Foram indicados livros de Graciliano Ramos, Rachel de Queiroz, Ailton Krenak e Luana Tolentino, álbum de Milton Nascimento e documentário de Lilian Santiago e Marianna Monteiro

Foto: Rafa Neddermeyer | Agência Brasil
A UFMG definiu os dias 12 e 13 de dezembro de 2026 (sábado e domingo) para aplicação das provas da Etapa 2 do ciclo 2025-2027 e da Etapa 1 do ciclo 2026-2028 do seu processo seletivo seriado.
Também foram anunciadas as obras literárias e artísticas que serão cobradas. No caso da Etapa 2 do ciclo 2025-2027, os candidatos deverão se debruçar sobre os livros São Bernardo, de Graciliano Ramos, Sobrevivendo ao racismo: memórias, cartas e o cotidiano da discriminação no Brasil, de Luana Tolentino, e sobre o documentário Balé de pé no chão – a dança afro de Mercedes Baptista, de Lilian Solá Santiago e Marianna Monteiro.
Na Etapa 1 do ciclo seriado 2026-2028, por sua vez, as obras indicadas são os livros O quinze, de Rachel de Queiroz; Ideias para adiar o fim do mundo, de Ailton Krenak, e o álbum Txai, de Milton Nascimento.
As obras, aprovadas pela Câmara de Graduação da UFMG, foram escolhidas com base no princípio de que a literatura e as artes desempenham papel crucial na construção de um conhecimento comprometido com uma visão crítica e criativa da sociedade. No entanto, o acesso ao conhecimento artístico e literário, ainda que previsto no currículo escolar, constitui, como informa o Documento Norteador, “um desafio relacionado às condições materiais e culturais requeridas para sua plena apropriação”.
Assim, os critérios propostos para indicação de obras buscam resguardar a diversidade de representação e autorias e a acessibilidade plena dos candidatos. A preferência é por obras em domínio público, acessíveis a pessoas com deficiência e que apresentem diversidade tanto nas autorias quanto nos conteúdos, considerando gênero, identidade étnico-racial, pertencimento regional, entre outros aspectos.
O pró-reitor de Graduação, Bruno Otávio Soares Teixeira, observa, ainda, que os autores de algumas das obras indicadas mantêm relação com a UFMG. “Assim como na Etapa 1 de 2025-2027, em que tivemos um autor (Paulo Nazareth) cuja história passa pela UFMG, podemos dizer o mesmo das obras da Etapa 1 de 2026-2028 (Ailton Krenak foi catedrático no Instituto de Estudos Avançados Transdisciplinares) e da Etapa 2 de 2025-2027 (Luana Tolentino é doutora pela UFMG)”, comenta Teixeira.
“Acredito que, nesse momento em que nos aproximamos do nosso primeiro centenário, essas indicações ressaltam a relevância da UFMG como instituição que fortalece e projeta o patrimônio cultural brasileiro”, justifica pró-reitor. Leia a seguir as descrições das obras, que também estão incluídas no site do Seriado UFMG.
Obras da Etapa 2 do ciclo 2025-2027
1. São Bernardo (1934), de Graciliano Ramos (Obra literária)
São Bernardo é uma das principais obras de Graciliano Ramos. Publicado em 1934, o romance recentemente passou a ser de domínio público. Trata-se de uma narrativa em primeira pessoa, escrita em linguagem acessível e permeada por expressões regionais, que podem ser analisadas tanto sob o aspecto cultural quanto linguístico. A obra aborda temas ainda bastante atuais, como o autoritarismo e a conquista de riqueza no campo pela força, a opressão e a exploração social, a ofuscação da figura feminina diante de uma sociedade patriarcal, a alienação política, entre outros. Além disso, as especificidades da narrativa em primeira pessoa também constituem um campo vasto de análise, uma vez que a construção dos personagens é apresentada com base na perspectiva do narrador.
2. Sobrevivendo ao racismo: memórias, cartas e o cotidiano da discriminação no Brasil (2023), de Luana Tolentino (Obra literária)
Luana Tolentino é professora, escritora e pesquisadora mineira que se destaca pela defesa de uma educação antirracista. Sua obra reúne 32 textos, escritos entre 2017 e 2022, publicados inicialmente na revista Carta Capital. O prefácio é do escritor Itamar Vieira Junior. Parte dos textos são crônicas epistolares que se destinam a interlocutores conhecidos no decorrer da leitura, sendo que algumas são figuras públicas. Outra parte é constituída de narrativas contundentes de fatos conhecidos socialmente. Nesses textos, a autora, com base em suas vivências, faz um relato sensível do cotidiano das pessoas negras no Brasil e de como suas vidas são impactadas negativamente por um passado de escravização que continua ecoando nos dias de hoje.
3. Balé de Pé no Chão – a dança afro de Mercedes Baptista (2005), dirigido por Lilian Solá Santiago e Marianna Monteiro (Obra artística: documentário)
O documentário Balé de pé no chão retrata a trajetória pioneira de Mercedes Baptista, a primeira bailarina negra a integrar o corpo de baile do Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Mercedes foi uma bailarina e coreógrafa brasileira com formação eclética, transitando tanto pelo balé clássico quanto pelas danças de matriz africana. É reconhecida como a pioneira da dança negra no Brasil, responsável pela criação do balé afro-brasileiro e pela fundação da primeira companhia de dança para bailarinos negros no país. O documentário traz à reflexão discussões contemporâneas no campo da dança, especialmente em relação à temática “História e Cultura Afro-brasileira”, conforme previsto nas diretrizes educacionais. A obra também estimula a reflexão sobre as políticas de ações afirmativas e o enfrentamento ao racismo estrutural nas artes. O documentário também contribui para o resgate da presença e da importância de mulheres negras na história da dança no Brasil – presença historicamente invisível nos registros oficiais, nos materiais de referência e nos livros didáticos.
