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Nº 1308 - Ano 27 - 07.03.2001

A trajetória de um visionário "milenarista"

Livro da professora da Fafich narra a história de

Pedro Henequim, que conspirou contra D. João V

Virgínia Fonseca

unho de 1744. Morre em Lisboa, pelas mãos do Santo Ofício, o português e ex-mineiro Pedro de Rates Henequim. A princípio, sua execução é apenas mais uma entre as tantas que vitimaram "hereges" no século 18, a mando da Igreja Católica. Mas uma análise de seu vasto processo - um calhamaço com mil folhas, contra uma média de 20 - levou a professora Adriana Romeiro, do departamento de História da Fafich, a descobrir uma história fascinante, marcada por uma trama política até então desconhecida.

A saga de Henequim transformou-se no objeto dos estudos de Romeiro em seu projeto de doutorado, iniciado em 1992 na Unicamp, sobre os movimentos milenaristas do Brasil colonial. Os resultados da pesquisa agora estão concentrados no livro Um visionário na corte de D. João V - Revolta e milenarismo nas Minas Gerais, publicado pela Editora UFMG.

Entre março de 1992 e julho de 1996, Romeiro perseguiu "pistas" de Henequim em arquivos e bibliotecas de Minas Gerais, Rio de Janeiro, Portugal e Espanha. "Quase todos os documentos sobre Henequim foram destruídos por ordem do rei de Portugal, D. João V. Tive que montar a história com informações fragmentadas", conta. Ela ressalta que, embora Henequim defendesse de fato idéias heréticas, o verdadeiro motivo da punição foi seu envolvimento em uma conspiração política.

Formação

Pedro de Rates Henequim chegou a Minas Gerais em 1702, aos 20 anos, permanecendo aqui até 1722. Viveu nas regiões de Sabará, Ouro Preto e Serro do Frio, onde teria convivido com índios, escravos africanos, portugueses que viajavam pelo Oriente, e com as idéias milenaristas do Padre Antônio Vieira, difundidas na região através de manuscritos. "Sua formação mesclava elementos das culturas popular e erudita. Ele conhecia as Escrituras, tinha noções de judaísmo e de budismo", informa Adriana Romeiro.

Henequim não só acreditava que haveria mil anos de felicidade terrena, como afirmava que esse reino de felicidade, conhecido como 5º Império, se daria no Brasil. Ao voltar para Portugal, o visionário tenta estabelecer contato com o Infante D. Manuel, irmão de D. João V, para oferecer-lhe a coroa do Brasil, pois, no seu entender, sob domínio português, o paraíso terrestre não seria possível.

Entre a volta de Henequim a Portugal e seu contato com o lnfante passam-se quase 18 anos. O visionário é preso em 1740, ao retornar de uma visita a D. Manuel. Adriana Romeiro acredita que o contato entre os dois ainda era recente na ocasião da prisão. "O rei contava com um corpo de funcionários muito eficiente. Provavelmente, os próprios empregados de D. Manuel o denunciaram", explica.

Após um ano preso na casa de um Desembargador, Henequim foge, mas é recapturado dias depois. Transferido para os cárceres do Santo Ofício, onde foi possível garantir o sigilo que o rei exigia sobre o caso, passa a responder a processo por suas idéias religiosas. Começa, então, o jogo de cartas marcadas, que só tem fim em 1744, com a execução da sentença imposta pela Inquisição portuguesa.

Livro: Um visionário na corte de D. João V - Revolta e milenarismo nas Minas Gerais

Autora: Adriana Romeiro

Editora UFMG

Lançamento: final de março

Preço: R$ 28