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Nº 1724 - Ano 37
31.01.2011


Malhação SUSPEITA

Monografia alerta para erros em programas de musculação divulgados pela internet

Ana Maria Vieira

 
Manuscrito
Incrível Hulk inspirou programa de musculação oferecido na web

“A receita está dada. Basta jantar”, sentencia um dos 15 sites especializados em prescrever treinamento em musculação analisados por Luigi Guimarães, em monografia defendida em dezembro, no curso de graduação em Educação Física da UFMG. Pelo grau de detalhamento do estudo, sabe-se: não é apenas uma frase de efeito, mas prática corrente no ambiente virtual “embrulhar” anonimamente orientações para atividades complexas, sem considerar o perfil dos usuários.

“Esses sites dispensam todos os princípios científicos de treinamento esportivo”, diz Luigi. Ele considera que o problema é maior do que se imagina e projeta que, nessa área, pelo menos 90% do que se oferece ao público não é seguro. “Por ser um meio democrático em que todos se expressam, não existe filtro na internet. Mas também não há como o leigo saber se a informação foi produzida por especialista ou amador”, observa.

Para selecionar os programas, Guimarães realizou pesquisa em site de busca usando as palavras-chaves musculação, programas de treinamento e prescrição do treinamento. Os 15 treinamentos avaliados encontram-se em sites portugueses e brasileiros.

O rol de equívocos e orientações pouco confiáveis contidos neles é extenso. Em comum, não descrevem como realizar os exercícios indicados e oferecem ao leitor fórmulas que teriam sido bem-sucedidas para terceiros. O programa de musculação do intérprete do Incrível Hulk, por exemplo, é um dos modelos.

Nesse ambiente, a “desregulamentação” profissional é corrente. Muitas vezes, os treinamentos são recomendados em páginas eletrônicas de praticantes do chamado body building ou de pessoas interessadas em manter seguidores. Chovem, nessas últimas, as dicas para obter o corpo perfeito em poucas semanas.

“No estudo tento colocar a questão de o indivíduo parar e pensar: vale a pena?”, revela Guimarães. O risco, segundo ele, é real para quem nunca se exercitou e não sabe avaliar a carga ideal de treinamento. “Os programas devem ser prescritos por profissionais. Eles levam em conta o histórico do indivíduo com a atividade física, suas lesões, idade e patologias. Trata-se de importantes princípios fisiológicos do treinamento esportivo”.

Carga pesada

Tal cuidado, ou conhecimento, no entanto, está ausente nos sites avaliados. E isso decorre tanto de seus exercícios terem aspecto de “genéricos” – pois são destinados a grande número de pessoas –, como de um erro básico na compreensão do que é carga de treinamento. “Para eles, carga é sinônimo de peso”, esclarece Guimarães. “Essa associação leviana pode até ser feita por um leigo, mas não por uma pessoa que se dispõe a prescrever um treinamento esportivo”, acrescenta.

Como explica o autor, os componentes de carga se referem a volume, intensidade, densidade, frequência e duração dos treinamentos. Em cada um dos sites, essas variáveis foram pesquisadas por meio de ocorrência de prescrições quanto ao número de exercícios, repetições, sessões e séries, previsão de pausas e indicação do peso utilizado. “Em um universo de 15 treinamentos escolhidos aleatoriamente, somente um possuía todos os componentes da carga e com ressalvas”, resumiu o autor em sua monografia. É da combinação desses componentes que são feitos os programas individuais, para atingir diversos objetivos: aumento de resistência, força e hipertrofia muscular. A equação, no entanto, não é fácil de montar.

Professor de musculação em academia de Belo Horizonte, Luigi Guimarães ressalta a importância de a universidade pesquisar o fenômeno da autoprescrição na área – tendência cada vez mais acentuada no contexto da popularização da web. “A influência dessas informações é bastante expressiva entre o público. Além disso, sua análise pode servir de referência para profissionais no futuro.”

Monografia: Análise de programas de treinamento na musculação prescritos na internet
Orientador: Fernando Vitor Lima
Unidade: Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional da UFMG