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Nº 1528 - Ano 32
27.04.2006

Livre das garras de Zeus

Montagem da UFMG satiriza o drama do titã Prometeu, aprisionado pelo deus supremo da mitologia grega

Manoella Oliveira

le foi o mais humano dos titãs gregos. Tanto que roubou o fogo dos deuses e o entregou aos homens. Enfurecido, Zeus o aprisionou a uma rocha no Monte Cáucaso onde, a cada dia, uma águia devorava-lhe o fígado, que se regenerava durante a noite. O mito de Prometeu, consagrado pela tragédia grega Prometeu Acorrentado, de Ésquilo, está ganhando uma inédita versão satírica no Brasil, montada por alunos de várias unidades da UFMG, sob a liderança da Faculdade de Letras.

Com o nome de Prometeu Liberto, o espetáculo, viabilizado pelo programa Artista Visitante, estréia, em junho, no Teatro de Arena, da Serra da Piedade. “Com o drama satírico, fizemos uma opção por uma abordagem mais irreverente, embora o gênero não seja estudado e nunca tenha sido encenado no Brasil”, explica a professora Tereza Virgínia Ribeiro Barbosa, coordenadora do Programa Letras e Textos em Ação, ao qual o projeto é vinculado.

Divulgação

Elenco da peça Prometeu Liberto, montada por alunos da UFMG

Dirigida por Geraldo Octaviano, artista convidado da Fale, a peça conta com a participação de uma equipe multidisciplinar da UFMG formada por bolsistas e voluntários de áreas que vão das Artes Cênicas à Física. A coordenação do projeto está a cargo da própria Tereza Virgínia e do professor Marcos Antônio Alexandre.

“Prometeu exigiu atores, produção de texto, tradução de fragmentos de dramaturgia grega e pesquisas. Convidamos estudantes e professores de áreas que nem imaginávamos e assim o projeto ganhou outra dimensão”, explica Tereza Virgínia. Uma disciplina criada na Fale permitiu que os alunos se debruçassem sobre o texto, contando com o auxílio da professora Sônia Queiroz e com a supervisão de pesquisadores do projeto Contos de Mitologia.

O elenco é formado por 15 alunos do curso de Teatro da UFMG, além de convidados, como o ator e diretor Glissério Rosário, voluntário na dramaturgia. A trilha sonora, composta para instrumento de orquestra, está a cargo de Ronaldo Cadeu, ex-aluno da Escola de Música da UFMG. Sua execução será feita, ao vivo, por alunos de Música da Uemg e da UFMG.

Simbologia
“O mito de Prometeu é muito rico e ainda tem muito a dizer. O fogo pode assumir tanto o papel do mal quanto o do bem. Neste último caso, ele está associado ao conhecimento e à criatividade. Para desvendar a simbologia, basta dialogar com o contexto”, teoriza Marcos Antônio Alexandre, um dos coordenadores do projeto. Significados que aparecem, inclusive, no cenário. “O espetáculo se adapta ao espaço. Não apenas a seu físico, mas a elementos afetivos e históricos”, conta o diretor Geraldo Octaviano.

Além de atender às especificidades das tragédias gregas – que devem ser encenadas ao ar livre, em ambientes com panoramas espetaculares –, a escolha da Serra da Piedade como cenário trouxe para o projeto o professor Renato Las Casas, coordenador do Observatório Astronômico Frei Rosário. Sua presença na produção não é figurativa, como sugere a própria etimologia da palavra Prometeu, que significa “previdente”, e está ligada à leitura do céu. Por isso, a data de estréia da peça, 23 de junho, foi escolhida a dedo. “O céu está carregado de mitologia e a estréia da peça se dará num contexto especial, em que Zeus, Júpiter, estará no centro”, justifica Tereza Virgínia. As cenas concebidas à luz da astronomia foram escritas por alunos da Física.

O caráter interdisciplinar do projeto também abriu espaço para estudantes de Geografia. “Prometeu foi acorrentado no Cáucaso. Para representar essa região da Rússia, precisávamos fazer pesquisa topográfica e convidamos a professora Maria Luíza Grossi, da Geografia”, justifica a coordenadora.

Artista Visitante - Programa gerenciado pela Pró-Reitoria de Pesquisa, o Artista Visitante convida, a partir de solicitações das unidades acadêmicas, profissionais de reconhecida competência a desenvolver projetos na Universidade. Além de Geraldo Octaviano, os outros artistas visitantes em atividade na UFMG são a artista plástica Nydia Negromonte (EBA); o desenhista Jarbas Juarez Antunes (Diretoria de Ação Cultural); o arquiteto Sylvio de Podestá (Escola de Arquitetura); e mestres das tradições maxacalis (Escola de Música).