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Revista da Universidade Federal de Minas Gerais
Ano 7, nº 13 - fevereiro de 2008

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O futuro é inclusivo

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Angela Bacon

ANA RITA ARAÚJO

Especialistas projetam cenário propício à incorporação de segmentos sociais que até hoje estão à margem da universidade

Há 80 anos, quando a UFMG foi constituída pela “nata” da sociedade mineira, era praticamente impossível imaginar uma universidade plural, capaz de abrigar segmentos marginalizados como afro-descendentes e índios. Esse elitismo, porém, não era “privilégio” da Universidade: ele também perpassava outras instâncias sociais.

Essa análise é feita pelo líder de uma das minorias não-representadas no famoso quadro de Gentil Garcez que simboliza a criação da então Universidade de Minas Gerais (UMG). Nem de longe havia nele alguém que lembrasse Ailton Krenac, o autor da avaliação acima, ou qualquer outro integrante de sua etnia.

“O segmento da sociedade que a UFMG ouvia era diferente daqueles que hoje têm voz, e isso ocorre porque a universidade é um organismo capaz de se modelar às mudanças da comunidade que o gerou”, argumenta Krenak, assessor especial para Assuntos Indígenas do Governo de Minas Gerais. Se o passado foi excludente para as minorias na universidade e em outras organizações sociais, o futuro promete ser mais luminoso. “Quanto mais esse organismo avança para ser universidade, mais inclusivo se torna”, define o esperançoso Krenac.

Caminho sem volta

Para muitas correntes na Universidade, incluindo aquelas que a vêem com reservas, a inclusão é tida como um processo natural. “Certamente, a UFMG vai adotar alguma medida que, mantendo uma exigência mínima de desempenho, tenda a favorecer um pouco os alunos egressos de escolas públicas”, projeta o professor Mauro Mendes Braga, pró-reitor de Graduação. Cauteloso, ele ressalta, no entanto, que as ações tomadas pela Universidade nessa direção têm limites e não podem ser isoladas. “Elas dependem, a longo prazo, de mudanças sociais”, acredita.

Para o professor José Francisco Soares, coordenador do Grupo de Avaliação e Medidas Educacionais (Game), da Faculdade de Educação (FaE), seria absurdo imaginar que não existe excelência fora das camadas socialmente privilegiadas. Ele adverte que não se pode pensar em um aumento das divisões que marcam a sociedade atual. “Temos que sonhar com uma UFMG que acolha toda competência que quer ser cidadã. Pessoas que dêem uma expressão pública à sua competência.” E destaca: “Esse é o sonho, mas não são eles que definem a história, e sim o conflito das forças sociais”.

Também o professor Juarez Dayrell, da FaE, acredita que a pressão da sociedade pode forçar a Universidade a se abrir mais. Ele diz que nos últimos anos tem havido uma perspectiva de ampliação da consciência social no Brasil, com mais sensibilidade para a dimensão das desigualdades e injustiças. “Mesmo que internamente haja uma correlação de forças desfavorável, a própria pressão social vai levar a uma mudança interna”, diz Dayrell. Ele é coordenador do Observatório da Juventude, programa que realiza atividades de investigação, levantamento e disseminação de informações sobre a situação dos jovens na Região Metropolitana de Belo Horizonte.

Ailton Krenak acredita que a universidade precisa ser uma fonte inesgotável de novidade e, conseqüentemente, ser capaz de incorporar todas as diferenças. Ele afirma ter esperança, não pelo que vê agora, mas pelo que enxerga na natureza desse organismo – “sua capacidade de se reorganizar, sua capacidade de invenção”. Segundo Krenak, mesmo em uma sociedade dividida, a Universidade pode gerar novos espaços para a resolução de conflitos, pois deve “ir à frente, a um futuro inimaginado, buscar essas respostas”.