Obras da Etapa 1 do ciclo 2026-2028
1. O quinze (1930), de Rachel de Queiroz (obra literária)
Romance de estreia de uma jovem escritora, então com 19 anos. Raquel de Queiroz foi a primeira mulher aclamada como integrante da Academia Brasileira de Letras depois de consolidada sua trajetória como escritora, autora de obras de romances, crônicas, livros infantis e peças de teatro. O livro marca uma mudança de linguagem e de temas na literatura brasileira, dando início à chamada “Geração de 1930”. Pela primeira vez, surgia uma obra que, de maneira programática, refletia sobre as condições materiais de vida no sertão do Nordeste, problematizando, principalmente, o fenômeno da seca. Nesse cenário se desenvolve uma relação de amor entre uma professora e um vaqueiro, uma trama cheia de interesse que revela o nervo daquela sociedade. A narrativa se desenvolve de maneira enxuta, sem rodeios ou excessos, uma prosa fluida, direta, adequada ao tema de que trata. O leitor estabelece uma relação íntima com a realidade social e psicológica dos brasileiros que vivem em condições áridas, personagens marcadas por necessidades e privações, abrindo a possibilidade de conhecer melhor o Brasil e suas particularidades históricas e regionais. O livro conserva alto grau de interesse nos dias de hoje, quando os problemas decorrentes da posse da terra, das oportunidades de trabalho e sustento ainda se fazem presentes.
2. Ideias para adiar o fim do mundo (2019), de Aílton Krenak (Obra literária)
O escritor Ailton Krenak é um reconhecido ativista dos direitos dos povos originários e em favor da causa ambiental, dimensões que incidem sobre sua obra e delimitam temáticas e pontos de abordagem. Foi o primeiro indígena a ocupar uma cadeira na Academia Brasileira de Letras. Ideias para adiar o fim do mundo é uma obra de não ficção, uma coletânea de ensaios resultantes de conferências proferidas pelo autor. Seu conteúdo é atual para as novas gerações, premidas pela necessidade de discutir os padrões éticos do desenvolvimento econômico-tecnológico do capitalismo e aquilo que representa em termos de desagregação social e de devastação do planeta. O autor se investe de sua cultural ancestral, de origem indígena, para pôr em perspectiva a cultura ocidental, visão de mundo hegemônica que impõe certos padrões de vivência individual e de relações sociais. As ideias são expostas de maneira clara e combativa, de um modo que estimula a refletir sobre as questões mais urgentes do início do século XXI.
3. Txai (1990), de Milton Nascimento (Obra artística: álbum musical)
O cantor e compositor Milton Nascimento é um dos maiores expoentes da música brasileira, sendo aclamado nacional e internacionalmente por meio de seus shows, turnês e dezenas de álbuns lançados ao longo de sua carreira. Entre eles, o disco Txai, trabalho conceitual do músico, que, em meio às canções, traz sonoridades e cantos de algumas etnias brasileiras como os povos Yanomami, Kayapó, Paiter e Waiãpi. O trabalho surgiu de sua experiência em uma expedição na floresta amazônica, num projeto com gravações ao vivo realizadas no Acre e em Rondônia. A expressão txai, na cultura Kaxinawá, significa cunhado, mas, em sentido amplo, ganha contornos de cooperação, complementação e amizade. Uma das inspirações do disco foi o som de flautas e vozes femininas de uma das etnias que Milton havia ouvido anteriormente. No entanto, quando chegou à Amazônia, ele soube que aquele povo e sua cultura já não existiam mais, pois haviam sido exterminados. Milton Nascimento, artista aberto a causas e movimentos sociais, promove, com esse trabalho, uma reflexão sobre a força da conexão e sobre a relação do Brasil com os povos originários. O álbum tem participação do líder Yanomami Davi Kopenawa e da cantora e pesquisadora da cultura indígena Marlui Miranda. Estão também presentes nomes do universo musical como Wagner Tiso, responsável pela orquestração das composições, Caetano Veloso, parceiro na canção A terceira margem do rio, inspirada no conto homônimo de Guimarães Rosa, e uma homenagem ao compositor Villa-Lobos (1887-1950), por meio de uma de suas obras, Nazoni-na, também de inspiração indígena.
Seriado UFMG em 2025
Mais de 45 mil candidatos estão inscritos na Etapa 1 do ciclo 2025-2027 do Seriado UFMG, cuja prova será aplicada no dia 14 de dezembro (domingo) em Belo Horizonte, Betim, Contagem, Nova Lima, Ribeirão das Neves, Santa Luzia e Montes Claros. Ao todo, 49 locais receberão as provas do processo seletivo: 20 em unidades da UFMG (campi Pampulha e Montes Claros e Escola de Arquitetura) e 29 em outros lugares distribuídos pelos sete municípios.
O candidato já pode baixar o seu comprovante de inscrição, onde consta a informação sobre o seu local específico de prova. Esse documento está disponível neste site. Informações gerais sobre o processo podem ser conferidas no site do Seriado.
Os portões serão abertos às 12h30, e as provas, aplicadas das 14h às 18h. Os candidatos devem chegar aos locais com pelo menos uma hora de antecedência. Atrasos superiores à tolerância de 15 minutos não serão permitidos; candidatos que chegarem após esse período não poderão entrar.
Redação/UFMG