenhar um papel importante ao considerar os fatores psicológicos, emocionais e sociais envolvidos nas experiências de saúde e doença. Porém, é fundamental adotar uma abordagem compreensiva e interdisciplinar, que leve em conta os determinantes sociais, culturais, históricos e estruturais que influenciam a saúde das mulheres, ao invés de atribuir exclusivamente a causa a fatores internos individuais.
No que diz respeito aos processos psicossociais relacionados à violência de gênero, a psicologia pode contribuir para a compreensão das dinâmicas de poder, traumas e impactos psicológicos nas vítimas. Além disso, a psicologia pode oferecer suporte emocional, terapêutico e intervenções que visem fortalecer coletivamente a luta das mulheres, promover a empatia e ajudar na compreensão ampliada dos traumas, sem a culpabilização da vítima, realizando uma intervenção micro e macro.
Portanto, é importante que os profissionais da psicologia estejam atentos às armadilhas da psicologização excessiva, evitando colocar toda a responsabilidade no indivíduo e desconsiderar as dimensões estruturais e sociais que perpetuam a violência de gênero. É necessário adotar uma abordagem integrada, trabalhando em parceria com outros profissionais e áreas de conhecimento, como a sociologia, o direito e o ativismo feminista, para abordar de forma abrangente essa questão complexa. Além disso, é fundamental que a psicologia assuma um posicionamento crítico e engajado na luta pelos direitos das mulheres e na promoção da equidade de gênero, contribuindo para o desmantelamento das estruturas patriarcais e a desconstrução de estereótipos de gênero nocivos. Isso implica em uma formação profissional que contemple a perspectiva de gênero e a sensibilidade às demandas das mulheres, assim como a participação em movimentos e organizações para uma uma postura e um posicionamento marcados por aspectos transversais de gênero.
Em resumo, o papel da psicologia frente às tendências de psicologizar o adoecimento das mulheres e os processos psicossociais relacionados à violência de gênero é o de adotar uma abordagem ampliada, crítica e interdisciplinar, que considere os determinantes sociais, culturais e estruturais envolvidos nessas questões, contribuindo para a luta pela equidade de gênero e pelos direitos das mulheres.