Inspirado na artesã Alice Brill – autora da obra Da arte e da linguagem –, Krenak afirma que em vez de imaginar que o mundo caminha para um progresso utópico e cada vez mais distante e inacessível, “podemos nos voltar para as nossas origens, na busca de inspiração e de valores permanentes”. Segundo ele, esse pensamento o tem inspirado a olhar para a universidade e identificar os valores humanos que são permanentes, válidos para qualquer lugar do mundo. “Devemos, em nome da liberdade dos povos, fortalecer esses lugares, guardá-los, reverenciá-los, como se deve guardar a natureza.”

A professora Antônia Vitória Aranha, diretora da FaE, não tem dúvidas quanto a um futuro mais inclusivo para a UFMG. “Ela vai ter que resistir muito para não ser inclusiva”, diz a professora, ao se referir à pressão dos movimentos sociais e a iniciativas do próprio governo federal. “Alguma forma de inclusão ela vai adotar, mesmo que seja a pontuação relativizada, no vestibular, para quem vem de escola pública e para negros, o que também é válido, embora não contemple todas as necessidades”, avalia.
Para Antônia Vitória, a UFMG terá que se abrir de alguma maneira, o que a tornará uma instituição “maior”. “Qualidade social qualifica ainda mais a Universidade”, reitera.

Modelo em aberto

Se o futuro aponta para uma universidade mais inclusiva, qual o modelo a ser adotado pela UFMG? “Não me fecho em apenas um mecanismo de inclusão”, diz Antônia Vitória. Na defesa das cotas, ela afirma que não se podem colocar desiguais para competir de uma forma igual. “O vestibular parte do pressuposto de que todos tiveram as mesmas chances e oportunidades. Como lembra o ministro Joaquim Barbosa, do Supremo Tribunal Federal, a melhor maneira de perpetuar as desigualdades é tratar os desiguais de forma igual.”

Para Juarez Dayrell, cotas não são a única solução. “É a mais imediata, pois já foi testada em outros países. Mas existe uma criatividade social, e se pode investir no sentido de construir alternativas”, destaca. Outro caminho possível, na sua opinião, é o Programa Ações Afirmativas, iniciativa institucional da UFMG, sediada na FaE e coordenada pelas professoras Nilma Lino Gomes e Antônia Vitória Aranha. Trata-se de um projeto de estímulo à permanência na Universidade, que acompanha os alunos e os auxilia a vencer as barreiras da diferença.

“Vejo as cotas e o Ações como momentos necessários, mas provisórios, até que a própria sociedade adote outros mecanismos estruturais de igualdade”, assevera Dayrell.

Com relação à criação de novos cursos noturnos – política adotada como prioritária pela UFMG porque comprovadamente eles recebem maior número de alunos egressos de escolas públicas –, Antônia Vitória destaca que os estudos feitos pela UFMG e a experiência na FaE mostram que os alunos do noturno têm desempenho semelhante aos do diurno. “Não há diferença em termos de aproveitamento. Pelo contrário, temos até uma certa dívida para com os estudantes do noturno, porque eles muitas vezes fazem tanto quanto os do diurno, sem que haja uma infra-estrutura na Universidade suficiente para isso. Em algumas unidades acadêmicas, não há sequer bibliotecas funcionando à noite”, exemplifica a professora.

Outra hipótese em estudo é a mudança no concurso vestibular. Em artigo publicado no livro Universidade e democracia – experiências e alternativas para a ampliação do acesso à universidade pública brasileira, organizado pela professora Maria do Carmo de Lacerda Peixoto, o professor José Francisco Soares discute a implementação de cotas na UFMG para alunos egressos de escolas públicas. Segundo ele, há candidatos que deixam de entrar na Universidade por diferenças muito pequenas nas notas alcançadas no vestibular. “Essa diferença não diz que eles não são capazes”, garante.

