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conservação

Riqueza degradada

Agropecuária, hidrelétricas e mineração ameaçam um dos grandes patrimônios de Minas Gerais: sua biodiversidade

Ana Rita Araújo

Profundo conhecedor da diversidade natural de Minas Gerais, devido aos anos de andanças por todo o estado em busca de espécies de samambaias e plantas afins, o professor Alexandre Salino, coordenador do Laboratório de Sistemática Vegetal do Departamento de Botânica do Instituto de Ciências Biológicas da UFMG (ICB), traça um diagnóstico nada animador sobre a situação dos três biomas – Cerrado, Mata Atlântica e Caatinga – espalhados pelos mais de 586 mil quilômetros quadrados do território mineiro. “A situação em Minas Gerais é crítica, mas varia de região para região. Há algumas bem degradadas e outras mais conservadas”, sintetiza Salino, ao lembrar que essa degradação pode ser detectada em todos os ambientes – subsolo, sistemas aquáticos e terrestres.

Os grandes vilões são praticamente os mesmos em todos os ambientes: mineração, agropecuária, hidrelétricas e florestas cultivadas. O Cerrado do Quadrilátero Ferrífero é ameaçado pela mineração. No Triângulo Mineiro, o agente da degradação atende pelo nome de agropecuária. “A região quase não tem áreas com potencial de conservação”, avalia Salino. O Noroeste de Minas possui regiões de reserva, mas é pressionado por duas atividades: o cultivo de soja e a mineração de calcário e ouro. Na Cadeia do Espinhaço as maiores ameaças estão nas atividades de mineração, agropecuária e geração de energia (hidrelétricas).

Já no bioma Mata Atlântica, segundo Salino, o grande vilão tem sido a agropecuária. Também contribui para a extinção de coberturas vegetais a mineração de calcário voltada para a fabricação de cimento. “Além disso, há as hidrelétricas, que inundam grandes áreas, e o plantio de eucalipto e outras florestas cultivadas”, informa o pesquisador. É neste bioma que se localiza a grande reserva do Parque Estadual do Rio Doce. Outras áreas em melhor estado de conservação são as de relevo mais acidentado como a Serra da Mantiqueira. Mas nem elas estão livres da degradação, com o plantio de café nas encostas.
A Caatinga, encontrada apenas no Norte de Minas, sofre as ameaças da agropecuária. “Minas Gerais é uma região mais complexa do que outros estados porque os biomas se encontram, como nas áreas em que há Cerrado e Mata Atlântica”, comenta o pesquisador. Segundo o professor João Renato Stehmann, também do Departamento de Botânica do ICB, o Cerrado e as matas secas do Norte de Minas Gerais são as áreas mais ameaçadas. “No Vale do Jequitinhonha, há regiões que merecem atenção especial, pois possuem uma flora muito distinta de outras encontradas no estado”, destaca Stehmann.



 


Revista Diversa nº 14
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