Busca no site da UFMG




Nº 1389 - Ano 29 - 27.01.2003

 

UFMG pesquisa medicamento contra pressão alta

Pesquisadores estudam efeito de aminoácidos anti-hipertensivos extraídos do veneno da jararaca

Maurício Guilherme Silva Júnior

oucos poderiam imaginar que os componentes capazes de amenizar a hipertensão, mais conhecida como pressão alta, seriam produzidos por um animal temível como a cobra. O projeto nacional de pesquisa Evasin (Endogenous Vasopeptidases Inhibitors), do qual a UFMG participa, investiga a ação anti-hipertensiva de peptídeos, ou evasins, composições de aminoácidos encontradas no veneno das jararacas.

Desenvolvido com a colaboração do Centro de Toxicologia Aplicada (CAT), do Instituto Butantã, o trabalho resulta do investimento de cerca de US$ 30 milhões, por parte de três empresas brasileiras, ligadas ao Consórcio de Indústrias Farmacêuticas (Coinfar), em novas drogas contra a doença. Na Universidade, pesquisadores do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) e do departamento de Química do ICEx fazem exames pré-clínicos, testam os efeitos dos peptídeos em ratos e buscam novas formulações que permitam a aplicação oral dos compostos.

O trabalho realizado por pesquisadores da UFMG, em parceria com profis-sionais do Instituto Butantã e de outras universidades, retoma investigações iniciadas na década de 60 pelo professor Sérgio Ferreira, da USP de Ribeirão Preto. Ele foi o primeiro a identificar a ação anti-hipertensiva de determinados peptídeos encontrados no veneno da jararaca. "Quando eram picadas pela cobra, a pressão arterial das vítimas diminuía muito.

Isso estimulou os pesquisadores a investigar as propriedades hipotensivas do veneno", conta o professor do departamento de Fisiologia e Biofísica do ICB, Robson Augusto Souza dos Santos, coordenador das pesquisas na UFMG, ao lado dos professores Frédéric Frezard e Ruben Dario Sinisterra.

Divisão do trabalho

O trabalho recomeçou no final da década de 90. Há quatro anos, o professor Antônio Camargo, coordenador do CAT, identificou novos peptídeos na jararaca. Com o interesse do Coinfar em produzir medicamentos contra a hipertensão, o próximo passo foi reunir parceiros. Hoje, a divisão de trabalho é bem definida entre as entidades envolvidas no projeto. Os pesquisadores do Butantã extraíram e purificaram os primeiros peptídeos, que agora são sintetizados em laboratórios da Unifesp.

Os componentes chegam então à UFMG, onde os estudos seguem dois caminhos. No departamento de Química, as investigações concentram-se na busca de formulações capazes de tornar eficaz sua administração pela boca. "O organismo não consegue absorver peptídeos por ingestão oral. As pesquisas tentam encontrar formas de evitar que eles sejam destruídos no aparelho digestivo", explica Robson dos Santos. A segunda vertente dos estudos da Universidade, realizada no ICB, investiga a ação anti-hipertensiva de quatro dos 16 peptídeos encontrados no veneno da jararaca. Ratos transgênicos com hipertensão, criados em laboratórios do instituto alemão Max-Delbruck Center for Molecular Medicine, recebem dosagens do aminoácido e são observados durante 24 horas. Através de computadores, os cientistas podem identificar os efeitos dos aminoácidos no organismo dos ratos hipertensos e até mesmo compará-los com animais sem a doença.

As pesquisas, que devem prosseguir por mais dois anos, apresentam resultados animadores. Os peptídeos facilitam a ação de um aminoácido hipotensor do organismo, a Bradicinina, descoberto na década de 40 pelos professores Wilson Teixeira Beraldo, da UFMG, e Maurício Rocha e Silva, da USP de Ribeirão Preto. Ao mesmo tempo, os peptídeos inibem o sistema hipertensor do corpo, denominado renina-angiotensina. Estima-se que, para produzir os primeiros medicamentos, sejam necessários de 5 a 10 anos de pesquisa.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que a hipertensão é uma das dez principais causas de morte no planeta. No Brasil, dados do Sistema Único de Saúde (SUS) revelam que, só em 1998, cerca de 250 mil pessoas morreram devido a doenças cardiovasculares, causadas, em grande parte, pelo aumento excessivo da pressão arterial.

Projeto: Evasin (Endogenous Vasopeptidases Inhibitors)
Entidades envolvidas: UFMG, Centro de Toxicologia Aplicada (CAT), do Instituto Butantã, e Universidade Federal de São Paulo (Unifesp)
Coordenação na UFMG: professores Robson Augusto Souza dos Santos e Frédéric Frezard, do departamento de Fisiologia e Biofísica (ICB), e Ruben Dario Sinisterra, do departamento de Química (ICEx)
Recursos: US$ 30 milhões
Agente financiador: Consórcio de Indústrias Farmacêuticas (Coinfar)