Artista

Francisco Vieira Servas

Pintura vieira 3.2

Por Adriano Reis Ramos

 

Francisco Vieira Servas nasceu na Freguesia de Sam Paio de Eira Vedra, Concelho de Vieira, Comarca de Guimarães, Arcebispado de Braga, Portugal, no ano de 1720. Seu falecimento veio a ocorrer no dia 17 de julho do ano de 1811, aos noventa e um anos de idade na cidade de São Domingos do Prata.

 

Consta em sua certidão de batismo, sugestiva referência a seu padrinho, o entalhador Francisco Vieira da Torre, autor de dois retábulos colaterais, um altar lateral (lado do evangelho) e talha do arco-cruzeiro, com data de 1729, na Matriz de Torqueda, Concelho de Vila Real, em Portugal.

 

Em seu testamento datado de 1809, escrito por “Joam Fernandes Rodrigues de Limae”, sob sua aquiescência, Francisco Vieira Servas refere-se ao seu sócio, o entalhador José Fernandes Lobo, na condição de segundo herdeiro e testamenteiro, e a seu sobrinho, José Vieira Servas, seu herdeiro universal, que no ano de 1829 trabalha como Juiz de Paz em São Domingos do Prata.

 

Sua trajetória em terras mineiras demarca com bastante clareza a evolução de um artista daquele período que no seu caso específico, após aprender o ofício no seio da família  em Portugal, vem para o Brasil iniciar suas atividades artísticas como assistente de outros mestres entalhadores para, enfim, trilhar o seu caminho próprio na condição máxima de mestre nas artes da talha e da escultura.

 

As primeiras notícias em solo brasileiro sobre Servas datam de 1752, em Catas Altas do Mato Dentro, onde ao lado de Manoel Pinto, Martinho Gonçalves e Feliciano Pereira – todos contratados na condição de oficiais entalhadores -, recebe da Irmandade do Santíssimo Sacramento os honorários referentes a trabalhos já executados na Matriz de Nossa Senhora da Conceição da referida localidade.

 

Seu legado de obras artísticas espalhado por diversas cidades do estado de Minas Gerais prima pela classe e elegância reveladas pelo seu cinzel no trato com a madeira. Contudo, é na decoração interna da Igreja de Nossa Senhora do Rosário de Mariana onde reside a verdadeira concepção dos retábulos e esculturas de Francisco Vieira Servas, podendo ser visualizadas a estrutura formal de seus retábulos compostos da famosa arbaleta, de rocalhas e elementos fitomorfos característicos, suas variações anatômicas, seu controle para a disposição das figuras em pontos distintos do retábulo e ainda os detalhes fisionômicos dos seus pares de querubins.

 

Talvez, sem as transformações ocorridas na Capitania, Servas fosse lembrado apenas como outro artista português do período barroco. Entretanto, uma vez envolvido no processo evolutivo que originou os chamados “novos templos” construídos no território aurífero, é digna a constatação de que ele assimilou as novidades estéticas que vieram mudar de forma magistral o panorama da arte exercida na então Capitania das Minas do Ouro.

 

Apesar de português de nascimento Servas foi, juntamente com um seleto grupo de artistas da segunda metade do século XVIII, incluindo-se Aleijadinho, um dos grandes responsáveis pela construção dessa arte com características bastante peculiares e de extrema originalidade que viria a ser denominada por estudiosos do tema de “barroco mineiro”.