Busca no site da UFMG
Nš 1498 - Ano 31
01.09.2005



Pesquisadores do ICB descrevem
genomas de bactérias

Ludmila Rodrigues

 
foto: Foca Lisboa

Fabrício: plasticidade

enomas das bactérias Mycoplasma synoviae e Mycoplasma hyopneumoniae foram sequenciados por grupo de profissionais de laboratórios brasileiros, dos quais fazem parte os professores do Instituto de Ciências Biológicas (ICB), Fabrício Santos, Santuza Teixeira e Sérgio Pena. As conclusões do estudo, pioneiro no mundo, estão no artigo Patógenes de suínos e aves: a seqüência completa do genoma de duas linhagens do M. hyopneumoniae e uma linhagem do M. Synoviae, publicado na revista norte-americana Journal of Bacteriology, da Sociedade Americana de Microbiologia (EUA), em sua edição de agosto.
A importância da decodificação dos genomas dos dois microorganismos pode ser medida pelo impacto que eles causam na economia rural. Bactérias Mycoplasma são agentes causadores de doenças respiratórias e das articulações em porcos e aves – geralmente galinhas e perus –, o que compromete as criações suínas e avícolas e interfere na produção de carnes e ovos. “São doenças de difícil diagnóstico. A contaminação pelo Mycoplasma só é detectada quando o animal já está bastante debilitado”, explica a professora Santuza Teixeira, do Laboratório de Bioquímica e Imunologia do ICB.


De acordo com o professor Fabrício Santos, do Laboratório de Biologia Geral, o estudo do genoma, além de contribuir para o diagnóstico das patogenias, pode ajudar no desenvolvimento de vacinas. “No sequenciamento, foram detectados genes com certas proteínas, potenciais alvos de vacina”, afirma. Para ele, o genoma traz, sobretudo, pistas da atuação das bactérias nas células dos animais infectados. Uma caracterísitca é a plasticidade genômica. “Isso significa que os DNAs são altamente flexíveis, isto é, o gene possui alta capacidade de mudança genética”, explica.

Estrutura simplificada

foto: Foca Lisboa

Santuza: genoma reduzido

O mapeamento do genoma dos Mycoplasmas também levantou questões referentes a aspectos evolutivos dos organismos. A Mycoplasma foi a primeira bactéria seqüenciada no mundo, o que possibilita estudos comparativos entre as diversas espécies. “São bactérias de genoma reduzido”, acrescenta. Segundo a professora Santuza Teixeira, apesar da estrutura simplificada das Mycoplasmas, seus genes se recombinam facilmente. Tal característica a leva a perguntar: “Qual o conteúdo mínimo de genoma para a existência de um ser vivo ?”.

O estudo foi realizado pela Rede Sul de Análise de Genomas e Biologia Estrutural (Genesul) e pela Rede Nacional de Seqüenciamento de DNA (BRGENE), consórcio de 25 laboratórios ligados a universidades e instituições de pesquisa brasileiras, como as universidades federais do Paraná, Pelotas, Ceará , Rio de Janeiro, entre outras. Criada em 2000 pelo Ministério da Ciência e Tecnologia, a BRGENE tem realizado trabalhos de sequenciamento e, em 2003, detalhou o genoma da Chromobacterium violaceum, bactéria que produz substâncias identificadas como antibióticas e que podem ser usadas no combate ao câncer.

* Mycoplasmas debilitam sistema imunológico

O Mycoplasma hyopneumoniae é o agente da pneumonia micoplásmica suína e afeta o trato superior dos animais, o que pode debilitar o sistema imune dos porcos e favorecer o aparecimento de infecções secundárias. A maior parcela do rebanho suíno brasileiro está presente na Região Sul, que abriga cerca de 38 milhões de cabeças ou 34% do rebanho nacional.
Já o Mycoplasma synoviae ataca as aves, causando doenças nas articulações. A bactéria é transmitida pelos ovos, o que dificulta sua erradicação. O Brasil é o terceiro maior produtor de carne de frango do mundo e o primeiro exportador do produto. A produção nacional corresponde a cerca de 8,4 milhões de toneladas em 2004, e as exportações alçançaram 2,4 milhões de toneladas.

Fonte: Rede Sul de Análise de Genomas e Biologia Estrutural e Rede Nacional de Sequenciamento de DNA