Ele explica que o aluno de escola pública vem, em geral, de família “sem capital cultural” e, apesar da sua capacidade individual, não se desenvolve da mesma maneira que o estudante da escola particular. Isso se deve ao chamado “efeito dos pares”, segundo o qual o concurso mede não apenas a proficiência que é fruto do mérito pessoal dos candidatos, mas a que é socialmente construída. “No vestibular, o estudante da escola pública perde, por alguns poucos pontos, o que a história de exclusão dele não lhe permitiu alcançar”, comenta Soares. “Sobre esses alunos não tenho nenhuma dúvida: eles deveriam estar dentro da Universidade, que, para recebê-los, deveria mudar seu processo de acesso”, reitera.

Soares lembra ainda que a UFMG tem exemplos que a distinguem, como a Fundação Universitária Mendes Pimentel (Fump), que há décadas possibilita a permanência de estudantes carentes nos cursos da Universidade. “Eu próprio estou na Universidade por causa da Mendes Pimentel, que é um instrumento fantástico”, afirma o professor. “Aquela sociedade (a da primeira metade do século 20) criou a Mendes Pimentel. A nossa sociedade, que é completamente diferente, deveria criar estruturas com o potencial de impacto que teve a Fump na época. Temos o desafio de produzir hoje algo semelhante àquela idéia. Não é um projeto fácil, porque se procura um equilíbrio de direções quase antagônicas – a inclusão e a excelência –, mas, esse é o nosso desafio”, afirma.

Com valor de superior

Embora sonhe com uma universidade mais inclusiva, Juarez Dayrell também vislumbra uma sociedade em que o ensino superior deixa de ser visto como única válvula de mobilidade social, e o diploma como condição exclusiva de melhoria de qualidade de vida. Segundo ele, a visão que prevalece hoje foi construída principalmente a partir da década de 1950, com o desenvolvimentismo. “Desejo que o Brasil mude qualitativamente a sua concepção de trabalho. Quero que o nível técnico tenha tanto valor quanto o nível universitário”, diz o professor. Ele acredita que, desse modo, os jovens poderão, a partir de suas aptidões pessoais, seguir o curso superior se assim lhes aprouver, ou fazer ensino técnico, “que será tão legítimo e valorizado socialmente quanto o ensino superior”.

Na opinião de Dayrell, esse é o ideal de inclusão, de modo que o conjunto da população juvenil possa entrar no mercado de trabalho com base na compreensão de suas aptidões pessoais, capacidades e desejos. “Assim, a universidade se descaracteriza como a única via possível. Ela deve ser a via daqueles que sonham com uma determinada profissão que necessariamente tenha de passar pelo ensino superior. O problema é que hoje 70% de quem freqüenta a universidade o faz devido a pressões sociais”, completa.

Resposta à apatia

Na opinião do professor Juarez Dayrell, apesar dos debates em torno do tema, a perspectiva da inclusão é muito mais forte devido à influência social do que por aspiração da universidade. “Os avanços registrados na UFMG nos últimos anos vieram muito mais por pressão externa. O próprio Reuni [Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais] é uma resposta do governo a uma certa apatia das universidades em atender à necessidade de expansão”, exemplifica.

Ao imaginar a UFMG do futuro, Dayrell prevê mecanismos de gestão mais democráticos e transparentes. “As instâncias são ainda muito burocráticas”, critica. E menciona entraves aparentemente pequenos, mas difíceis de serem transpostos, como a dificuldade para que um aluno possa reclamar de um professor, ou para que uma demanda da comunidade universitária chegue aos órgãos de deliberação superior. “A inclusão também precisa ser interna”, defende.

Vencida a barreira do acesso, muitos jovens deparam com outra, talvez até mais difícil de superar: a da aceitação. É o que diz a professora Maria Aparecida Moura, coordenadora da Pós-Graduação da Escola de Ciência da Informação. Para ela, o jovem negro, pobre e oriundo de escola pública não se sente aceito na universidade. “O desenho perfeito na cabeça dos professores universitários é, em geral, um jovem que tenha vivência de língua, habilidade computacional, conhecimento histórico e geográfico resultante de experiências de viagens”, diz ela, lembrando que o jovem que nunca saiu de Belo Horizonte ou veio do interior, nas condições mais adversas, passa por situações muito difíceis. “Ele sempre acha que está devendo em relação ao que os professores esperam dele”, comenta, ao defender a adoção de políticas como o Ações Afirmativas.

