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Nº 1772 - Ano 38
23.4.2012

Serviço de geolocalização integrado ao Google Maps, que permite ao usuário navegar por imagens em 360º, ao nível da rua.

Where’s Big Ben?

Fruto de parceria entre pesquisadores da UFMG e da Universidade de Cambridge, game lançado em Londres testa capacidade de reconhecimento de lugares

Gabriella Praça

De que forma reconhecemos os diferentes lugares da cidade onde moramos? Esse questionamento está na origem do game Urbanopticon (www.urbanopticon.org), desenvolvido pelo aluno de mestrado em Ciência da Computação da UFMG João Paulo Pesce, em parceria com o pesquisador da Universidade de Cambridge Daniele Quercia. Lançado em Londres no início deste ano, o jogo vai além do simples entretenimento, já que pretende contribuir para a promoção de intervenções urbanas nos locais em que isso for necessário. Por meio de respostas dos usuários, a proposta é desvendar os lugares mais ou menos identificáveis, de forma a construir um mapa da facilidade de reconhecimento da capital inglesa.

O Urbanopticon é um game gratuito que colhe localizações aleatórias do Google Street View e testa os usuários, para conferir se eles reconhecem as imagens exibidas. Como os londrinos se localizam mais por estações de metrô do que por bairros, foram disponibilizadas duas formas de precisão, com diferentes pontuações. Ganha mais pontos quem acertar a estação de metrô mais próxima do local mostrado. Após dez respostas, o usuário pode compartilhar o resultado em seus perfis no Twitter e no Facebook e preencher um pequeno questionário, com informações pessoais como gênero, profissão e etnia.

A cidade e sua imagem

O projeto se baseia em estudos sobre planejamento urbano desenvolvidos a partir da obra A imagem da cidade, lançada em 1960 pelo pesquisador Kevin Lynch. Nela, o autor formulou o conceito de “imaginabilidade”, como meio de orientar a edificação e a reconstrução das cidades: uma “boa imaginabilidade” promove a sensação de bem-estar e familiaridade entre os habitantes de determinada região. O avanço dessa corrente teórica tem demonstrado que se trata de um fator mensurável, por meio de mapas, da capacidade de reconhecimento de um local, entre outros recursos.

“Pretendemos descobrir quais são os lugares mais reconhecíveis de Londres e, a partir do resultado, estudar por que esses locais são mais facilmente identificáveis que outros”, adianta o codesenvolvedor brasileiro do Urbanopticon, João Paulo Pesce, que é orientado pelo professor Virgílio Almeida. Segundo ele, estudos na área sugerem que dois fatores contribuem para isso: alta frequência, já que é mais fácil para o morador identificar um lugar por onde ele sempre passa, e peculiaridades da arquitetura local. “Se a pessoa chega em um bairro com muitas edificações antigas, por exemplo, ela já sabe que, provavelmente, está no centro histórico da cidade”, observa.

Os dados coletados servirão de instrumento para o trabalho de profissionais que atuam na concepção e no desenvolvimento do espaço urbano, como arquitetos, urbanistas e designers. “A partir do grau de facilidade de reconhecimento de um lugar, é possível planejar intervenções a serem feitas em praças ou em monumentos, de forma a criar a sensação de pertencimento, e torná-lo mais reconhecível para a população”, analisa Pesce.

A proposta, agora, é disponibilizar o jogo para diversas partes do mundo, possibilitando o estudo das diferenças culturais. “Também pretendemos desenvolver mais recursos técnicos, como ferramentas que proporcionem aos usuários acesso aos resultados do estudo em tempo real”, revela o mestrando. Os próximos países a receber o jogo devem ser a Índia e o Brasil – nas cidades de Belo Horizonte e Rio de Janeiro.