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Nº 1732 - Ano 37
04.04.2011
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Fred Lamêgo
Gás nobre encontrado na atmosfera, cuja formação se dá por transformações naturais a partir da emissão de radiação do tório e urânio, processo denominado decaimento radioativo
Em algumas residências e ambientes fechados da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), a concentração de radônio é superior aos níveis preconizados por órgãos internacionais que medem a radioatividade natural e à média identificada em outras cidades submetidas a estudos similares.
É o que revela dissertação de mestrado da pesquisadora Talita de Oliveira Santos, recentemente defendida no programa de pós-graduação em Ciências e Técnicas Nucleares da Escola de Engenharia. Intitulado Distribuição da concentração de radônio em residências e outras construções da região metropolitana de BH, o estudo identificou que 15% das 540 residências e construções analisadas apresentaram concentrações superiores aos limites de 150 e 200 Bq. m-3, definidos pela Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (Usepa) e pela Comissão Internacional de Proteção Radiológica (ICRP) como inofensivos à saúde humana. Bequerel (Bq. m-3) é a unidade de medida da intensidade da radiação. O trabalho também permitiu à pesquisadora concluir que a quantidade do gás presente nesse tipo de ambiente tem grande variabilidade de um lugar para outro. Os valores vão de 4,0 a 1576 Bq. m-3
De acordo com Talita Santos, as altas concentrações de radônio se justificam pelo fato de a maior parte da RMBH estar situada em terreno cujo embasamento geológico é composto principalmente por rochas graníticas, que apresentam grande concentração de radionuclídeos naturais. Além disso, os materiais usados na construção civil, dependendo de sua origem geológica, também contribuem para o aumento da concentração do gás radônio em ambientes fechados.
Mesmo com essa variabilidade, a pesquisadora diz que os valores apurados em Belo Horizonte são superiores aos encontrados em outros trabalhos similares realizados nas cidades de Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba, Poços de Caldas e Campinas.
Esses dados, destaca Talita, não permitem afirmar que moradores da RMBH corram riscos. “Essa é uma pesquisa screning – estudo para levantamento de dados. Por ele, não é possível concluir que a concentração encontrada causa risco à saúde. O que podemos afirmar pelos resultados obtidos é que a RMBH pode apresentar altas concentrações médias de radônio. O real impacto disso depende de trabalhos mais aprofundados”, destaca.
O estudo foi realizado durante um ano. “Inicialmente, conversamos com as pessoas e perguntamos se queriam participar do estudo. Os primeiros lares pesquisados eram de pessoas próximas a nós: parentes, amigos e colegas de trabalho”, conta a pesquisadora. Em outra etapa, a pesquisa passou a aplicar técnicas de geoprocessamento. “A partir daí, constatamos que era necessário pesquisar mais residências, procurando distribuição mais compatível com a densidade demográfica”, justifica.
Após a abordagem inicial, a equipe da pesquisa instalou, no interior das residências, detectores de câmara de ionização de eletretos, que mede a concentração do radônio. “O gás difunde para o interior dessa câmara e decai emitindo partícula alfa. Tal partícula ioniza o ar da câmara, produzindo íons, que são continuamente atraídos pelo eletreto. Essa superfície foi avaliada antes de ser instalada nas residências e reavaliada após os três dias em que passou medindo o ar do interior dos ambientes. A diferença encontrada permitiu calcular a concentração de radônio”, diz.
Foto: Sara Grunbaum |
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Talita Santos: dados não indicam risco à saúde |
De acordo com Talita, o radônio em si não oferece riscos significativos à saúde, pois é um gás inerte. “Ele é inspirado e logo expirado, sem sofrer qualquer tipo de reação”, diz. Ela esclarece ainda que o gás, em ambientes externos, não alcança concentrações perigosas. O problema reside nos produtos gerados pelo decaimento radioativo que são sólidos e, quando inalados, vão para o trato respiratório e permanecem ali em processo de desintegração radioativa. Normalmente, ambientes fechados têm propensão a acumular esses radionuclídeos. “A energia da radiação emitida por esses elementos é totalmente absorvida pelo tecido pulmonar, podendo causar câncer de pulmão”, explica a pesquisadora.
Entidades internacionais, como a Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (IARC), classificam o radônio como carcinógeno de classe I, o que indica alto risco à saúde. Segundo a agência de proteção ambiental norte-americana, o radônio é o segundo maior fator de risco para câncer de pulmão, perdendo apenas para o cigarro. O gás também é responsável por metade da radiação natural à qual o homem está exposto.
Dissertação: Distribuição da concentração de radônio em residências e outras construções da Região Metropolitana de BH
Autora: Talita de Oliveira Santos
Data da defesa: 2010
Programa: Pós-graduação em Ciências e Técnicas Nucleares
Orientador na UFMG: Arno Hereen de Oliveira
Orientadora no Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear (CDTN): Zildete Rocha