Segundo a professora Antônia Vitória, o programa desenvolve, com alunos negros de diferentes períodos, aspectos cognitivos e identitários. No aspecto cognitivo, são trabalhados a produção de texto e a metodologia de pesquisa, para formar bons pesquisadores e ajudá-los a construir seus projetos de mestrado; no âmbito identitário, há discussões sobre o que é ser negro e negra no Brasil. “Nossos alunos chegam aqui absolutamente tímidos, não têm coragem de olhar para a gente. E aprendem a ver que o cabelo deles é bonito, que a beleza não está só na branquitude, mas também na negritude”, relata Antônia Vitória.

Para Maria Aparecida Moura, entretanto, não basta ampliar o acesso nem garantir a permanência dos diversos extratos sociais nos cursos de graduação. É preciso, em sua opinião, que alcancem postos na hierarquia acadêmica e administrativa da UFMG. “Assim, eles poderão empreender políticas novas com um olhar mais inclusivo”, defende.

Aparecida Moura também identifica “novas categorias de racismo e de elitismo”, como a dificuldade de acesso aos cursos de pós-graduação. “Fala-se muito em inclusão, mas será que vamos incluir em todos os níveis? A elite de pensamento vai mudar? Eu desejo que meu aluno vá além de onde eu fui, que ele desbrave fronteiras que eu não fui capaz de desbravar. Eu quero que ele seja elite de pensamento, que ele queira ser ministro da Educação, reitor, pró-reitor. Eu quero que ele saiba que ele pode”, afirma.

Juarez Dayrell cita duas experiências que considera “muito significativas” como formas de garantir a inclusão. Ele conta que, em 2003 e 2004, desenvolveu projeto com jovens ligados a grupos culturais que participaram, de forma não institucional, de disciplinas na UFMG. “O resultado foi muito interessante para os professores que os receberam, porque eles trouxeram um tipo de realidade muito diversa para a sala de aula. Para os jovens, foi uma experiência fantástica, porque abriu a eles a própria realidade da universidade como algo possível.” Como resultado, alguns voltaram a estudar, e hoje vários estão na universidade.

Em outro projeto de extensão, o professor levou alunos bolsistas a favelas, para conviver com jovens de camadas populares. “É uma experiência muito significativa na formação dos nossos alunos, pois cria uma sensibilidade social que favore a superação das diferenças”, relata Dayrell.

Raça, um sofisticado mecanismo de opressão

No artigo A genética e os debates das ações afirmativas, publicado na revista Afirmativa Plural em setembro de 2007, o pesquisador Sérgio Danilo Pena, do departamento de Bioquímica e Imunologia do Instituto de Ciências Biológicas, explica que “os rótulos previamente usados para distinguir raças não têm significado biológico”. Entretanto, admite a existência, na sociedade brasileira, de grave desigualdade social e econômica “que precisa ser combatida e corrigida”, e afirma que “adotar políticas públicas de ação afirmativa é um dos caminhos possíveis e desejáveis”.

Em artigo mais extenso, publicado em 2003, Pena discute a dificuldade – do ponto de vista da genética – de se identificar quem é negro. “Desta forma”, diz o artigo, “deve ficar claro que, se e quando a expressão ‘raça’ for utilizada, ela irá representar uma construção social, política ou cultural, e não uma entidade biológica”. Mesmo assim, destaca o professor, “as sociedades humanas construíram elaborados sistemas de privilégio e opressão baseados nessas insignificantes diferenças genéticas, que envolvem pouquíssimos genes”.

“É inegável que socialmente as raças existem, como existe o preconceito”, diz a professora Antônia Vitória. Com relação à dificuldade de definir quem é negro, a professora concorda que há uma zona de transição e que nem sempre é claro o pertencimento étnico das pessoas. “Mas acho que é um falso problema”, adverte. “Nas universidades que implantaram cotas não houve grandes problemas com relação a isso. Há erros? Pode ser que haja um ou outro. Mas isso não pode invalidar um mecanismo de inclusão”, reitera.

Onde entra a excelência?

Com a inclusão emerge outra problemática, a da excelência, e algumas correntes na Universidade temem que a convivência entre elas não seja das mais harmoniosas. Na base da discussão sobre a adoção de cotas étnicas e sociais, da abertura de cursos noturnos ou de modificações no concurso vestibular, reside o receio de que a Instituição se descaracterize como lugar de reconhecida excelência.

“Acho que a UFMG tende a caminhar para um processo social de inclusão em detrimento do mérito. Penso que é isso que ela vai fazer, e discordo desse caminho”, opina o professor Marcus Vinícius Freitas, da Faculdade de Letras, ex-coordenador do Vestibular da Instituição.

Ele adverte que, se assumir que o mérito não é a sua baliza fundamental, a universidade tende a se tornar obsoleta. “No momento em que ela esvaziar a idéia de mérito, alguém vai ocupar esse lugar, porque a sociedade se pauta, sim, pela idéia de mérito”, ressalta. Na sua opinião, mais do que abrir as portas para a inclusão, cabe à Universidade mostrar à sociedade que seu verdadeiro papel é “o de produzir conhecimento de qualidade, de resguardar o conhecimento do passado e transmiti-lo às gerações futuras, de inovar do ponto de vista do conhecimento, em todas as áreas”.

Mérito e justiça

Para o professor Juarez Dayrell, da FaE, o mérito é a solução que a democracia encontrou para resolver a questão das diferenças. “Penso que foi a melhor solução até então, mas ainda aquém, porque o mérito não significa que é justo”, opina. Dayrell comenta que o vestibular, baseado na meritocracia, reforça a desigualdade. Ele cita como exemplo os aprovados para cursos mais concorridos, como Medicina. “Boa parte do que eles têm de acúmulo é em função do meio social em que nasceram, e não por capacidades individuais.” Em contrapartida, jovens de camadas populares, com grande potencial, têm pouco acesso à universidade. Na sua opinião, a prova está nas universidades que adotaram as cotas, cujos alunos têm tido uma resposta muito mais significativa do que aqueles que entraram via vestibular. “Isso descaracteriza totalmente a crítica mais comum às cotas que é o rebaixamento do nível da universidade”, reitera.

Antônia Vitória Aranha cita outro exemplo: os alunos que chegaram às instituições via ProUni ( Programa Universidade para Todos) têm, em geral, melhor desempenho que os alunos comuns. “São estudos feitos, comprovados. Isso mostra que as cotas não comprometem o mérito, apenas inquirem como o mérito é apurado”, diz a professora.

Ela compara hipoteticamente dois alunos que prestaram concurso vestibular para Medicina. O primeiro, oriundo de escola particular e de uma família que lhe deu todo o suporte necessário ao longo da vida, incluindo a contratação de professores particulares em momentos específicos. “Este tem computador em casa, seus pais têm curso superior. Ele é aprovado com 9,5.” O segundo candidato estudou trabalhando, veio de escola pública, fez um cursinho comunitário, tirou 7,5 a 8 no vestibular de Medicina e foi reprovado. “Quem tem mais mérito? Em quem se apostaria mais em termos de futuro e de desenvolvimento escolar? Para mim, tem mais mérito aquele que, apesar das condições adversas, conseguiu uma nota razoável, ainda que insuficiente para passar no vestibular”, destaca a professora.

A diretora da FaE acrescenta que, se esse segundo candidato for negro, terá dificuldades ainda maiores, já que sua origem é ainda mais pobre e seus pais menos escolarizados, como comprovam as pesquisas oficiais. Para Antônia Vitória, pessoas com esse perfil só terão acesso à universidade se ela modificar um pouco a sua forma de aferir o mérito. “Esses alunos viram umas ferinhas quando estão dentro da academia. Foi dada a eles uma oportunidade e eles fazem de tudo para aproveitá-la”, reforça a professora.

Sem distância para a inclusão

Imagine um pólo de educação a distância coordenado pela UFMG, localizado a 295 quilômetros de Belo Horizonte, em Campos Gerais, cidade do Sul de Minas com quase 30 mil habitantes e médio Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Nas instalações do pólo, onde funcionam laboratórios, biblioteca, sala de monitoria, equipamentos de informática e ligação on-line com a Universidade, há oferta regular de cursos de graduação, além de cursos de aperfeiçoamento e recursos didáticos para uso dos professores da região. Imaginou? Agora multiplique dezenas de vezes esse pólo e visualize os mesmos recursos sendo levados às diversas regiões de Minas Gerais. Esse é o quadro que a professora Maria do Carmo Vila, coordenadora de Educação a Distância (EAD) da UFMG, prevê para as próximas décadas.

O sonho da professora tem uma base factível: a meta do Ministério da Educação de implantar cerca de mil pólos de EAD no país. “Para isso, o MEC já alocou 1 bilhão de dólares para o programa Universidade Aberta do Brasil (UAB) e está fazendo um geoprocessamento para distribuir os pólos, de modo que haja uma distância mínima de 50 a 60 quilômetros entre eles”, afirma a professora. Ela explica que os núcleos serão centros de referência dos professores da rede pública de cada região. “A idéia é que ofereçam vários serviços: educação continuada, formação – como os cursos de licenciatura –, videoconferências e seminários”, comenta.

Na opinião de Maria do Carmo Vila, a EAD é um poderoso instrumento de inclusão, por levar a possibilidade de formação ao interior do estado. “Os cursos a distância vão atender pessoas que não têm condição de deixar sua cidade para estudar. E são regiões carentes de recursos humanos, principalmente com relação à formação de professores”, acrescenta.

Quanto à qualidade dos cursos, a professora garante que, exceção feita à convivência de pessoas de várias áreas do conhecimento e o próprio ambiente do campus universitário, não há perda para os alunos. “O material didático é cuidadosamente preparado, todo o processo de aprendizado é acompanhado por docentes do quadro da UFMG e por monitores locais. A qualidade é a mesma. A cada pólo implantado, é a própria UFMG que chega àquele município”, assegura.

Estrutura

Para garantir que a EAD não se torne uma formação à parte e se integre à rotina das universidades, o UAB tem como meta abrir vagas para a contratação de professores nas universidades que aderirem ao programa. “O MEC deseja que os professores fiquem nos departamentos, nos institutos, fortalecendo-os para dar apoio à EAD”, explica Maria do Carmo Vila.

Em 2007, a UFMG recebeu o primeiro professor contratado por essa nova via. A vaga foi alocada no Instituto de Ciências Biológicas, um dos primeiros a se mobilizar para a oferta de cursos de graduação na modalidade a distância. A UFMG abriu, em 2007, 2.850 vagas em dez pólos regionais – Araçuaí, Buritis, Campos Gerais, Conselheiro Lafaiete, Corinto, Formiga, Governador Valadares, Januária, Teófilo Otoni e Uberaba – com a oferta dos cursos de licenciatura em Química e em Ciências Biológicas; o bacharelado em Geografia e o curso Normal Superior Veredas/UFMG. “Outros cursos estão sendo articulados. Claro que vai depender de decisão da própria Universidade, mas vejo um futuro mais inclusivo, com a chegada efetiva dos cursos às regiões mais carentes do estado”, antecipa a coordenadora.

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Revista Diversa nº 13
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